Por: Pedro Passos
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Feito em 1929, São Paulo, Sinfonia da Metrópole (1929) trata-se de um documento valioso dos costumes e da mentalidade da época que retrata. Ao mostrar uma cidade em ebulição, regrada e anônima, os hungáros Rodolfo Lustig e Adalberto Kemeny tentavam provar a tese de que a manutenção das ordens sociais é o que engrandece as metrópoles, fazendo delas espaços especiais onde o progresso atingiria seu cume.
Os diretores utilizaram algumas das técnicas mais modernas para fazer esta obra, inspirada no filme alemão Berlim, Sinfonia da Metrópole (Berlin: Die Sinfonie der Grosstadt, 1927). Ambos os filmes são mudos, mas acompanhados por uma sinfonia clássica durante toda a sua duração. A falta de uma linha narrativa possibilita à obra abranger um espectro maior do cotidiano de São Paulo, como por exemplo, mostrar a saída de crianças da escola ou de operários das fábricas.
Imprimindo essa estética da realidade, o filme acaba perdendo o apelo a um publico grande, porém não deixa de ser uma das grandes obras brasileiras dos anos 20. As “sinfonias da metrópole” servem até hoje como exemplo de união coesa entre trilha sonora e imagem, sendo pré-requisito para qualquer um que estude cinema.
Ideologicamente, a obra traz uma abordagem bastante polêmica, colocando em cena uma visão em que a sociedade ideal é aquela na qual a ordem impera. Com essa visão, o filme deixa de lado as movimentações sociais, figuras importantes da metrópole paulista. Acaba se criando um ambiente no qual o progresso se liga somente à racionalidade, sem que haja espaço para uma reflexão sobre as mazelas desse aumento urbano.
A exaltação ufanista dos espaços paulistanos destoa da visão geral do filme alemão. A película sobre Berlim carrega um tom mais sóbrio e pessimista. Ao mostrar as imagens do dia-a-dia na capital apresenta-se também a maquinização dos cidadãos. Se para o filme brasileiro, quanto mais mecânico melhor, para o original essa precarização surge como algo assustador.
Essa imagem de São Paulo como uma cidade futurista e estável se confronta com outra visão da cidade como um lugar desigual e com muitas arestas. A análise da obra com essa contraposição valoriza as possibilidades imaginadas pelos diretores. Vale a pena assistir à película, mesmo discordando de seu posicionamento. A corrente vista no filme era muito comum no final dos anos 20. Uma corrente que idealiza o crescimento metropolitano, mas que se mantem atual em alguns projetos de condução da cidade anacrônicos.