A semente da sci-fi foi plantada na Suma das Letras. Seus primeiros frutos — a edição de luxo de Guerra dos Mundos, clássico de H. G. Wells, e o livro Gigantes Adormecidos, volume de estreia da trilogia Os Arquivos de Têmis — são o início de uma série de publicações de fantasia e ficção científica que se juntarão aos clássicos de Stephen King tão característicos do selo. Nas salas de cinema e em livrarias, o universo geek não para de se expandir.
Gigantes Adormecidos (Suma das Letras, 2016) é o romance de estreia de Sylvain Neuvel, que faz parte do time de pessoas que larga a escola e se dá bem na vida. De vendedor de sorvetes à jornalista, o último ofício deixou de herança ao seu livro o formato de entrevistas, depoimentos, notícias e documentos oficiais usados como prova para desenvolver a narrativa em quase toda a sua extensão.
A trama acompanha o cotidiano pessoal e profissional de uma equipe encarregada por compreender e manter em segredo a descoberta de imensos membros do corpo de uma estátua humanoide, feitos de uma liga metálica que não obedece às leis químicas que conhecemos. A peça monumental, na verdade, é um tanque de guerra com poder de destruição imensurável, perigosa para qualquer um que se aventure a controlá-la.
À medida que a história começa a integrar os obstáculos da limitada ciência terrestre com a complexidade das relações geopolíticas que a existência da arma acarreta, a obra se torna uma interessante mistura de hard e soft sci-fi para o público jovem, que é atraído pelo lado aventureiro e “exatas” do romance, mas é levado a refletir sobre os aspectos políticos que regem as nações.
O enredo é conduzido por entrevistas feitas por um personagem onipresente, que está à frente de tudo e todos e do qual o leitor não saberá muito além de ele pode ser absurdamente convincente e calculista. Ninguém escapa ao joguinho deste misterioso personagem. Talvez, uma das pessoas que saíram menos lesadas pela manipulação dele tenha sido a subtenente Kara Resnik, mulher que inspira independência tanto em sua carreira militar como em seus relacionamentos amorosos. As mulheres da obra, aliás, possuem um protagonismo profissional invejável. Conduzem pesquisas, aviões de caça e países. A vida poderia imitar a arte com mais frequência.
Como a narração do livro é feita por entrevistas, a diagramação foi pensada na necessidade de tornar claro ao leitor quem é o entrevistador e quem é o entrevistado, sem fazê-lo voltar toda hora ao começo do capítulo para relembrar quem é o personagem em questão. Para isso, foram criadas poucas personagens, e com características marcantes bem distintas entre si. A reafirmação desses traços, no entanto, às vezes se torna exagerada e leva os personagens a comportamentos irritantes, que não parecem ser condizentes com os cargos racionais que ocupam (cientistas, militares e políticos, em sua maioria), se entregando às emoções muito facilmente, como reagiria o público-alvo do livro.
Por Larissa Lopes
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