por Jullyanna Salles
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Amar, Beber e Cantar (Aimer, Boire et Chanter, 2014) é o último filme de Alain Resnais. O diretor, que foi responsável por grandes nomes do cinema como Hiroshima Meu Amor (Hiroshima mon amour, 1959) e O Ano passado em Marienbad (L’année dernière à Marienbad, 1961) faleceu em 1 de Março de 2014, e fechou sua carreira com o longa que, apesar de categorizado como drama, passaria facilmente por comédia.
As ilustrações do cartunista Blutch, presentes a cada passagem de lugar, não só dão uma beleza extra ao filme, como são compatíveis com a tradicional inquietação frente ao comum que Resnais sempre apresentou em sua conduta no cinema.
O enredo é simples, um grupo recebe a notícia que um amigo próximo tem poucos meses de vida. É a partir dos detalhes que se registra a originalidade da produção. George, o personagem principal e que sofre de câncer, não aparece em momento algum. As emoções de seus amigos, alguns de infância, misturam-se entre dolorosas e cômicas. O grupo, já na meia-idade, envolve-se com teatro e realiza uma peça. É fácil confundir ensaios com as cenas reais. O próprio cenário do longa é atípico: montado não por ambientes puramente realistas mas dotados de uma aparência lúdica em que paredes, portas e janelas podem ser apenas grandes tiras de pano. Integrando, em mais um sentido, teatro e cinema.
A trilha é bastante adequada e completa a suavidade da fotografia. Já na primeira cena, o espectador é convidado a não só assistir a produção, mas também a participar dela. O método de filmagem conversa com quem está do outro lado da tela e o avanço lento por uma estrada faz com que se acredite fazer parte do filme e assistir a tudo de outro lugar entre a cadeira do cinema e o cenário dos atores.
Entre todas as atuações, é necessário destacar Sabine Azéma, interpretando Kathryn. Não é a primeira vez que Resnais a escolhe para seus filmes, e é fácil entender o motivo. A personagem é cômica na medida certa e é responsável por comentários que são claramente identificados no cotidiano.
Amar, Beber e Cantar foi feito pra melhorar uma tarde chuvosa, sem muita graça. Por pouco menos de duas horas o espectador consegue sair da realidade. É possível acompanhar de perto o desenvolver do que poderia ser uma tragédia, mas é apenas o retrato do ciclo da vida apresentado com mais cores e bom humor.