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RuPaul’s Drag Race: Muito além de um reality show

Nos últimos anos, a TV norte-americana vem apostando e acertando ao retratar personagens e personas mais verossímeis que, de alguma forma, te encorajaram a abraçar quem você é. Desde 2009, o mesmo ano em que a FOX estreou Glee – fenômeno musical de sucesso imediato que entrelaçou diversas minorias através do amor pela música – …

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Nos últimos anos, a TV norte-americana vem apostando e acertando ao retratar personagens e personas mais verossímeis que, de alguma forma, te encorajaram a abraçar quem você é. Desde 2009, o mesmo ano em que a FOX estreou Glee – fenômeno musical de sucesso imediato que entrelaçou diversas minorias através do amor pela música – o canal pago Logo TV, voltado para suprir a demanda de entretenimento do público LGBT, lançou o reality show RuPaul’s Drag Race, que, com repercussão mais discreta, se popularizou aqui no Brasil somente após ser incluído no banco do Netflix.

Desde então, o show já alcançou mais de 1 milhão e meio de fãs em sua página do Facebook, ultrapassando séries de grande sucesso em 2015, como Jessica Jones e Sense8, ambos com cerca de 700 mil admiradores na rede social. Além disso, no ano passado várias das revelações do reality vieram ao Brasil e o show foi indicado ao Emmy Awards. Em maio, RuPaul inaugurou em Los Angeles a primeira DragCon (convenção de drags).

Partindo novamente da paixão por divas da música e da sede por fama, o que RuPaul tem nos apresentado em suas 7 temporadas é o carisma, singularidade, garra e talento de pessoas até então marginalizadas tanto na mídia quanto nas ruas: as Drag Queens. Ru e suas pupilas, que concorrem anualmente ao título de America’s Next Drag Superstar, levantam a bandeira da tolerância e fincam a confiança em centenas de admiradores que se transformaram de dentro pra fora e hoje transmutam o pensamento e a programação das noites urbanas. Conversamos com Guilherme Terreri, performista de Rita Von Hunty, para saber mais sobre essa carreira e o legado que Rupaul está deixando para as drags no Brasil.

The time has come for you to lipsync for your life

Assim como outras minorias sexuais e de gênero, a história das drag queens é difusa e carente de grandes referências para consulta, além de se misturar com a luta trans e a androginia. Para acompanhá-la, geralmente leva-se em conta a história do teatro e o pensamento da teoria queer, já considerando o tom desafiador desse tipo de travestilidade, que usa a performance exagerada para instigar o público a refletir sobre sobre a fronteira entre o feminino e o masculino, a questão de gênero.

Portanto, como disparou RuPaul em uma entrevista para a Folha, em 2013, “querido, ser drag é um ato político” e não se restringe a uma orientação sexual ou identidade de gênero.

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Drag andrógina na Cover Girl, uma festa drag. (Imagem: Luciano Spinelli)

Guilherme Terreri Pereira, ator formado na federal carioca e estudante do último ano de Letras da Universidade de São Paulo (USP), também faz da arte performática um meio de interferir nos discursos normativos da sexualidade. Terreri descobriu RuPaul’s Drag Race em 2011 e acabou incorporando essa cultura em fevereiro de 2013, movido pela falta que lhe fazia o teatro enquanto trabalhava apenas como professor de língua e literatura inglesa.

Com a bagagem que adquiriu em seus estudos sobre arte, Guilherme foi construindo Rita von Hunty, a elegante showrunner do canal Tempero Drag, uma homenagem a Rita Hayworth e a tantas outras celebridades hollywoodianas, como Lauren Bacall, Bette Davies e Elisabeth Taylor, bem como as pin-ups e a melancólica Betty Boop. Dentre as drags de RuPaul’s Drag Race, as maiores influências são as de Carmen Carrera, Tammy Brown e BenDeLaCreme.

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Rita von Hunty. (Imagem: Junior Franch)

“O que eu gosto de fazer no palco é performance de gênero. Eu gosto de criar uma atmosfera burlesca, de brincar com a identidade da pin-up. Mas eu quero que, em algum ponto da minha performance, o meu publico se indague se eles estão assistindo a um homem ou uma mulher e que eles levem esse questionamento de gênero adiante”, conta Guilherme.

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Além de ter que conquistar seu espaço entre drags experientes e estabelecidas, o ator teve que lidar com algumas dificuldades próprias da experiência de interpretar uma mulher. “No início da minha carreira como drag, eu sofri agressão de um ‘admirador’. Uma vez eu fui assediado em uma festa por um cara alcoolizado e eu sofri um tipo de violência que é comum as mulheres sofrerem, que é um cara te agarrar pelo braço para conversar com você”, revela. “E é horrível! Através da minha performance eu pude entender o que as mulheres passam cotidianamente e como é ser vitima do machismo por ser uma mulher”.

O ativismo drag, alinhado a teoria queer, acaba interagindo com outras camadas da sociedade e fortifica a empatia com outras minorias. Ainda sobre as mulheres, Guilherme reflete que “tem uma vivência, mesmo que curta e artística, do gênero feminino” e o cunho político da drag também sai em defesa das mulheres, da luta de gênero milenar contra a discriminação, segregação e inferiorização. “Também é um ato de empoderamento da comunidade gay, que, de décadas pra cá, vem se masculinizando e se heteronormativizando. A drag é o empoderamento do gay afeminado e do não-normativo dentro da comunidade [LGBT] e é a visibilidade da letra T na sigla LGBT”, completa.

“Existem outras facetas dessa subversão”, argumenta. “Quando você está montado e você está num ambiente onde não é esperado que uma drag esteja, você percebe que tem alguém desconfortável com a sua presença. Eu li uma amiga do Rio de Janeiro”, ele lembra ”falando que, toda vez que o simples fato de você estar presente causar desconforto, a sua presença ali é necessária. Porque aquele desconforto também é necessário. Porque você está gerando alguma mudança ali, seja de pensamento, seja de configuração social, você está trazendo alguma novidade, por isso que vem o desconforto junto”.

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(Imagem: Eduardo Laurino)

Para Terreri, a carreira de drag completa a sua vivência como ator e é uma forma interessante de explorar a construção de gênero através da arte. Com a agenda cheia, ele pretende continuar com sua perfomance assim como RuPaul e as outras drags que o inspiraram. RuPaul Andre Charles construiu sua sólida carreira em tom revolucionário e provocador e muita militância. Nos anos 90, se associou à MAC para arrecadar dinheiro para a prevenção da AIDS com a venda de cosméticos. Hoje em dia, sua contribuição é ser o apresentador de um reality show que fortalece seus participantes por aquilo que, fora das telas, já foram julgados. RuPaul’s Drag Race é o gratificante e empoderador resultado de décadas de muito trabalho.

https://www.youtube.com/watch?v=Vw9LOrHU8JI

Por Larissa Lopes

larissaflopesjor@gmail.com

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