por Bianca Kirklewski
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Frank Murdoch é um cidadão estadunidense que leva uma vida mediana. Trabalha em um escritório entediante com pessoas sem personalidade, mas mesmo assim está no emprego há mais de uma década. Divorciado, tem uma filha mimada que só aceita visitá-lo em troca de presentes. A garota é capaz de estapear o chão deitada de bruços se ao invés de um Iphone ganha um Blackberry. Frank adormece todos os dias assistindo televisão, numa tentativa de abafar o barulho do choro do bebê de seus vizinhos imigrantes.
Como todos nós fazemos às vezes, Murdoch gosta de fantasiar a morte daqueles que odeia. Isso o tranquiliza. Seus assassinatos imaginários são sempre banhados a muito sangue: talvez esse grande volume sanguíneo possa preencher o vazio existencial que ele sente.
Um dia, resolve consultar um neurologista para descobrir a razão de sua dor de cabeça constante. O médico lhe dá o diagnóstico com grande incômodo — não pelo que estava dizendo, mas porque seu celular não parava de vibrar em cima da mesa e ele tinha ânsia em responder. Frank então descobre que estava com um tumor cerebral enorme e não teria muito tempo de vida.
Sem nenhuma perspectiva, em mais uma noite de solidão, ele resolve se suicidar. Até que, enquanto assistia TV com o cano da arma em sua boca, tem a ideia de colocar seus sonhos violentos em prática e assassinar uma adolescente resmungona de um reality show. Durante seu primeiro homicídio, Frank acaba conhecendo Roxy, uma adolescente de 16 anos que detesta tudo e todos e o incentiva a continuar a matança.
É com essa premissa que Deus Abençoe a América (God Bless America, 2011) dá as caras. Regado à violência gratuita e discursos anti-imperialistas, o filme gerou muita polêmica quando lançado, devido ao excesso de brutalidade, e foi fracamente divulgado, chegando ao Brasil apenas por meio de streamings.
Os personagens do longa não possuem grandes diferenciais ou características marcantes. É provável que o diretore também roteirista Bobcat Goldthwait tenha propositalmente optado por essa neutralidade, para que o foco seja todo na mensagem: Frank tem longos monólogos nos quais critica a futilidade cultural na qual estamos inseridos, além de fazer ardentes análises sobre a sociedade estadunidense.
Apesar de ser considerado uma comédia, Deus Abençoe a América não possui muitas cenas dignas de gargalhadas e sua graça vem do humor negro, em momentos nos quais a violência é explorada de forma extrema e exagerada.
Um dos destaques positivos do filme é o uso da televisão como coadjuvante. Os vários programas e reality shows fictícios apresentados — que não são tão fictícios assim, devido a sua semelhança com nosso universo televisivo —, além de muito bem produzidos, trazem consigo uma crítica à parte.
O longa-metragem, no entanto, peca ao perder o ritmo gradativamente durante seus 105 minutos: o começo palpitante vai se dissipando para cenas previsíveis e um tanto clichês — que levantam mais uma vez o questionamento se essa não seria a opção do diretor. No entanto, não é nada que chegue ao ponto de prejudicar a qualidade do filme.
Aos que buscam questionamentos profundos misturados a sangue e violência gratuita, Deus Abençoe a América é uma boa indicação.