Jornalismo Júnior

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De volta aos anos 2000: os últimos brasileiros ganhadores da Bola de Ouro

Depois de 17 anos, premiação individual pode voltar a mãos brasileiras após grande temporada de Vinicius Júnior
Arte com Kaká, Vinicius Júnior e Bola de Ouro

Por Breno Marino (brenomarino2005@usp.br)

No dia 28 de outubro deste ano, será nomeado, pela revista francesa France Football, a Ballon d’Or (Bola de Ouro), premiação individual mais prestigiada no mundo do futebol. A premiação será feita baseada no desempenho dos jogadores na última temporada (2023/24), de forma ao vivo e compartilhada em tempo real nas redes sociais da revista.

Por mais importante e aclamada que a premiação seja, ela não é dada a um brasileiro desde 2007. O último vencedor do prêmio foi o argentino Lionel Messi, campeão do mundo em 2022.

A Bola de Ouro: o que é?

O Ballon d’Or é uma premiação anual, criada em 1956 e realizada pela revista France Football, que coroa o melhor jogador e jogadora (desde 2018) de futebol em uma temporada, seguindo os padrões europeus (início em agosto e fim em julho). Esse modelo foi adotado em 2022, já que antes se premiava o atleta baseado em um ano.    

Até 1995, a cerimônia premiava apenas jogadores europeus, pertencentes a clubes do “Velho Continente”. Desse ano em diante, jogadores de qualquer continente que jogavam em clubes europeus também passaram a ser considerados — apenas a partir de 2007 que atletas de qualquer lugar do mundo puderam participar da premiação.

A escolha e votação dos jogadores indicados é feita por treinadores, capitães de seleções e jornalistas, sem a participação de voto popular. Contudo, até 2006, apenas trabalhadores do ramo jornalístico tinham o direito de votar.

Prêmio da Bola de Ouro

Messi é o maior ganhador da Bola de Ouro, com oito no total, seguido de Cristiano Ronaldo, com cinco. No feminino, a maior ganhadora é Alexia Putellas, com duas [Reprodução/Wikimedia Commons]

A Bola de Ouro e a FIFA

A Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA), maior entidade de futebol no mundo, possui uma premiação própria que congratula a temporada do melhor jogador do mundo desde 1991. Em 2009, a France Football e a entidade uniram-se e realizaram, até 2015, a FIFA Ballon d’Or, que seguia os mesmo critérios de anos anteriores. 

De 2016 em diante, com o desfecho da união, a FIFA criou uma nova cerimônia para dar seguimento ao seu histórico de premiações e competir com aquela realizada pela revista francesa: o FIFA The Best. Mesmo com a participação de voto popular para a decisão, a premiação não possui a mesma credibilidade que a Bola de Ouro, tendo prêmios questionáveis em seu histórico e a falta de indicações a jogadores em temporadas excelentes — como foi o caso de Vinicius Júnior em 2023, que não estava nem na lista dos 12 melhores atletas.

Os anos 2000: a última década de destaque brasileiro

Com a conquista da Copa do Mundo em 2002, além da presença e destaque de inúmeros jogadores brasileiros em times europeus, os anos 2000 representaram o último auge do futebol brasileiro. Juntando ótimos resultados esportivos e desempenhos individuais, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e Kaká foram os últimos atletas do país “verde e amarelo” a ganharem a Bola de Ouro.

Ronaldo Fenômeno (2002)

Após uma sequência de lesões graves, que sofreu entre 1999 e 2002 jogando pela Internazionale de Milão, Ronaldo chegou à Copa do Mundo de 2002 questionado pelos torcedores do Brasil. Mesmo com tantas dificuldades, o atacante mostrou o porquê de seu apelido ser “Fenômeno”. Com oito gols na competição, o atleta levou a seleção brasileira a conquistar o seu pentacampeonato mundial, marcando dois gols na final contra a Alemanha.

