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Mostra Internacional de SP: O sol não nasce para todos em Underdog

Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui Underdog. Aquele de quem se espera a derrota. Azarado. Perdedor. Dino, vagueando sem destino pelas ruas de Oslo, na Noruega, é uma underdog. Nem sempre soubemos disso, mas apostaríamos todas as cartas em seu rosto desafortunado, se …

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Este filme faz parte da 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para conferir a programação completa clique aqui

Underdog. Aquele de quem se espera a derrota. Azarado. Perdedor.

Dino, vagueando sem destino pelas ruas de Oslo, na Noruega, é uma underdog. Nem sempre soubemos disso, mas apostaríamos todas as cartas em seu rosto desafortunado, se fosse preciso. No fim das contas, não custaria muito tempo para dar cabo da intuição.

Em verdade, tudo na obra sueca Underdog (Svenskjävel, 2014)inspira a cólera típica das coisas fadadas à degradação. Os tons opacos na cidade. A atmosfera de sujidade na república mista, onde alguns jovens tentam tragar uns aos outros; e o desalento quase intrínseco aos gestos da garota com o braço – a vida – atado em gesso.

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As coisas sempre foram tão miseráveis, afinal? “Há quanto tempo você se sente intoxicada?”, pergunta um médico a ela, nos primeiros minutos da trama, a que Dino responde, secamente, não saber. Nem nós. Mas há uma sensação latente – e inescapável – de que a chaga de Dino não é só química; mas é, sobretudo, afetiva, psicológica e social.

Não tarda muito, pois, para que a razão da incerteza se torne a própria meada da história. É a intempérie do desemprego. Um pai o qual ela evita sumariamente. A ausência profunda de perspectiva. E, ao mesmo tempo, a necessidade material. A garota sueca, então, depois de migrar para a Noruega, consegue um serviço irregular de babá, numa casa de classe média. Seu novo patrão, Steffen, é um pai de duas meninas, cuja mãe partira, temporariamente, a trabalho.

Talvez aparente desesperado. Mas o esforço de todas as vidas, neste momento, de se entregarem à procura dalguma forma de afetividade, é crível. Um dos feitos do filme, justamente, é desenvolver uma crosta verossímil para essa busca. O sentimento de abandono que atravessara a identidade da obra inteira até aqui, assim, desagua no pai, futilmente solitário; em suas filhas, sentidas da ausência da mãe; e em Dino, a qual apenas não tem ninguém.

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Há, então, uma carência que aproxima, mas um abismo de classe, idade e até de origem de nascença que os aparta. Nesse sentido, o filme explora uma relação, presumidamente histórica, de tutela e dependência econômica entre a Suécia e a Noruega. Não por acaso, aquela – donde viera Dino – é a própria alegoria underdog de nação, obrigada a contentar-se com as migalhas indulgentes ofertadas pela vizinha mais próspera.

Até aqui, nenhuma estranheza.

Tudo sobre Dino, aliás, ao longo da película inteira, engrossou sua própria marginalidade. Então, quando ela se acha enfiada num círculo amoroso e sexual com seu empregador, não é espantoso que sua precarização se aprofunde, ao invés de ser amolecida. Deflagram-se as meias-palavras do adultério. A opressão de gênero. Os contrastes intransponíveis. E os constrangimentos, quase sempre frutos da incomunicabilidade duma relação impenetrável.

No fim das contas, não restam muitos apelos. Denso, sem ser hermético, o roteiro de Underdog ainda tentaria render sua personagem, infundindo-lhe duma forma de liberdade da qual um homem casado, pai de duas filhas e preso ao labor, por exemplo, jamais poderia gozar. Mas não se poderá saber. O filme dá a si mesmo o benefício da dúvida. Ou, como quando no início, o da aposta. Será Dino livre, finalmente? Talvez. Mas não rendida. Não salva. Ninguém nunca pôde render uma underdog.

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