Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.

Dança, anonimato, internet e tinta neon. Após um incidente que o fará largar a graduação em Química, Pedro (Shico Menegat) passará a adotar esses aspectos em sua vida. Tinta Bruta (2018), retrata as incertezas de um garoto que encontrará, por meio de uma webcam, não só uma maneira de ganhar dinheiro, mas de viver.
Assim como muitos adolescentes, Pedro se sente só, abandonado. Além de todas as dúvidas e dificuldades que a vida naturalmente traz, o garoto ainda enfrenta outra questão: após ferir o olho de um rapaz da faculdade e quase deixá-lo cego, Pedro será levado a julgamento.
Isso faz com que ele se afaste de tudo e todos. Não tem amigos e sua família também está distante. No apartamento vazio, recém deixado pela irmã, só restam ele e seu notebook, máquina pela qual passará a realizar seus “shows” online. A solidão de Pedro só se torna menor quando Leo (Bruno Fernandes) passa a fazer parte da trama.
Após ir atrás da pessoa que está plagiando seu trabalho ― vídeo com tintas neon ― Pedro descobre aquele que irá lhe trazer, por um curto tempo, a sensação de alívio. Além de fazer participações especiais em alguns shows, Leo será a personificação do bom sentimento, da paz, da boa companhia.

Por alguns instantes, é ele que salvará Pedro do caos completo, pois o garoto já não saía de casa. Nem vontade de dançar sente, ainda que esteja na balada. A vida do protagonista só parece acontecer, de fato, quando ele está de frente para as câmeras, coberto de tinta.
Daí surge uma temática explorada no longa através do personagem principal: a solidão da pós-modernidade, acentuada com o uso das redes sociais. Pois ainda que esteja rodeado de gente, com muitas pessoas assistindo aos seus shows e pagando por isso, quando não há internet, Pedro está completamente só.
Outra questão levantada é o cotidiano LGTBQ+. O fato de o protagonista quase ter deixado um rapaz cego está ligado a esse cotidiano, infelizmente violento, rodeado de preconceito, xingamentos e perseguições. Há outra cena que retrata isso: Leo entra em uma briga para defender Pedro da perseguição de dois garotos após uma festa.
Dirigido por Márcio Reolon e Filipe Matzembacher, com cenas de danças hipnóticas e provocantes, Tinta Bruta recebeu dois prêmios no Festival de Berlim deste ano.
Tinta Bruta estreia dia 6 de dezembro nos cinemas. Confira o trailer original:
por Crisley Santana
crisley.ss@usp.br