Mesmo com apenas 32 jogos em todo o ano, a conquista da Copa do Mundo e seus 21 gols marcados renderam a Bola de Ouro de 2002 para o jogador. Em entrevista ao Arquibancada, Leo Bertozzi, jornalista esportivo da ESPN, comenta: “A conquista da Bola de Ouro representou uma volta por cima na carreira do Ronaldo. Grande parte dos torcedores não tinham certeza se ele voltaria a jogar em alto nível depois das lesões”.

Ronaldinho Gaúcho (2005)

Com dribles desconcertantes, carisma e muita técnica, Ronaldinho sempre foi um jogador que cativava os fãs de futebol por todo o mundo. Porém, o brasileiro foi congratulado pela premiação realizada pela France Football apenas uma vez, em 2005.

Após levar o Barcelona à conquista do Campeonato Espanhol, que não era vencida pelo time catalão a seis temporadas, e ganhar a Copa das Confederações pela seleção brasileira, o “Bruxo” — apelido do jogador — foi unanimidade entre os votantes. Com 225 pontos no total, o meia ficou na frente de Frank Lampard (148 pontos) e Steven Gerrard (142 pontos).

Kaká (2007)

Em meio à falta de títulos no Milan e uma decepcionante Copa do Mundo em 2006, Kaká precisou carregar um protagonismo nunca antes carregado por ele e demonstrar todo o potencial que o camisa 10 possuía. Em campanha histórica na UEFA Champions League, o Príncipe de Milão foi crucial na conquista da competição, após final disputada contra o Liverpool.

Mesmo não marcando gols na final e com números razoáveis na temporada, o meia brasileiro teve um total de dez gols em 13 jogos na competição europeia. Tal façanha levou Kaká a ganhar o Ballon d’Or em 2007, sendo o último brasileiro a conquistar o prêmio.

Kaká com taça de campeão da Champions League

A Champions conquistada pelo Milan foi a única em sua carreira, a última do time italiano [Reprodução/Twitter: @ChampionsLeague]

A última década: decepções e a falta de representatividade

Depois de uma década muito positiva aos amantes de futebol do Brasil, o período entre 2010 e 2020 representou o contrário — resultados ruins da seleção brasileira e a falta de novos craques que representassem a nação no esporte.

Na Copa do Mundo de 2010, a seleção brasileira — abaixo tecnicamente daquela de quatro anos antes — foi eliminada para a vice-campeã, a Holanda, nas quartas de final da competição disputada na África do Sul, pelo placar de 2 a 1. Já em 2018, em partida disputada, o Brasil caiu para a Bélgica, terceira colocada naquele ano, na mesma fase e pelo mesmo placar do jogo contra a seleção holandesa.

Mesmo com esses dois resultados negativos, com certeza o pior e mais decepcionante aconteceu na Copa do Mundo de 2014.  Em pleno território nacional, no estádio do Mineirão, a Seleção sofreu sua maior goleada na história — um 7 a 1 para a campeã Alemanha, na semifinal da competição. Antes desse resultado, a pior derrota do Brasil havia sido para o Uruguai, em 1920, por 6 a 0.

Jogadores da Alemanha na semifinal da Copa do Mundo de 2014, contra o Brasil, no 7 a 1

A seleção brasileira, ainda, perdeu a disputa de terceiro lugar para a Holanda nesta Copa do Mundo, pelo placar de 3 a 0  [Reprodução/Wikimedia Commons]

Com campanhas negativas em sequência e um resultado que vai ficar para a história dos confrontos entre seleções, muitos acreditam que a identificação da torcida brasileira com a Seleção se perdeu, sendo muito mais incomum ver a população parando suas rotinas para acompanhar um jogo da nação. Contudo, para Bertozzi, essa ideia não procede totalmente: “Os brasileiros ainda lotam os estádios quando tem um jogo, ainda há um grande interesse”, afirma.

