Jornalismo Júnior

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A nova era da Seleção Brasileira: em busca do hexa

Após igualar o maior jejum sem títulos mundiais, o Brasil tenta recuperar a confiança e retomar as glórias passadas

Por Giovanna Martini (m.martini@usp.br)

Apenas quatro minutos restavam para o sonho do Hexa se manter vivo, mas em um contra-ataque da Croácia, Bruno Petkovic empatou e levou a partida para os pênaltis. A história fica marcada na memória daqueles que assistiam o jogo – com duas penalidades perdidas, o Brasil era eliminado da Copa do Mundo do Catar nas quartas de final. Desde de 2002 a Seleção Brasileira não sabe o que é conquistar o mundo. As recentes polêmicas e derrotas colocam uma dúvida nos apaixonados por futebol: em 2026, o Brasil finalmente voltará a ser campeão mundial?

A Seleção pós Tite

Pouco tempo depois da eliminação do Brasil para a Croácia no mundial do Catar, Tite, treinador que esteve à frente da equipe por duas Copas seguidas deixou o comando da Seleção. De forma improvisada, Ramon Menezes, ex-técnico da Seleção Brasileira sub-20, assumiu o cargo.

A passagem do técnico foi curta, mas não agradou a torcida brasileira. Menezes comandou o time por três jogos amistosos, o primeiro contra Marrocos, que acabou no placar de 2 a 1 para a seleção africana. No segundo, quem saiu com o resultado positivo foi a equipe Verde e Amarela, que venceu a seleção de Guiné por 4 a 1. O jogo que consolidou a saída de Ramon Menezes do comando da Amarelinha foi contra Senegal, quando o Brasil saiu derrotado por 4 a 2. 

Com a esperança de ter Carlo Ancelotti, na época técnico do Real Madrid, no comando da Seleção Brasileira após a Copa América de 2024, Ednaldo Rodrigues, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no momento, optou por contratar Fernando Diniz como técnico interino.  Diniz esteve à frente do comando técnico da Seleção Brasileira e do Fluminense no mesmo período, e, embora não tenha obtido grandes resultados pela Seleção, levou a equipe carioca para o título da Libertadores de 2023. 

Com o baixo desempenho, acumulando 3 derrotas em 6 jogos pela Amarelinha, Diniz teve seu contrato encurtado. Diante das declarações públicas de Ancelotti, que manifestou o desejo de continuar no comando da equipe de Madrid, Dorival Júnior foi contratado de forma definitiva para assumir o comando técnico da Seleção. 

Em entrevista ao Arquibancada, Gian Oddi, jornalista da ESPN Brasil, comenta sobre a dificuldade de criar uma identidade para a Seleção com a alta rotatividade de técnicos, mas não enxerga a frequente mudança na comissão técnica como empecilho para a conquista da Copa do Mundo. “A chance de qualquer seleção, mesmo da maior favorita – que não é o Brasil – ganhar a Copa é sempre menor do que a chance de perder, já que tem outros 47 concorrentes. Alguns muito fortes”, finaliza Oddi. 

O trabalho de Dorival durou pouco mais de um ano, embora não tenha sido de grande agrado do público, e antecedeu a tão esperada chegada de Carlo Ancelotti, que estará à frente da equipe brasileira nos amistosos que antecedem o mundial e na Copa do Mundo. Em entrevista ao Arquibancada, João Pedro Chafin, apresentador do canal no Youtube Fut 11vs11, comenta sobre a gestão de Rodrigues: “O principal [motivo dos maus resultados] é o comando da CBF, que passou anos nas mãos do Ednaldo Rodrigues. Sem dúvidas foi um dos presidentes mais incompetentes que já tivemos, seu único feito notável foi a contratação de Carlo Ancelotti, mesmo que com um atraso de 2 anos”. 

Ainda complementa: “Tite já havia avisado, desde 2020, que, após a Copa de 2022, não continuaria no comando da seleção e, mesmo assim, Ednaldo não tentou nenhum outro técnico para substituí-lo assim que Tite deixasse o cargo. Ficou anos sonhando com Ancelotti e improvisando com Fernando Diniz e Dorival Jr”.

