Que criança não sonhou em ser um astronauta, viajar para outro planeta e ficar marcado na história? A Jornada (Proxima, 2019) é exatamente sobre isso, mas contextualizado na figura de uma mãe solteira e a relação com sua filha pequena, enquanto se prepara para uma missão rumo à Marte.
Os cartazes de divulgação do longa elogiavam de forma fervorosa a atuação de Eva Green no papel da astronauta francesa Sarah. De fato, ela entrega uma boa performance entre a mãe dedicada e a astronauta que passa por diversos testes de preparação. Conciliar esses dois mundos é o verdadeiro desafio de Sarah. A partir disso, temos cenas emocionantes, como o momento em que ela cumpre uma promessa que parecia difícil de ser cumprida.
O título do longa não foi escolhido em vão e podemos considerar três tipos diferentes de jornada. A primeira é o percurso que Sarah teve a partir do sonho de infância, enfrentando todos os obstáculos que uma astronauta poderia ter em um meio machista como o mundo das viagens espaciais, até alcançar o status de membro de uma tripulação. Essa parte é apenas citada em um breve discurso feito pela própria astronauta.
A segunda jornada, e a que temos mais acesso em tela, é a caminhada pré-viagem, em que vemos todas as provações que um astronauta precisa passar antes de partir. No caso de Sarah, nem todas as etapas são bem-sucedidas, mas com muito empenho e dedicação, o que inclusive a afasta de sua filha, ela consegue se superar, tanto na figura de mãe, quanto no papel de viajante espacial.
A terceira é a própria viagem, que acaba ficando em nosso imaginário, já que o espectador fica sem saber o que realmente acontece após a partida da nave. Porém, em termos de roteiro, essa parte não é a mais essencial, o que diferencia o filme de outros longas espaciais.
Aliás, A Jornada é a narrativa espacial mais pé no chão vista recentemente nos cinemas. Isso é importante, pois traz um frescor ao tema, deixando a obra mais realista e íntima, o que facilita a imersão e faz com que nos preocupemos de verdade com o desenrolar da história de Sarah e sua filha.
Esse caráter mais realista é facilitado pela verossimilhança, principalmente nas partes em que o longa mostra as etapas de preparação para a viagem. Nelas, vemos diversos idiomas presentes, mostrando uma conexão global em busca do êxito para uma missão tão importante: a ida para Marte.
Um dos companheiros de tripulação de Sarah é Mike (Matt Dillon), um homem de personalidade forte que serve como contraponto à personagem de Green: um pai que não precisa se preocupar com seus filhos, já que sua esposa “cumprirá seu papel de mulher”. Em um primeiro momento, o papel de Dillon demonstra alguém que não é capaz de compreender as dificuldades enfrentadas pela astronauta. Mas é ele quem diz uma das frases mais impactantes do filme: “Não existe um astronauta perfeito. Assim como não existe uma mãe perfeita”.
A Jornada é uma homenagem às diversas mulheres astronautas que já existiram e o filme deixa isso claro em seu momento final. Caminhando junto de Sarah, percebemos que a felicidade pode ser encontrada nas pessoas e locais mais próximos, e que não precisamos de objetivos megalomaníacos para alcançar a tão sonhada alegria, seja na Terra ou em Marte.
O longa está em exibição no Brasil desde o dia 15 de outubro, depois de ficar um longo tempo na geladeira esperando os cinemas reabrirem. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação/Paris Filmes