Dia 19/07 foi o primeiro dia aberto ao público do youPIX Festival 2014, o maior evento sobre internet e cultura web que rola no Brasil. Esse ano o festival esperou em média 18 mil pessoas, contou com 200 palestrantes – incluindo internacionais – e o melhor, foi tudo free. Talvez uma das coisas mais sensacionais do youPIX seja a possibilidade de contato que existe com outros participantes e com os palestrantes. Lá você pode pedir aquela dica do dono do seu blog favorito, elogiar alguém que escreveu algum texto e, sobretudo, aprender muito sobre conteúdo (e como produzi-lo) para internet.
Teve muito #youPIX sim!
A primeira palestra do dia falou sobre a “zuera” na web, intitulada de “É poca zuera?” contou com a presença de Cid (criador do grupo Não Salvo), Rosana Hermann (jornalista, roteirista e especialista em comportamento digital), Gilmar Lopes (criador do e.Farsas), Rafael Vilela (integrante Mídia Ninja) e Ana Paula Freitas (jornalista colaboradora da revista Galileu). O debate visou expor quais são os efeitos da “zuera” que tomou conta da internet. As brincadeiras, os gifs, memes e paródias passaram a circular na mesma velocidade – e até mais rápido – que as notícias no mundo digital. Os palestrantes iniciaram o debate comentando diversas notícias que se viralizaram na internet na ultima semana e – tcharã – são mentiras; como a doação por parte da seleção alemã do CT na Bahia. Rafael Vilela falou sobre o quanto nós (internautas) compartilhamos conteúdo sem pensar e talvez por isso tanto conteúdo da “zuera” acaba se passando como verídico. Rosama Hermann comentou sobre o poder de propagação que o meme possui, sendo uma ferramenta democrática e poderosa na web. Os 5 palestrantes também falaram sobre consumo de informação, o impacto das redes no consumo de mídia pelos jovens e como é importante separar informação de desinformação na internet em um ano de eleição.
O dia ainda teve destaque para as palestras “A internet não gosta de mulheres” com participação da criadora do movimento Eu não mereço ser estuprada, Nana Queiroz e demais palestrantes que comentaram como o bullying e a violência online geram medo, silenciam e maltratam as mulheres. Também aconteceu a palestra “O mundo além do WhatsApp“, com a Dra. Dora Góes (psicóloga do grupo de Dependência da Internet do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo).
Enquanto isso, aconteciam em outros palcos, palestras como “Internet e Democracia: xingar no twitter é só o começo”, com Paulo Rená (gestor do Marco Civil da Internet, participante do Instituto BETA para Internet e Democracia), Guilherme Sena (Mestre em Direito pela UnB, participante do Instituto BETA para Internet e Democracia) e Graziela Tanaka (Diretora de Campanhas da Change.org), que comentaram como a internet pode ser um instrumento de democracia depois das manifestações de junho de 2013. “O jornalismo cultural na era das tags”, com Marcelo Costa (criador do blog de música Scream & Yell), Alex Antunes (foi editor da revista Bizz e Set, é colunista do Yahoo), Neto Rodrigues (editor-chefe do site Move that Jukebox) e mediação de Alexandre Matias (criador d’O Esquema e do Trabalho Sujo, ex-editor do Link Estadão e da revista Galileu) foi uma palestra em que debateram como a internet e as redes sociais moldam o fazer jornalístico na área cultural. Marcelo Costa revelou que a internet permitiu uma grande quantidade de material cultural e seu acesso, assim, um leitor procura um blog ou um jornalista que possa recomendar quais são os melhores e que chamam mais atenção. Ele também falou sobre como a internet abriu portas para jovens jornalistas que podem criar um blog e produzir seu próprio conteúdo.
Finalizando o dia tivemos uma palestra com Gary Liu, Diretor do Spotify Labs, sobre como a tecnologia mudou a maneira como a gente cria e ouve música, e a Premiação “Melhores da Websfera 2014“. Alguns dos premiados foram: #VaiTerCopaSim como a hashtag do ano e “Ajuda Luciano” como a fanpage do ano.
Se reclamar vai ter mais um dia sim!
O segundo dia já começou agitado e nostálgico com um velório para o Orkut, “SDD Orkut“. Também ocorreram várias palestras como “A Geração “PAI” – pressa, ansiedade e impaciência”, com Rosana Hermann, radialista, roteirista de televisão, professora, apresentadora e repórter de TV, blogueira no Querido Leitor há 11 anos e twitteira viciada. Ela comentou como o nosso desejo moderno de saber sobre tudo ao mesmo tempo e participar de tudo sem deixar nada de lado acaba não permitindo que possamos desfrutar ao fundo de uma única coisa.
