Por Caio Santana e Marina Caiado
As Olimpíadas, que contam com a participação de atletas das mais variadas idades, ganhou uma categoria juvenil. Com a mesma periodicidade de quatro anos, os Jogos Olímpicos da Juventude (JOJ) 2018 acontecem no mês de outubro, em Buenos Aires. Será a terceira edição do evento que reúne jovens de todos os continentes. Tendo como um dos objetivos revelar talentos para as futuras edições olímpicas, os jovens de 15 a 18 anos mais que competem: eles têm a oportunidade de participar de um evento intercontinental organizado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI).
A primeira edição aconteceu em 2010, na imponente, famosa e moderna Singapura, no país de nome homônimo. Cerca de 205 países integrantes do Comitê Olímpico enviaram representantes. Eles disputaram medalhas nos 26 esportes constantes no programa daquela estreia de edição olímpica juvenil. O Brasil, já conhecedor da sede olímpica dos Jogos de 2016, enviou uma delegação com 81 jovens atletas que competiram em 21 modalidades. Conquistando apenas seis medalhas, o país ficou em 21° no quadro de medalhas, que foi liderado pelos chineses e russos.
Com a experiência de sediar as Olimpíadas de Verão em 2008, na capital Pequim, a China foi mais uma vez sede dos Jogos essa vez na já falada categoria juvenil. A segunda edição foi realizada em Nanquim, em 2014. Com foco nos Jogos Rio 2016, o Brasil levou uma delegação maior para o evento: foram 97 atletas competindo em 24 de 28 modalidades. Com muitas promessas olímpicas, nossos representantes saíram de lá em nono lugar no quadro de medalhas com seis ouros, seis pratas e um bronze. Mais uma vez, China e Rússia se mantiveram no topo.
A edição de 2018
O país dos hermanos é a sede da terceira edição dos Jogos. A capital da Argentina, Buenos Aires, não mediu esforços para fazer acontecer esse grande evento. É a primeira edição dos jogos realizada fora do continente asiático e, em 12 dias, serão 32 modalidades esportivas disputadas pelos 206 países confirmados.
O empenho dos argentinos não aconteceu por acaso. Eles visam sediar as Olimpíadas de 2032 e precisam fazer bonito com a realização dessa edição juvenil e de Copas do Mundo de diferentes esportes (que, eventualmente, eles se lançarão como sede). Assim, a Argentina também quer sediar a Copa do Mundo FIFA de 2030 juntamente ao Paraguai e Uruguai.
O Brasil
Neste ano, estava previsto que o Brasil levasse a Buenos Aires 81 atletas competindo em 25 modalidades. Porém, devido a um problema de saúde de Bruna Saafeld Elias, do ciclismo combinado, o país não contará com a dupla que disputaria a modalidade, segundo o COB. Assim, a delegação será composta por 79 atletas, que competirão em 24 das 36 modalidades dos Jogos Olímpicos da Juventude.
Para esses atletas, a paixão pelo esporte começou cedo, como conta Maria Eduarda Arakaki sobre a ginástica rítmica: “Iniciei aos 5 anos de idade, na escolinha, como uma forma de brincadeira mesmo. Já tinha feito dança e eu adorava fazer essas ‘estripulias’. No outro ano, uma das minhas atuais técnicas, a Carla, passou nas salas de aula perguntando se alguma menina queria fazer o teste para entrar para a equipe mirim, e aí eu participei do teste e entrei. Com o tempo foi se tornando o meu sonho”. A história de Bruna Yumi Takahashi também é muito parecida. Seu primeiro contato com o tênis de mesa aconteceu quando seu pai a levou para brincar em um clube perto de casa. Hoje, o esporte já virou muito mais que uma brincadeira.
Anna Lúcia dos Santos, bicampeã sul-americana nos saltos ornamentais, sabe bem onde quer chegar nessa edição dos JOJ: “Minha meta para Buenos Aires é fazer minha série de plataforma com menos erros possíveis, para fazer uma pontuação que me ponha entre as dez melhores do mundo na minha categoria”, ela disse, determinada.
