Jornalismo Júnior

Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

A solidão poética e urbana de ‘A Universidade Desconhecida’

Publicação mais recente de Bolaño nos convida a um passeio intimista e singelo por reflexões que perpassaram sua vida

Em A Universidade Desconhecida (Companhia das Letras, 2021), Roberto Bolaño nos mostra que sua escrita melancólica e sentimentalmente descritiva não surgiu ao acaso, mas sim esteve presente o tempo todo em sua carreira como escritor. A coletânea de poemas e alguns textos escritos pelo autor durante o período de sua juventude demonstram com clareza os denominadores comuns que sempre acompanharam Bolaño e que seriam a base para futuros romances: sentimentos soturnos, exploradores do ambiente e com uma profunda solidão.

Os poemas que compõem esta obra, escritos entre os anos 20 de Roberto, foram selecionados e organizados pelo próprio autor, meses depois de descobrir sua doença. O compilado de A Universidade Desconhecida possui três partes, divididas por seções, que tratam dos tempos de morada do autor no Chile, seu país natal, na Cidade do México e em Barcelona, onde viveu seus anos de exílio da ditadura chilena.

Roberto Bolaño fumando um cigarro
Roberto Bolaño [Imagem: Reprodução/Companhia das Letras]
Nesses momentos, o poeta deflagra toda a solitude e percalços que um imigrante, mesmo que latino e falante da língua espanhola, passa ao chegar em uma terra ainda a ser descoberta, sozinho, assim como as situações que o marcam e acabam por servir de inspiração para poemas crus e completamente reais. Ao longo da obra, o leitor é transportado dos momentos vividos em tais cidades — durante os anos 1970 até o começo dos anos 1990 — para o período latino da Idade Média, por meio de comparações de personagens comuns das ruas das cidades movimentadas com figuras da realeza e atos grandiosos, mas que, ao final do dia, não passam de memórias e sentimentos que se esvaem como as presenças nas calçadas.

Bolaño, com sua escrita direta e poderosa, transforma acontecimentos banais em metáforas universais para os anseios humanos e traz à tona uma sensação de calmaria e bucolismo no meio das insanidades emocionais, corrosivas e por muitas vezes agressivas das grandes metrópoles. Como poeta, nos revela sua “universidade desconhecida”, momentos que, segundo o autor, direcionam um escritor para a construção de obras únicas para si próprio: “Na formação de todo escritor, existe uma universidade desconhecida que guia seus passos / Ela não tem sede fixa, é uma universidade móvel, mas comum a todos”.

Além dos poemas que guiaram Roberto Bolaño até a construção de seus principais romances — aqui, vê-se um incisivo espelhamento da personagem principal de Os Detetives Selvagens (Companhia das Letras, 2006) —, temos prosas que discorrem livremente sobre os amores sofridos, seus tempos e percalços como voluntário no tão citado camping Estrella Del Mar e as diversas intempéries financeiras ocorridas. Alguns seguem uma narrativa linear, outros são apenas ideias e pensamentos correntes registrados e vomitados pelo poeta.

A Universidade Desconhecida é um espelho contemporâneo das angústias e períodos vividos por todos nós. É entrar em uma casa nova e reconhecê-la como seu lar, morada de seus crescimentos. É dar o devido poder aos versos e ideias que todos vivem e transformá-los em arte primorosa.

 

*Imagem de capa: Reprodução/Companhia das Letras

1 comentário em “A solidão poética e urbana de ‘A Universidade Desconhecida’”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima