Por Giovanna Chencci
g.chencci@gmail.com
O século XX não foi fácil para nínguem que nele viveu. Cercado de grandes guerras, disputas ideológicas e armamentistas, ele conseguiu trazer mais novidades do que já se tinha visto até então. A Guerra Fria, entre tantos outros acontecimentos do século passado, foi extremamente marcante para a história contemporânea. Uma guerra que nunca chegou a acontecer diretamente, deu-se entre as duas maiores potências da época, Estados Unidos e União Soviética. Ela foi baseada na corrida espacial, disputa ideológica e armamentista. Resumindo, mesmo não tendo chegado as vias de fato, foi uma grande e importante guerra que mexeu com todo mundo.
Não é toa que grandes produções vieram da Guerra Fria. Com retratos diferentes de uma mesma epóca, diversos filmes tentaram mostrar para o seu público como ela se desenrolou durante os seus 46 anos de permanência. Outros, por sua vez, procuraram exibir as consequências de uma guerra puramente ideológica e perigosa, caso ela viesse a acontecer.
Jogo de Guerra
O Jogo de Guerra (WarGames, 1983), filme dirigido por John Badham, conta a história de um adolescente apaixonado pela informática e por jogos de video game. Sua vontade de jogar é tamanha que, durante uma busca por novos jogos, ele acaba se conectando acidentalmente ao sistema de defesa americano, provocando uma iminente terceira guerra mundial. A príncipio, o governo acreditava que o adolescente era um espião soviético, mas depois que bagunça causada na defesa militar é desfeita, percebem que ele não era nada mais que um viciado em jogos virtuais.
Com a explosão dessa “quase” terceira guerra mundial, nos deparamos com a situação em que humanidade chegou. No filme, as previsões eram de milhões de baixas em um só bombardeio. Desse modo, Jogo de Guerra, além de mostrar a magnitude das armas americanas, assim como a sua inteligência de guerra, também expõe a realidade de que uma guerra nuclear não trará vencedor nenhum, pelo contrário, irá destruir os dois. Uma possível vitória americana é nesse enredo descartada, diferenciando Jogo de Guerra dos demais filmes sobre a Guerra Fria.
Adeus, Lenin!
Adeus, Lenin! (Good bye, Lenin!, 2003), dirigido por Wolfgang Becker, conta a história de uma mãe e seus dois filhos que vivem na Alemanha Oriental (Socialista) e são muito devotos ao sistema em que vivem. A mãe, Hannah, é uma das maiores contribuidoras do socialismo no país, ajudando da melhor forma possível a sua sociedade e a sua nação. Porém, a parte oriental de Berlin sempre teve seus problemas, e quando as crianças crescem, o socialismo já não parece ser o sistema ideal para eles.
Nesse contexto, a mãe sofre de um ataque cardíaco, o que a faz ficar 8 meses em coma. Quando acorda, o médico recomenda que ela não tenha grandes excitações de modo a não provocar mais um ataque. Porém, nesse meio tempo em que ela se encontra desacordada, o muro de Berlin cai e o socialismo começa a desaparecer em todo o mundo. A fim de não criar uma grande tristeza e frustação para sua mãe, Alex, filho de Hannah, tenta esconder se sua mãe o que estava acontecendo.
Essa divisão da Alemanha é uma das maiores heranças da Guerra Fria. Um mesmo país divido entre socialistas e capitalistas por meio de um muro é a prova mais concreta de que essa época aconteceu de fato e marcou a vida de milhares de pessoas. O filme nos mostra um lado da Guerra Fria em que uma mesma nação se vê dividida por duas ideologias distintas e que não se toleram. Além disso, mostra a devoção ao socialismo e a condenação ao capitalismo, uma dicotomia extremamente marcante da época. E junto com essa bipolaridade, Adeus, Lenin! mostra o quão forte foi a influência da guerra espacial e a corrida pela posse do espaço. Os astronaltas ou os cosmonaltas, como eram chamados na Alemanha Oriental, são figuras fortes da época, além de serem peças importantes para a cultura da época.
Boa noite e boa sorte!
Outro filme que retrata pontos importantes desse período de Guerra Fria, é o Boa noite e boa sorte! (Good night, and good luck!, 2005 ) dirigido e atuado por George Clooney. A trama acontece em meados da década de 1950 nos Estados Unidos. Os jornalistas da rede de televisão CBS iniciam uma discussão com o então senador Joseph McCarthy, condenando-o pela sua “caça a bruxas” ao comunistas. O filme se desenrola basicamente em torno dos assuntos ligados ao macartismo, política que marcou a luta contra os comunistas em território americano. Com um “Boa noite e boa sorte” o âncora do programa da CBS fecha sempre sua fala de forma enfática, após o seu pronunciamento que é, na maioria das vezes, polêmico e não usual para a televisão americana da época.
Ao abordar um tema da Guerra Fria mas sem condenação dos comunistas como tema central do filme, “Boa noite e boa sorte!” consegue se distinguir da grande maioria dos filmes sobre a época. É um filme totalmente em preto e branco, o que o torna ainda mais verossímil com a realidade, já que durante o filme, há trechos de julgamentos e pronunciamentos que aconteceram de fato na década de 1950. É um ótimo filme no que se trata da abordagem sobre a era do macartismo e das relaçãoes da imprensa americana com a publicidade.
Dr. Fantástico
Uma comédia que ilustra bem esse momento de tensão entre essas duas grandes potências, é o Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb, 1964) dirigido por Stanley Kubrick. Esse filme conta a história de um general americano maluco que decide iniciar a guerra contra a URSS jogando bombas nucleares. Como os governantes sabem que isso acarretaria em uma destruição mundial, eles tentam de forma cômica evitar que esse desastre aconteça.
O filme mostra exatamente qual era o nível de tensão entre os dois países. A guerra era algo tão iminente, que diversos filmes basearam suas histórias nesse conflito de iniciar ou não uma guerra. O medo de que bombas nuclear explodissem também é bem visível nesse filme. Ao mesmo tempo que americanos e soviéticos querem entrar em guerra um contra o outro, eles também se aflingem em iniciar uma guerra que não teria fim.