A palestra “Amor e Sexo 2.0”, com Frederico Elboni (criador do blog Entenda os Homens), Fred Mattos (psicólogo, escritor, autor do blog Sobre a Vida, colaborador do Papo de Homem e do Casal Sem Vergonha), Nina Lemos (jornalista e colunista da revista TPM) e mediação de Mariana Matos (psicóloga do Núcleo de Estudos sobre Tecnologia e Subjetividade da PUC-RIO), mostrou como aplicativos do tipo Tinder, Grindr, Bang with Friends, 3nder, Par Perfeito e Badoo mudaram nossas vidas e comportamentos sociais e sexuais. Também comentaram como esses aplicativos podem atuar de maneira individualista questionando se os relacionamentos propostos a partir de seu uso são pensados a longo prazo.
“Entretenimento e crowdfunding”, com Luciana Galastri (repórter da revista Galileu), Ivan Costa (sócio da Chiaroscuro Studios), Guilherme Toledo (criador do selo Risco), Diego Reeberg (fundador do Catarse) e Clara Averbuck (escritora que teve um de seus livros financiados via crowndfunding), foi uma palestra em que debateram como a internet pode beneficiar projetos a partir do financiamento com vaquinhas digitais. O mercado do crowdfunding no Brasil movimentou cerca de R$7 milhões em 2011 e 2012, não se restringindo apenas aos gadgets, mas chegando também à cultura. Livros, shows, discos e quadrinhos já podem ser elaborados com a ajuda de fãs, que contribuem com uma quantia para ter uma participação no projeto e provar o trabalho final.
Jeferson Monteiro (criador da Dilma Bolada), Pedro Rogedo (Data Scientist na Movimento Comunicação), Beatriz Pedreira (cientista social, mobilizadora política e planner da Box1824) e Alê Youssef (apresentador do programa “Navegador” da Globonews, comentarista do programa “Esquenta” da Rede Globo e colunista político da Revista “Trip”) debateram sobre “Eleições e Internet” em uma palestra que mostrou como o conteúdo político pode atuar na internet e como as redes sociais podem influenciar a opinião dos eleitores.
Finalizando o ultimo dia do evento, tivemos o “Não Salvo Ostentação Awards 2014“, que mostrou os talentos da MPI (Música Popular Internética), com presença de MC Transnitta, MC Perereka, MC Thiaguinho, MC Formiga, MC Champions e MC Maromba, os vencedores foram:
– Melhores (D)efeitos Especiais = MC Tabajara e o piripaque do Chaves
– Melhor figurino = Péricles da Gang das Bonecas vestido de cupcake de maracuja
– Melhor dancinha ou Ataque Epilético = Bonde das Maravilhas
– Melhor performance de dançarino = MC Siri
– Melhor funkeiro mirim = MC Pet
– Melhor funk reflexivo = MC Garden
– Melhor funk internacional = MC Formiga
– Muso das piriguetes = MC Champions
– Musa dos Leleks = MC Mayara
– Melhor trecho/frase de funk = Edy Lemond
– Melhor Grupo / Bonde / Feat = MC Gu e MC Champions
– Melhor Artista Solo = MC Mayara
Como tudo começou
A ideia surgiu a partir da criação de uma revista quando Bia Granja (co-criadora e curadora do youPIX) sentiu-se insatisfeita com a formação em turismo e passou a trabalhar na “Ideia.com”, onde logo se apaixonou pelo universo da web. Após o fim da empresa em que trabalhava, Bia foi convidada por Bob Wollhein para trabalhar em um site de fotografia, por fim, o ofício acabou em casamento. Durante o tempo no site, Bia se envolveu muito com fotografia, difusão de conteúdo na web e cultura digital, logo, até ganhou uma coluna só para ela. Com toda essa vontade de abrir espaços na web, propagar conteúdo para leigos e profissionais da área, surgiu a Revista PIX. A publicação começou a ficar conhecida, ganhou comunidade no falecido Orkut, e em 2009, Bia reuniu os leitores no primeiro youPIX Festival em uma casinha na Rebouças. Desde então, ficam evidentes as proporções que o festival veio tomando. Atualmente, ele ocupa todo o 2º andar da Bienal no parque do Ibirapuera.
Por Jeferson Gonçalves
jefmgoncalves@gmail.com