Depois de 1602 dias de espera, o torcedor voltou a ter a oportunidade de acompanhar o Brasil em um jogo de Copa do Mundo. A derrota para a Bélgica, em 2018, foi dolorosa e deixou para a seleção a sensação de que era possível sonhar com algo melhor.
Passados quatro anos e meio, houve renovação nos nomes e no futebol dos comandados de Tite, e a Seleção Canarinho entrou em campo em Lusail, no Catar, cheia de expectativa para fazer valer seu favoritismo diante da Sérvia, tida como a segunda melhor seleção do grupo e que foi vencida pelo Brasil em 2018. E o fez! Após um primeiro tempo muito disputado e de poucos espaços, a vitória veio com gols de Richarlison e um verdadeiro show de atuação.
Primeiro Tempo: equilíbrio, estratégia e expectativas sendo cumpridas
Pouco mais de uma hora antes da partida de estreia de Brasil e Sérvia pelo Grupo G (Brasil, Sérvia, Suíça e Camarões) da Copa do Mundo de 2022 muitas das dúvidas referentes às escalações de ambas as equipes foram sanadas. No caso do Brasil, o prognóstico que apontava para a presença de Vinícius Júnior (Real Madrid) entre os titulares se confirmou, e Fred (Manchester United), foi para o banco de reservas. Thiago Silva foi o capitão.
Já do lado sérvio, esperava-se que um dos dois centroavantes, Vlahović e Mitrović, saísse para a entrada de Gudelj, volante de contenção, tal qual foi feito contra Portugal nas Eliminatórias. E assim foi feito, com Vlahović reserva. A diferença foi a entrada do lateral Mladenović na ala esquerda. O titular da posição, Kostić, não conseguiu se recuperar a tempo de uma lesão muscular e ficou no banco. A Sérvia estava sem dois de seus grandes nomes, restando a Sergej Milinković-Savić, a Tadić e a Mitrović a tarefa de tentar incomodar a defesa brasileira.
Em campo, o que se viu foi um primeiro tempo semelhante ao que se tem visto nas demais partidas da Copa: muita intensidade, espaços curtos, defesas bem postadas e poucas chances de gol; com um adendo: a Sérvia, ao contrário de outras seleções que desafiaram protagonistas na primeira rodada, não foi ao jogo pensando apenas em se defender. Sempre que podia, tocava a bola no meio-campo buscando abrir o jogo para os alas e se valer da bola aérea. Essa postura fez com que o jogo ficasse interessante na primeira etapa, trazendo um ar de extraordinariedade à medida que ambos os times tinham que encontrar alternativas para furar os bloqueios adversários e fazer os seus próprios (em dado momento, até o Brasil chegou a usar uma linha de cinco defensores).
A seleção brasileira teve a chance mais clara aos 35’. Raphinha tabelou com Paquetá e finalizou no meio do gol para a defesa de Vanja Milinković-Savić. Vinícius Júnior também levou perigo em outras oportunidades e em jogadas individuais. O Brasil tinha dificuldades de entrar na defesa sérvia e, quando o fazia, era pelos lados, com a individualidade e a velocidade de Vini e Raphinha, ou com passes, como os do capitão brasileiro Thiago Silva. Quase não se ouviram os nomes de Paquetá, Neymar e Richarlison no primeiro tempo.
Já pelo lado do time de Dragan Stojković, o Piksi, o sistema defensivo funcionou e o meio-campo conseguiu trabalhar bem a bola com Milinković-Savić e Tadić; falhando, porém, em encontrar Mitrović, que não levou perigo. Taticamente, era um jogo equilibrado e dentro do esperado, sem grandes surpresas. Permanecendo assim, a tendência era de empate ou de vitória mínima brasileira ao final dos 90 minutos.
Segundo Tempo: Brasil avassalador, Richarlison matador
As duas equipes voltaram sem alterações. Acontece que o primeiro lance da segunda etapa já deu indícios do que seria a partida a partir daquele momento: com 30’’, Vanja Milinković-Savić saiu jogando errado, Raphinha recuperou a bola, ficou frente a frente com o goleiro e acabou chutando sobre ele, perdendo uma grande oportunidade.