Um capítulo à parte chamado Neymar

Em contramão aos anos 2000, o Brasil não teve jogadores extraclasse despontando como novas estrelas, que substituiriam nomes como Ronaldo, Ronaldinho e Kaká. Bons jogadores como Marcelo e Thiago Silva, que possuem uma grande história no futebol, vestiram a camisa “verde e amarela”, mas foi longe de ser suficiente para repor as carências da equipe.

Nessa falta de craques, há uma exceção: Neymar Júnior. Desde as categorias de base, o jogador já chamava a atenção dos futebolistas e olheiros europeus. Graças aos seus dribles e seu jeito plástico de jogar — o conhecido “futebol arte” —, o ponta tinha tudo para ser a nova estrela brasileira e um possível candidato ao retorno da Bola de Ouro ao país.

Mesmo com boas atuações pela Seleção e fazendo parte de um dos maiores trios de ataque desse século, com Messi e Suárez pelo Barcelona (o trio MSN), Neymar nunca conseguiu atingir o protagonismo que todos achavam que alcançaria. Em meio a uma polarização nunca antes vista, entre Messi e Cristiano Ronaldo, a conquista de um prêmio individual pelo brasileiro era muito complicada, mas não explica tudo. “Se acreditava que agora, com o fim da era Messi-Cristiano Ronaldo, Neymar estaria consolidado como um grande protagonista mundial no futebol. Isso não aconteceu e está muito longe disso, por uma série de fatores, como as lesões e a falta de conquistas coletivas (após a saída do Barcelona)”, comenta Leo.

Neymar no Al-Hilal

Hoje, Neymar está jogando na Árabia Saudita pelo Al-Hilal. O jogador continua sofrendo com as lesões e perdeu espaço, inclusive, na seleção brasileira [Reprodução/Wikimedia Commons]

A volta da Bola de Ouro a mãos brasileiras

Depois de um início de século excelente aos jogadores brasileiros e uma década seguinte bem abaixo, a premiação realizada pela France Football pode finalmente estar de volta ao Brasil. 

Vinicius Júnior, ponta do Real Madrid, é um dos fortes candidatos à conquista da premiação individual nesta temporada. Com 25 gols e 11 assistências, somando todas as competições disputadas, o brasileiro foi fundamental na conquista da 15° Champions League da equipe espanhola, mesmo estando grande parte da temporada lesionado. Além disso, o jogador foi eleito pela UEFA o melhor jogador da Champions League e foi campeão da La Liga.

Vinicius Júnior com a taça de campeão da Champions League

Para conquistar a Bola de Ouro, Vini contará com a concorrência de seu colega de equipe Jude Bellingham, eleito o melhor jogador da La Liga [Reprodução/Twitter: @ChampionsLeague]

Muito mais do que futebol, um símbolo

A conquista da Bola de Ouro representaria muito mais do que uma simples conquista, mas também uma mensagem de resistência. O ponta brasileiro vem constantemente sofrendo de atitudes racistas na Espanha, seja no campo ou nas redes sociais. 

Assim, Vini carrega uma bandeira mundial na luta contra o racismo, sendo extremamente ativo em iniciativas contra esse tipo de crime. “A conquista do prêmio pelo Vinicius representaria muita coisa, seja pelo encanto dele dentro das quatro linhas ou pelas lutas que ele carrega fora delas”, diz Bertozzi. Infelizmente, posicionamentos polêmicos como os do ponta carioca afastam a escolha dos votantes, tanto na premiação da revista francesa quanto na da FIFA, que optam por não entrar nesse tipo de assunto para evitar possíveis repercussões.

Entretanto, a conquista ou não da premiação não resume ou minimiza a importância e significado de Vinicius Júnior ao Brasil e ao esporte em geral. Depois de anos sem representatividade, o brasileiro, além de esperança para o presente e futuro da seleção brasileira, é imagem e inspiração para milhares de brasileiros, de todas as cores e gêneros, mostrando que, independentemente de sua origem e obstáculos, pode-se alcançar o topo do mundo.

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