por Júlio Soares julio.soaresv@gmail.com
Nicolau desta vez está saindo de férias e pretende mostrar para o público toda a graça que é estar em família na praia. As Férias do Pequeno Nicolau (Les Vacances Du Petit Nicolas, 2014), filme de Laurent Tirard, terá sua pré-estréia agora dia 25 de julho durante a Mostra Imovision 25 Anos na Reserva Cultural. É uma comédia singela, mas charmosa, que tem como principal característica a capacidade de nos trazer de volta para as várias lembranças de nossas próprias viagens em família.
Ambientado na França dos anos 50, o filme é baseado no livro de mesmo nome escrito por René Goscinny e ilustrado por Jean-Jacques Sempé, e é muito popular entre os franceses. Conta sobre o menino Nicolau (Mathéo Boisselier) que com o término das aulas chega em casa para descobrir que irá passar as férias na praia, no Hotel Beau-Rivage, junto de seus pais e sua vó materna. Lá ele conhecerá novos amigos, novos personagens do dia-a-dia praiano, assim como várias coisas para se divertir. O longa é uma espécie de seqüência do anterior O Pequeno Nicolau (Le Petit Nicolas, 2009), mas não é necessário para o telespectador tê-lo assistido para entender a continuação, já que ela mal pode ser classificada assim. Este filme traz quase um novo elenco, com histórias sem necessidade de qualquer explicação prévia. A premissa do filme é simples, mas sua graça vem justamente do fato de que cada pessoa pode identificar suas próprias lembranças nele. Apresenta-nos aqueles personagens das nossas férias de criança que até hoje podemos ver: o pessoal que passa protetor demais, o pessoal que nem passa protetor, os farofeiros e marmiteiros (sim, até en la magnifique France eles existem), os metidos que amam passear em seus carros e barcos motorizados achando que estão abalando, entre outros. Também conseguimos ver nossa família retratada na tela: a vovó e seu compulsivo tique de querer um beijinho de seus netos (principalmente a cada bombom dado por ela) e o pai que não consegue relaxar do trabalho, nem mesmo saindo de férias, e que sempre se mete a “sabe tudo” tomando aquele atalho que só ele conhece… Nicolau vive feliz em seu mundo e, apesar de ser esperto, acaba deixando que sua imaginação tome conta. Assim, ele comete o ligeiro absurdo de seguir os conselhos de seus amigos, não exatamente exemplos de sensatez e sabedoria. Temos o garotinho que só chora, o que só quer ter razão, o estrangeiro, o que come de tudo (quando falo de tudo, é de TUDO), o que mora no hotel, entre outros. Em meio a fantasias que levam a decisões muito reais, cria-se uma série de situações que deixam o filme cada vez mais divertido. O filme pode ser simples, mas é bem gratificante, além de poder significar um alívio mais relaxante dos presentes na mostra. Por exemplo, As Férias do pequeno Nicolau será exibido um pouco antes da reexibição de Cinema, Aspirinas e Urubus (Cinema, Aspirins and Vultures, 2005), um filme não tão leve, por isso fica a dica para extravasar antes de entrar em algo mais “cabeça”. Além disso, a forma como o filme é capturado é realmente bonito, suas cores vibram e trazem o sentimento inocente de uma praia na década de 50. Todas as crianças trazem atuações muito boas para a pequena idade que têm, conseguindo manter o ritmo de comédia necessário. Fica também o destaque para os pais de Nicolau (Valérie Lemercier e Kad Merad) e sua avó (Dominique Lavanant), que conseguem transitar entre o humor sutil ao absurdo durante o filme. O filme pode até ter sido classificado como comédia, mas se formos pensar em dimensões “nicolianas” iremos ver que, na verdade, é um complexo drama familiar, cheio de intrigas e difamações. Misture isso a: um amor capaz de cometer loucuras, cenas de ação de tirar o fôlego e extremismo culinário digno de “No Limite”. Ou seja: tem tudo, não há desculpas para não assisti-lo!