Este filme faz parte da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique aqui.
A exposição das histórias de uma torre que, por alguns anos, abrigou várias mulheres. Sim, um presídio, que serviu de abrigo. Torre das Donzelas (2018) ― que não tinha nenhuma donzela, segundo as próprias ex prisioneiras ― mostra como algumas mulheres souberam se organizar para transformar aquele local no melhor que era possível.
Dirigido por Susanna Lira, o longa é um importante retrato de alguns fatos ocorridos em decorrência da ditadura civil-militar que instaurou-se no país em 1964. Presas por participarem de grupos armados que lutavam em oposição ao governo, as mulheres retratadas neste documentário passaram por episódios de tortura e violência psicológica, até chegar ao chamado “paraíso”: o Presídio Tiradentes. A torre.
O filme inicia com as ex presas desenhando o que se lembram do local em um quadro negro. Após isso, parte delas são reunidas para relatarem, juntas, o que lá viveram. Ao se encontrar, se emocionam. Conversam sobre como era a rotina, como faziam para tentar escapar do tédio, da tristeza, da saudade que sentiam dos familiares e amigos.
Junto às imagens das colegas conversando juntas, há relatos individuais de outras delas, como Dilma Rousseff, que com nitidez lembra-se dos momentos de tortura e do cárcere, da coleção de livros que leu e que, politicamente, formaram a ex presidente. Há também cenas em que atrizes aparecem representando as prisioneiras quando, ainda jovens, habitavam a torre.
O foco dado no rosto das mulheres no momento em que relatam a vivência da prisão é fundamentals para que o espectador crie identificação e empatia. As cenas em que elas representam como cozinhavam, por exemplo, também são importantes para fortalecer esses sentimentos e dar uma imersão ainda maior ao tema.
Essas ex companheiras de cela, que sobreviveram a um regime que prometia matar todos aqueles que contra ele se colocassem, souberam resistir da melhor maneira possível: solidarizando-se umas com as outras. Cantavam juntas, dividiam roupas e comidas, formaram uma biblioteca política, na qual puderam estudar e resistir. Souberam o que fazer para sentirem-se vivas, apesar dos pesares. Torre das Donzelas (2018) é história, feminismo e resistência.
Confira o trailer original:
Por Crisley Santana
crisley.ss@usp.br