Com o comando de Ancelotti, a Seleção Brasileira voltou a ser comandada por um técnico europeu após 81 anos [Imagem: Reprodução/Instagram/@mrancelotti]

A era Dorival Júnior

Dorival encarou um desafio ainda maior: liderar a Seleção Brasileira nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2026 e na Copa América de 2024. O começo dos trabalhos na Amarelinha trouxe esperança para a torcida brasileira, em jogos amistosos. A vitória sobre a Inglaterra e o empate disputado contra a Espanha serviram como combustível para incendiar as arquibancadas na Copa América, que aconteceria alguns meses depois. O campeonato, porém, começou em um 0 a 0 apagado contra a Costa Rica, seguido de um bom jogo contra o Paraguai, que terminou no placar de 4 a 1 para a equipe brasileira. A fase de grupos acabou após o empate em 1 a 1 da Seleção Amarelinha com a Colômbia, seleção que terminou a etapa no topo da tabela. 

Embora os dois empates classificassem o Brasil para as quartas de final da Copa América, o resultado não alegrou a torcida, que ressentiu principalmente o empate disputado contra a seleção costa riquenha. “O que eu mais quero é que Ancelotti consiga transmitir aos jogadores que estão lá que eles representam a Seleção Brasileira de Futebol – a maior do mundo –  e que essa deve ser sempre o ápice da carreira de um jogador. Perder não deveria ser considerado normal, ainda mais para seleções menores, como tem acontecido nos últimos anos”, diz Chafin.

O último título de Copa América conquistado pela Seleção Brasileira foi em 2019, no Maracanã

As grandes polêmicas se intensificaram na etapa de quartas de final do campeonato, onde o Brasil enfrentou o Uruguai. O jogo foi marcado  por faltas que resultaram em um empate sem grandes emoções nem gols – portanto, a decisão de quem passaria para a próxima fase aconteceu por disputa de pênaltis. Vale ressaltar que a seleção uruguaia jogou grande parte da partida com um jogador expulso, porém a Amarelinha não conseguiu converter a vantagem numérica em chances claras de gol. Pelo placar de 4 a 2, a Seleção Brasileira foi eliminada da Copa América nas penalidades. 

Embora o desempenho nas cobranças tenha desagradado a torcida, o que chamou a atenção foi o momento pré pênaltis. Na roda de conversa e incentivo que antecedeu as cobranças, uma cena um tanto quanto inusitada foi observada – Dorival Júnior ficou de fora do círculo formado pelos jogadores. 

O ocorrido fomentou a antiga discussão sobre a suposta hierarquia dentro da seleção, marcada, nos últimos anos, pela figura de Neymar Jr. – cuja importância e protagonismo o colocaram como a principal referência da equipe, por vezes até acima dos técnicos que comandaram a Amarelinha. Essa teoria discutida nas redes sociais ganhou mais força após uma coletiva de imprensa, quando Dorival respondeu a uma pergunta do jornalista Igor Siqueira, do UOL: “Montamos praticamente todo o trabalho em torno de um possível retorno desse jogador [Neymar].”

Na partida contra o Uruguai foram registradas 41 faltas, 4 cartões amarelos e 1 vermelho [Imagem: Reprodução/Globo]

Polêmicas dentro e fora de campo

O momento conturbado da Seleção Brasileira ainda refletiu fora de campo. Enquanto Neymar Jr. estampava páginas de fofoca e acumulava polêmicas nas redes sociais, Raphinha passou a ser criticado por falas controversas. Durante uma conversa no programa De cara com o cara, comandado por Romário, ex-jogador da Seleção, o apresentador diz: “Jogar contra a Argentina, nosso maior rival e, agora, graças a Deus, sem o Messi. Porrada neles?”. A resposta de Raphinha veio rapidamente: “Porrada neles, sem dúvida. No campo e fora do campo se tiver que ser .” As grandes críticas vieram após o clássico contra a Argentina, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa do Mundo. Na ocasião, o Brasil perdeu pelo placar de 4 a 1, marcando uma derrota humilhante para seu maior rival. 

Grande parte da torcida brasileira atribuiu o resultado negativo às provocações feitas pelo jogador dias antes da partida acontecer. O técnico argentino Lionel Scaloni, porém, não se mostrou irritado com a declaração de Raphinha, pelo contrário, rasgou elogios para a Seleção Brasileira. “É preciso passar pelo momento [de dificuldade], eles [Brasil] têm uma cultura futebolística invejável e vão voltar a ser o que foram, se é que deixaram de ser. […] Eles voltarão, espero que não contra a Argentina, mas sou fã do Brasil”, diz Scaloni em coletiva de imprensa após o jogo contra o Brasil. 

