O rei da cocaína invadiu a nossa casa. Pronuncie-se aquele que não teve seu feed de notícias invadido por memes, comentários, comemorações ou lamentações a respeito da mais nova série do Netflix: Narcos. O fenômeno estrelado por Wagner Moura e dirigido por José Padilha ganhou milhares de espectadores espantados e VICIADOS pela trama sobre a vida do traficante Pablo Escobar.
Em uma temporada de 10 episódios, muito sangue corre pelas ruas colombianas e o cenário violento é real. A série é narrada pelo agente Steve Murphy da DEA dos Estados Unidos, órgão responsável pelo combate às drogas. Aquele que antes perseguia traficantes de chinelo em Miami, agora é responsável por caçar Pablo Escobar, o mais perigoso chefe do tráfico colombiano, que faturou bilhões exportando cocaína para solo americano.
O realismo da série é perceptível na abordagem que é feita quando o assunto é conflito, seja ele armado, político, moral, policial, civil ou legal. A corruptividade dos personagens da trama é uma peça chave para mostrar a fragilidade de qualquer acordo, gerando assim diversos casos de revira volta na história. Seja o policial que trabalha para os dois lados, o político ou o comparsa do traficante, todos podem ser comprados. Estava ali a famosa política de Escobar “O PLATA O PLOMO” (Ou prata ou chumbo). O trecho (em espanhol, mas com um portunhol afiado da pra entender) do vídeo mostra uma cena do primeiro episódio em que Pablo suborna policiais e demonstra sua política ameaçadora.
https://www.youtube.com/watch?v=HdCvg17P6FU
A história
Don Pablito traçou diversos objetivos no decorrer de sua história. O primeiro foi alcançado com êxito, sendo este a conquista do domínio do tráfico de cocaína. Ao comandar 80% do comércio mundial durante os anos 1980, Pablo Escobar chegou a apareceu na lista de bilionários da revista “Forbes” em 1987.
Tomado pelo sentimento de poder, Pablo quis atuar na política para aumentar suas influências. Chegou a ser eleito como suplente do congressista Jairo Ortega Ramírez, no entanto, o substituiu desde a primeira sessão no Congresso. Como o temido narcotraficante foi eleito? A resposta é simples: manipulação da mídia e do povo, passando uma imagem de Robin Hood ao construir casas, campos de futebol e dar auxílio principalmente à população de Medellín. Porém, o criminoso foi desmascarado pelo futuro Ministro da Justiça Rodrigo Lara Bonilla, assassinado posteriormente pelos “Los Extraditables”, grupo responsável por proteger os desejos de Escobar, derrubando qualquer obstáculo.
Ao ter sua identidade desmascarada, Pablo tinha que lidar com um de seus maiores inimigos: a extradição. A proliferação da temida droga de Escobar assolava o cenário estadunidense, o que os fizeram exigir um acordo de extradição com o governo colombiano. Assim, qualquer traficante que levasse drogas para os EUA, poderia responder por seus crimes em solo americano, o que não soava muito bem. Com este fantasma o assombrando, o rei do crime decide derrubar qualquer um que apoiasse tal política, o que gerou a morte de milhares de pessoas.
O candidato a presidente Luis Carlos Galán foi uma das vítimas de Pablo e foi morto por apoiar a política de extradição. Com a saída de Galán, entrou em cena outro inimigo de Escobar, o corajoso César Gaviria. Este sujeito foi um dos maiores combatentes ao tráfico e foi vítima de uma tentativa de assassinato que matou 107 pessoas. Foi o caso do voo 1803 da Avianca, o qual não se completou devido a uma explosão por uma bomba implantada por Pablo no avião. Gaviria deveria ser um dos passageiros, mas uma mudança de planos (na série, o agente Steve Murphy alerta o candidato a não embarcar no voo) salva sua vida.
Os políticos e americanos não eram os únicos inimigos de Pablo Escobar, o Cartel de Cali também o perturbava. Uma relação conturbada foi marcada por diversas disputas e guerras, aumentando a instabilidade do poder do criminoso. Tendo em vista sua situação delicada, Don Pablito decide fazer um acordo com o governo: ele se renderia a justiça com as condições de responder somente pelo crime de tráfico de drogas e poder cumprir sua pena em uma mansão luxuosa disfarçada de prisão: a La Catedral. Este episódio ficou conhecido mundialmente por ser um exemplo da influência de Escobar e como a política colombiana era frágil.
