Por Patrícia Chemin
Ao ver o cartaz do novo filme de Sylvie Verheyde, a primeira idéia que pode surgir a respeito de “Stella” é de uma história doce e meiga. Porém, essa impressão some completamente ao assistir o longa francês. Ele não é o total oposto dessa visão, mas, definitivamente, não mostra o que imaginamos ser a vida de uma garotinha européia.
A história, que se passa em 1977, é narrada por Stella, uma garota de apenas 11 anos. Longe de ter uma vida regular, a menina vive no precário bar/hotel de seus pais, na periferia de Paris. Mesmo com o privilégio de ter sido aceita em uma famosa escola da cidade, a menina prefere passar as tardes e as noites na companhia dos freqüentadores do bar, envolvida em jogos de cartas, apostas e jogos de futebol, ao invés de estudar, graças também à negligência de seus pais.
Apesar de ser alvo de provocações de certos colegas da escola, Stella torna-se, por acaso, amiga de Gladys, que, apesar de estudar na mesma classe e de ter a mesma idade de Stella, possui uma vida totalmente diferente. Filha de intelectuais judeus, Gladys, através da literatura e da música, não só mostra a Stella um outro mundo, mas fornece suporte para esta enfrentar os novos desafios de sua vida. Esse outro mundo muda Stella para sempre.
Quando percebe a verdadeira realidade de seus pais, Stella decide que não quer a vida de desilusões deles. Quer um futuro diferente daquele ao qual estava fadada. Ela, que sempre parecia impassível, capaz de suportar tudo, mostra ser apenas uma menina, assustada ao se deparar com um mundo nem sempre maravilhoso.
Com a ausência de clichês e a presença de ótimas cenas (desde as mais simples, como a primeira compra de um livro por Stella, até as que expressam metáforas elaboradas), o filme consegue abordar temas “pesados” com sensibilidade e de maneira original.
Não posso afirmar que “Stella” é um filme genial ou não, mas, com certeza, é digno de todos os prêmios que já recebeu.