Por Beatriz Garcia (garciabeatriz@usp.br)
A beleza marcante dessa espécie é o que mais chama a atenção. No entanto, é também o fator que mais atrai a caça e comércio ilegal que, junto à degradação do habitat natural, contribuem para a extinção desse animal tão representativo para o Brasil.
Atualmente, de quatro espécies existentes, a Arara-azul-grande (Anodorhynchus hyacinthinus) está entre as únicas duas que não estão extintas na natureza, assim como a Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). Ambas ainda estão em risco, precisam de atenção, e apresentam status de “vulnerável” e “criticamente ameaçada”, respectivamente, segundo dados do Projeto Arara Azul.
No filme Rio (2011), da Disney Pixar, essa realidade de constante perigo na qual as araras vivem é retratada de uma forma descontraída, por exemplo. No filme, os personagens principais são araras-azuis que fogem de outros pássaros que querem capturá-los para vendê-los, o que traduz a realidade atual da espécie.
Características gerais e curiosidades
De nome científico Anodorhynchus hyacinthinus, a Arara-azul-grande não tem esse nome à toa: seu tamanho médio é de um metro, da ponta do bico à ponta da cauda, chegando a pesar um quilo e meio. Por isso, ela é considerada a maior arara do mundo e o maior animal entre os psitacídeos (família de aves que, entre outras, abrange araras, maritacas e periquitos).
No Brasil, é encontrada nas regiões Centro-Oeste e Nordeste, e seu habitat é predominantemente em ambientes florestais e até em áreas savânicas. Em entrevista à Jornalismo Júnior, as biólogas Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura, do Instituto Arara Azul, afirmaram que tratam-se de aves muito carismáticas e inteligentes.
A respeito de sua alimentação, as especialistas afirmam que as araras consomem sementes de duas espécies diferentes de palmeiras. No Pantanal, por exemplo, alimentam-se de sementes de Acuri e Bocaiúva.
Importância para o meio ambiente
A maneira como cada animal se comporta no ambiente em que vive tem um papel importante para o equilíbrio ambiental. No caso das araras-azuis não é diferente.
“As araras são importantes dispersoras de sementes das espécies que consomem, pois podem levar um fruto a grandes distâncias da planta mãe. Isso significa que as araras-azuis são muito importantes para o equilíbrio ecológico onde elas ocorrem”, diz Larissa.
Outro importante papel dessa espécie acontece por meio da reprodução. Seu bico forte é capaz de abrir uma cavidade grande no tronco de árvores onde poderão se reproduzir. “No Pantanal, são mais de 30 espécies que ocupam, em algum momento da vida, essas cavidades escavadas pelas araras-azuis, seja para reprodução, abrigo ou forrageio. Assim, ela é considerada uma engenheira ambiental, já que outras espécies acabam usando suas cavidades também”, dizem as biólogas.
Essas duas funções importantíssimas das araras revelam o quão indispensáveis são para o ecossistema. Sobre isso, as biólogas entrevistadas destacam: “Por serem muito especialistas no que comem e onde fazem ninhos, elas acabam sendo espécies bioindicadoras. Se as araras-azuis desaparecessem, muitas outras espécies seriam afetadas diretamente”. Por isso, diversas organizações no país se empenham em garantir a proteção desses animais.
Atual situação de conservação da espécie
Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura trabalham com esse propósito e explicam que são diversas as estratégias de conservação das araras-azuis. A primeira são os monitoramentos periódicos de ninhos, que servem para compreender as possíveis necessidades reprodutivas da espécie em determinadas estações, já que podem mudar a cada ano. “Criamos ações que podem ser pontuais ou de longo prazo, dependendo do que observamos em campo”, explicam.
Ainda, os biólogos do Instituto também trabalham com ações que são implementadas há muito tempo. Uma delas é a instalação de ninhos artificiais, uma estratégia que contribuiu para o aumento do sucesso reprodutivo e, consequentemente, aumento populacional da espécie de araras-azuis.
O objetivo desse método é diminuir a competição intraespecífica (competição entre indivíduos da mesma espécie pelo mesmo recurso) e interespecífica (competição entre indivíduos de espécies diferentes pelo mesmo recurso) por meio do aumento na oferta de cavidades para as araras-azuis se reproduzirem.
Além dessa, o manejo de ninhos naturais para diminuir predação e perdas por alagamentos, a instalação e manejo de ninhos artificiais e a instalação de cintas metálicas para reduzir as chances de predação por Irara e Jaguatirica são outras estratégias que visam o aumento populacional da espécie, ou seja, o aumento de filhotes sobreviventes a cada ano.
A respeito dos programas de conscientização e informação, as biólogas acrescentam: “Trabalhamos também com as comunidades locais, escolas e universidades, explicando a importância da conservação de uma espécie para o meio ambiente como um todo”.
Uma boa notícia é a atual situação de conservação das araras–azuis: em 2014, a espécie saiu da lista de espécies ameaçadas do Brasil. “Nós comemoramos essa conquista, mas ficamos em alerta com esta decisão porque a penalidade para o tráfico se torna mais branda. O tráfico de araras-azuis reduziu muito nas últimas décadas com o nosso trabalho, mas após elas saírem da lista de espécies ameaçadas, ele voltou a ocorrer em áreas que o Projeto não atua.”
Outro fator que preocupa os especialistas é a questão das queimadas, que alguns anos atrás alcançaram o seu auge e afetaram as principais áreas de ocupação e reprodução das araras-azuis. “Há grandes chances desta espécie voltar à lista de espécies ameaçadas. As araras-azuis foram afetadas diretamente e indiretamente e, mesmo quase três anos depois, ainda sofrem com a influência das queimadas de 2019 e 2020”, concluem as especialistas.
É muito bom quando temos acesso a informações desta realidade tão distante de nós que vivemos nas grandes cidades. Muito bem abordado o tema.