Polêmicas e repercussão
A série Narcos não seria tão quente se não fosse rodeada por polêmicas antes mesmo de sua estréia. Uma delas gira em torno do ator Wagner Moura, protagonista responsável pelo papel de Pablo Escobar. Muito foi dito quanto a escolha de um ator brasileiro para interpretação de uma figura tão importante na Colômbia, enquanto boa parte do elenco é desta terra ou natural da língua espanhola. Wagner passou 6 meses morando na cidade de Medellín, onde aprendeu a falar espanhol com o sotaque do principal cenário da trama. Outra polêmica foi a deste tal sotaque, que para muitos pareceu amador e “falso”. Moura se pronunciou a respeito em entrevista à Folha de S. Paulo:
“Claro que um ator tem que tentar chegar o mais próximo possível do personagem em todos os aspectos humanos, inclusive, se for o caso, da prosódia. Mas eu acho, sinceramente, que há coisas bem mais importantes que o sotaque.”
A confusão quanto ao que é ficção e o que realmente ocorreu na vida de Pablo Escobar e dos traficantes do Cartel Medellín é outro ponto polêmico. Porém, boa parte dos acontecimentos mais marcantes da série aconteceram realmente, o que torna a série mais incrível ainda (todos os spoilers dados no começo da matéria realmente aconteceram). Quanto a este ponto, no começo de cada episódio é dada uma declaração a respeito:
“Série inspirada em eventos reais. Alguns personagens, incidentes e locais são fictícios. Qualquer semelhança com com a realidade é coincidência e não intencional.”
Curiosidades
Aqui vão algumas curiosidades da série
1- A música de abertura é brasileira
“Soy el fuego que arde tu piel…”
Sabe aquele trecho da música de abertura que você cantou no banho por horas? “A música se chama “Tuyo” e é cantada por Rodrigo Amarante.
2- Wagner Moura engordou 20 quilos para o papel
Como se não bastasse se mudar para Medellín e aprender espanhol num espaço curtíssimo de tempo, ele ganhou um peso considerável. Isso que é dedicação. VAI WAGNÃO!
3- Brasileiros marcaram presença
Além de Moura e José Padilha, o diretor de fotografia Lula Carvalho também participa da produção da série. O ator André Mattos (sabe aquele apresentador indignado no estilo Datena, Wagner Montes, do Tropa de Elite? Ele mesmo!) interpretou o papel de um dos irmãos Ochoa, traficantes menos ousados do Cartel Medellín e que tiveram sua irmã sequestrada pelo próprio Pablo. Além disso, o sétimo e o oitavo episódio são dirigidos por outro diretor brasileiro, o Fernando Coimbra (O Lobo atrás da Porta – 2013). VAI BRASIL!
4- Amplas críticas ao governo norte-americano
O principal alvo das críticas da série ao governo norte americano giram em torno da política externa dos governo de Richard Nixon (1969-1974) e Ronald Reagan (1981 a 1989). O foco em questão nessa época era única e exclusivamente o comunismo, devido ao contexto da Guerra Fria. Assim, pouca atenção foi dada a guerra contra as drogas e isso fica muito evidente na série. O agente Steve Murphy não poupou esforços para provar como era danosa e contaminação de seu país pela cocaína colombiana, mas só teve real atenção dos Estados Unidos para sua causa quando mostrou um possível envolvimente entre Escobar e os comunistas. Este caso fica mais evidenciado quando é mostrado na série que Pablo teria financiado o atentado do grupo comunista M19 ao Palácio de Justiça da Colômbia.
5- A “La Catedral” realmente existiu
A “””prisão””” em que Pablo foi detido, de fato era mais uma fortaleza do que um presídio. Todo tipo de artigo de entretenimento marcava presença no local, de campo de futebol a mesas de poker e bilhar. Churrascos ao ar livre e prostitutas 24 horas estavam inclusos no pacote também.
6- Ser amigo de Pablo não era seguro também
A história do dinheiro enterrado – que acabou levando à morte dos sócios Kiko Moncada e Fernando Galeano, que cuidavam do negócio enquanto ele estava preso – é verdadeira. A possibilidade de uma traição era impensável para Pablo, o que o levou a fazer churrasquinho de seus comparsas enquanto estava preso (na série isto acontece, na vida real não é confirmada como foi a morte de Moncada e Galeano).
7- Pablo, a maconha e a cocaína
Rumores dizem que Don Pablito não era usuário de cocaína. Porém, quando o assunto era maconha, o sujeito mostrava um baita interesse. A série deixa isso bem claro.
Felizmente, o Netflix confirmou uma segunda temporada (com possível participação da Madonna) para a continuação da história de Pablo. O desfecho nós já sabemos, mas será que ficaremos tristes com a morte do maior traficante de todos os tempos? Em breve descobriremos.
Por Isabella Shcreen
isabella.schreen@gmail.com