“Mais do que pensar no que é preciso para melhorar a Seleção Brasileira, é preciso pensar em evoluir na condução do futebol aqui dentro. No campeonato brasileiro, no calendário, nos gramados” 

Gian Oddi

A derrota para a seleção argentina pôs fim à passagem de Dorival Júnior à frente da Amarelinha, mas não foi a maior reclamação entre os torcedores brasileiros. O desempenho apagado das principais estrelas da equipe se tornou o principal alvo de críticas ao trabalho do técnico brasileiro. Vinícius Jr. acabou sendo o nome mais lembrado nas críticas – a temporada do atleta pelo Real Madrid o colocou como segundo colocado na disputa pela Bola de Ouro, porém, pela Seleção não conseguiu repetir suas atuações com o mesmo brilho. 

Outro jogador lembrado pelas participações apagadas foi Endrick – na época em que Dorival era treinador da equipe brasileira, a jóia da base do Palmeiras havia acabado de ser vendida para o Real Madrid e se destacava nos jogos do alviverde paulista, mas devido ao pouco espaço que recebia pela Seleção Brasileira, teve sua passagem com números pouco expressivos, acumulando três gols em 13 partidas, sendo duas apenas como titular. 

A instabilidade na CBF

As polêmicas ainda se estendem para a parte administrativa da CBF.  Escândalos envolvendo a presidência da entidade não são novidade, poucos foram os presidentes que não tiveram seus mandatos interrompidos por confusões. Nos últimos anos, cinco presidentes foram presos ou afastados – e Ednaldo Rodrigues entrou para a estatística.

Pouco tempo após sua reeleição com 100% dos votos das federações e clubes dos times da Série A e B, Rodrigues foi afastado por uma suposta falsificação de assinatura que o manteria. O presidente até entrou com recurso contra a decisão que o afastava do cargo, mas desistiu pouco depois. Samir Xaud foi eleito logo após a saída de Ednaldo Rodrigues da presidência e, novamente, a eleição foi unânime. 

Antes de assumir a CBF, Samir Xaud era dirigente da Federação Roraimense de Futebol [Imagem: Reprodução/Instagram/@brasil]

Embora o tumulto político pese no ambiente da Seleção, está longe de ser o único problema. O momento da equipe pentacampeã é reflexo de uma série de fatores que se acumulam dentro e fora de campo – um dos mais comentados, a crise de ídolos. A grande referência recente havia sendo Neymar, mas, com as recorrentes lesões, a equipe precisou retomar o protagonismo sem um destaque individual. 

Acostumada a ter grandes craques mundiais em sua equipe, como Ronaldo Fenômeno, Garrincha, Roberto Carlos e o maior de todos, Pelé, a Seleção Brasileira hoje conta com jogadores que, embora se destaquem em seus clubes, não conseguem repetir o mesmo desempenho com a Amarelinha. “O nível técnico dos jogadores caiu, não temos mais grandes craques que decidiam jogos sozinhos a qualquer momento.”, comenta Chafin.

Um novo ciclo em busca do Hexa

A chegada de Ancelotti foi o ânimo que a torcida precisava para entrar no clima de Copa do Mundo. Apesar do resultado negativo contra o Japão, pelo placar de 3 a 2, as expectativas para o mundial se reacenderam. Além da chegada do técnico italiano, as místicas também alimentam a esperança pelo título. 

Em 1994 e 2002, anos em que o Brasil conquistou a Copa do Mundo, a Seleção chegou desacreditada, longe de ser apontada como favorita. Ano que vem o cenário tende a se repetir. A Seleção Brasileira, atualmente em sétimo lugar no ranking da FIFA, chega cercada de desconfianças e baixas expectativas no olhar mundial. “Copa do Mundo são 7 jogos, pode ganhar ou perder, independentemente de fazer um bom trabalho, ainda que bons trabalhos aumentem as chances”, comenta Gian Oddi. O jornalista ainda cita a Argentina como exemplo, que, embora não tenha uma gestão administrativa organizada, é a atual campeã mundial. 

Ainda em 2026, a equipe Verde e Amarela iguala o maior jejum de títulos de Copa do Mundo, 24 anos. Da mesma forma chegava a seleção de Romário em 1994, ano que se consagrou tetracampeão do mundo. Agora, mais uma vez, o povo brasileiro deixa as rivalidades de lado e deposita sua fé em um novo ciclo que vai começar – alguns na esperança de, pela primeira vez, soltar o grito de “é campeão!”, sufocado há muito tempo. 

“A partir do momento que os jogadores virarem a chave e entenderem o peso da camisa que vestem, talvez as coisas mudem para a melhor”

João Pedro Chafin

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