As três atletas disseram ao Arquibancada que estão orgulhosas de representar o país em mais uma importante competição e acreditam em bons resultados. Elas também trabalham duro para competir nas próximas Olimpíadas. Bruna, a mais velha, já chegou a compor a delegação brasileira em 2016, com apenas 16 anos. A atleta não levou medalha pra casa, mas diz ter sido uma experiência muito boa, principalmente por competir em terras brasileiras e ter contato com outras culturas. Bruna ainda competirá na Suécia e na Áustria este ano, e sonha em um dia ser uma das 20 melhores do mundo em sua modalidade.
Vale lembrar que pelos Jogos Olímpicos da Juventude já passaram grandes atletas brasileiros como Thiago Braz e Flávia Saraiva. Os dois brilharam no Rio em 2016: ele com um dos ouros mais emocionantes da edição, no salto com vara, e ela como o mais novo xodó da ginástica artística que, com apenas 16 anos e 1,33m, conquistou o 5º lugar na final da trave de equilíbrio. Outro atleta importante que competiu nos JOJ foi Felipe Wu, conquistando a prata brasileira no tiro esportivo em 2016.
Eventos de grande porte na América do Sul
A sequência de grandes eventos esportivos na América do Sul – Copa do Mundo 2014 e Jogos Rio 2016 no Brasil, e agora os Jogos Olímpicos da Juventude 2018 em Buenos Aires – merece atenção. É importante levar tais celebrações esportivas para países em desenvolvimento, mas também percebem-se os problemas causados por elas.
O Brasil sediou os dois maiores eventos esportivos do mundo sem praticamente nenhuma preparação financeira ou estrutural. Mas as obras inacabadas e a entrega das obras superfaturadas levou o país a um agravamento de uma tremenda crise. Parte do não andamento de obras se deve ao fato de que 28% do valor em contrato (cerca de 7,8 bilhões de reais) não foram executados, segundo o Portal da Transparência da Copa. O Portal, organizado pela Controladoria-Geral da União (CGU), estabelecia 27,8 bilhões de reais contratados para obras nas 12 cidades-sedes.
Em 2013, quando Buenos Aires ganhou a eleição para sediar a edição desses jogos em 2018, Mauricio Macri, então prefeito da cidade, havia proposto um orçamento que fugiria do real quando assumisse o país . O presidente argentino não contava com a crise econômica que suas ações iriam trazer, causando descontrole e pressão do COI.
Segundo o jornalista argentino Ernesto Rodriguez, que denunciou em julho os problemas que a Argentina enfrentava para entrega das obras e planejamento, o orçamento aumentou em 1000% devido à inflação. Em 2013, com Macri prefeito, foram orçados U$1.040.000.000 de dólares, com cada dólar equivalente a cinco pesos argentinos na época. Em julho de 2018, o plano orçamentário já havia pulado para U$11.500.000.000 de dólares, com cada dólar equivalente a 28 pesos argentinos.
Em plena flutuação cambiária e não controle do preço do dólar, a moeda argentina estava ficando cada dia mais desvalorizada (a cotação do primeiro dia de outubro mostrava 1 dólar = 40 pesos argentinos). Ainda em julho, ficou decidido que essa edição não teria cerimônia de encerramento, de orçamento extra de U$15.000.000, fora de cogitação para o presidente Mauricio Macri.
Ficou assegurada, então, a realização da cerimônia de abertura, na Avenida 9 de Julho, próximo ao obelisco de Buenos Aires, com público que superará 1 milhão de espectadores, pelas estimativas. A boa impressão que os argentinos queriam passar para o COI, foi por água abaixo. Contudo, eles agora precisam se mostrar eficientes, se ainda pretenderem sediar Copas do Mundo e Olimpíadas futuramente.