O Brasil, que chegou até a sofrer uma pequena pressão no começo da primeira etapa, cresceu em intensidade e em dinâmica na segunda, enquanto as Águias Brancas começavam a dar sinais de cansaço. Aos 57’, Piksi sacou Gudelj, amarelado, e Živković, que pouco conseguira criar pela direita, para as entradas de Ilić e Radonjić – muito mais para renovar as energias do que para mudar a estratégia.
Não demorou para o Brasil abrir o placar: aos 60’, Alex Sandro acertou a trave em chute de fora da área, e aos 62’, após bela jogada de Neymar, Vini Jr. finalizou, o goleiro defendeu, e Richarlison pegou o rebote para abrir o placar para a seleção brasileira.
O gol parece ter dado um choque nos jogadores da Sérvia, que em questão de segundos viram sua estratégia ir por água abaixo e começaram a cometer mais faltas e a se desorganizar taticamente. Foram nove infrações cometidas sobre Neymar, o mais “caçado” da Copa até agora, com quatro a mais do que o segundo (Gavi, da Espanha). Todo esse abalo psicológico parece ter piorado a partir dos 66’, quando Piksi tirou Lukić e Mladenović para as entradas de Lazović e, finalmente, de Vlahović. O primeiro jogou na ala direita, deslocando Radonjić para a esquerda e tendo atuação tenebrosa. O segundo mal apareceu.
O Brasil seguiu no campo de ataque até que, aos 73’, Vinícius Jr. recebeu pela esquerda e fez um belo cruzamento de três dedos para Richarlison, que levantou a bola de perna esquerda e bateu, em um lindo voleio de perna direita, sem qualquer possibilidade de defesa. Um golaço!
Se a Sérvia já estava cansada, com o passar dos minutos e das substituições de Tite isso foi ficando ainda mais evidente. As Águias Brancas perderam toda a compactação e organização que tiveram durante a primeira etapa, e Piksi não tinha alternativas capazes de mudar o cenário da partida. Enquanto isso, Tite tirou Paquetá, Vinícius Júnior e Richarlison para as entradas de Fred, Rodrygo e Gabriel Jesus, que mantiveram a postura incisiva.
Aos 80’, a pior notícia do jogo: Neymar saiu machucado após dividida com Milenković. Chorando e com o tornozelo inchado, o camisa 10 da seleção brasileira deu lugar a Antony. Após a partida, Tite garantiu que a lesão do craque não preocupa e tranquilizou os torcedores, em coletiva de imprensa.
Ainda deu tempo de Gabriel Martinelli fazer sua estreia em Copas, entrando no lugar de Raphinha. Pelo lado da Sérvia, Piksi trocou o artilheiro Mitrović pelo volante Makšimović, em claro sinal de que o jogo já estava acabado. Só no segundo tempo, a Seleção Canarinho finalizou 18 vezes, contra quatro dos sérvios. No primeiro, a diferença tinha sido de quatro para uma, com muito menos chances.
Se França e Espanha venceram adversários mais frágeis, e Argentina e Alemanha “passaram vergonha”, o Brasil sai de sua primeira partida na Copa do Mundo se impondo e mostrando toda sua capacidade de variação tática e técnica diante de uma seleção bem preparada e com talentos individuais, e se coloca, mais uma vez, como grande candidata ao título mundial – que seria o seu sexto.
A seleção parte agora para Doha, onde enfrenta a Suíça pela segunda rodada do Grupo G, na segunda-feira (28), às 13h. Na sexta (2), o jogo é contra Camarões, às 16h, novamente em Lusail. A Sérvia, por sua vez, pega Camarões em Al-Wakrah, às 7h, na segunda-feira (28), e finaliza a fase de grupos contra a Suíça, em Doha, no mesmo horário do jogo do Brasil. A Suíça venceu Camarões por 1 a 0 na primeira rodada.
*A programação está no Horário de Brasília (UTC/GMT – 03:00)
Ficha técnica:
Cartões amarelos: Pavlović (7’), Gudelj (49’), Lukić (64’) – SERGols: Richarlison (62’ e 73’)