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Com troca de técnico a poucos meses da Copa, França busca título inédito

Sem tradição, França espera conquistar seu primeiro título da história na Copa do Mundo de 2023

A seleção feminina de futebol da França está, hoje, no Top-5 das melhores seleções do mundo de acordo com o ranking da FIFA, atrás dos Estados Unidos, da Alemanha, Suécia e Inglaterra. Com pouca tradição no futebol feminino, a seleção francesa tem conquistado as suas melhores atuações e campanhas em grandes competições nos últimos anos. Assim, busca conquistar seu primeiro título da história na Copa do Mundo Feminina de 2023.


Início e proibição

A França criou uma das primeiras equipes inteiramente feminina de que se tem registro, o Fémina Sport, em 1912. Isso foi anterior à criação da própria Federação Francesa de Futebol (FFF), que só ocorreu em 1915. Em 1918-19, o país também criou o seu primeiro campeonato de futebol feminino, organizado pela Fédération des Sociétés Féminines Sportives de France (FSFSF), e não pela FFF, que não quis aceitar a filiação de mulheres.

Com a seleção nacional formada ainda nessa época, sua primeira partida internacional foi em 1920, contra o time inglês Dick, Kerr Ladies, que representava a seleção não-oficial da Inglaterra. Na presença de 25 mil torcedores, a França foi derrotada por 2 a 0.

O futebol feminino, apesar de ser praticado, foi muito hostilizado nessa época, com acusações de que o futebol virilizava as atletas e de que colocava em risco a fertilidade das mulheres. Assim, durante o regime de Vichy, governo autoritário vigente durante a Segunda Guerra Mundial, em 1941, o futebol feminino foi proibido no país. Essa proibição durou até 1970, quando a FFF passou a integrar também as equipes femininas.

O primeiro jogo oficial da seleção francesa ocorreu em 1971, contra a Holanda, e terminou com uma vitória para as Bleues. Apesar disso, demorou para a equipe ter sucesso no futebol feminino, já que a França só apresentou uma evolução na modalidade recentemente:  participou de uma Copa do Mundo pela primeira vez apenas neste século, além de ter perdido vários outros grandes campeonatos.

Com a ascensão do Lyon, o interesse pelo futebol feminino no país aumentou. Um exemplo foi a conquista da Liga dos Campeões pelo time francês, em 2011, ano de Copa do Mundo, que contribuiu para que a mídia desse bastante atenção ao torneio.

Lyon ganhando a sua primeira Liga dos Campeões Feminina, em 2011 [Imagem: Reprodução/Twitter@UWCL]



Histórico da Seleção

A primeira Eurocopa em que a França participou foi em 1989, na terceira edição do torneio. Contudo, na primeira fase, perdeu o jogo de ida, contra a Itália, por 2 a 0. Na volta, Isabelle Musset fez um gol com um minuto de jogo, mas o time francês tomou a virada italiana, perdendo por 2 a 1.

As Bleues ficaram fora das próximas edições da Euro, em 1991, 1993 e 1995. Voltaram a aparecer no torneio somente em 1997. Porém, caíram logo na fase de grupos, ficando atrás da Suécia e da Espanha – esta última ficou à frente da França somente no saldo de gols. Apesar de uma campanha sem destaque, Angélique Roujas fez os quatro gols da seleção francesa na competição e ficou com a vice-artilharia do campeonato.

Na edição seguinte, em 2001, ficou em último lugar no seu grupo. O destaque francês foi Marinette Pichon que, com dois gols, ficou a apenas um de dividir a artilharia da Euro.

Em 2003, a França participou de sua primeira Copa do Mundo. Com quatro pontos, ficou atrás do Brasil e da Noruega, e não conseguiu avançar para a próxima fase. Pichon fez os dois gols franceses na competição.

Na Euro de 2005, mais uma vez o saldo de gols foi cruel com a seleção francesa, já que, nesse método de desempate, perdeu a segunda vaga do grupo para a Noruega, ambas atrás da Alemanha.

Fora da Copa do Mundo de 2007, o próximo grande campeonato que a França participou foi a Eurocopa de 2009. Pela primeira vez em sua história, as Bleues avançaram da primeira fase de um grande campeonato. Dessa vez, deram o troco na seleção da Noruega ao ultrapassá-la pelo saldo de gols e ficar com a segunda colocação do grupo, atrás da Alemanha. Nas quartas, um empate sem gols contra a Holanda levou a partida para os pênaltis, e o time francês foi derrotado por 5 a 4. Uma curiosidade é que mesmo acabando em terceiro no grupo, a seleção norueguesa foi mais longe do que a França no torneio, já que essa edição contou com a classificação das melhores terceiras colocadas, e o time nórdico só parou na semifinal.

Na Copa do Mundo de 2011 a França teve o seu melhor desempenho em uma grande competição até então: venceu dois jogos, passou em segundo no grupo, atrás somente da Alemanha, e enfrentou a Inglaterra nas quartas. Após um empate nos minutos finais, a seleção francesa ganhou da inglesa por 4 a 3 nos pênaltis. Chegando pela primeira vez nas semifinais de um torneio, perdeu para os Estados Unidos por 3 a 1. As Bleues ainda perderam a disputa pelo terceiro lugar, por 2 a 1, contra a Suécia, mas isso não apagou a campanha histórica para a França. O time foi destaque no ataque, sendo um dos melhores ataques da competição, mas também foi a pior defesa do campeonato, com dez gols marcados e sofridos.

Em 2012, a seleção francesa participou de seus primeiros jogos olímpicos. Vencendo dois jogos e ficando atrás apenas dos Estados Unidos, passou da fase de grupos para ter a sua vingança contra a Suécia nas quartas. Com uma virada, a França ganhou do time sueco, por 2 a 1. Em mais uma semifinal, perdeu para o Japão, por 2 a 1. Voltou a perder na disputa pelo terceiro lugar contra o Canadá, por 1 a 0, com um gol já nos acréscimos da partida. E, mais uma vez, figurou entre os melhores ataques e piores defesas, com onze gols marcados e oito sofridos.

Na Eurocopa de 2013, a França foi o maior destaque da fase de grupos, fazendo a melhor campanha geral, com nove pontos, após vencer seus três jogos. Porém, a decepção chegou logo nas quartas, já que o time francês empatou, em 1 a 1, com a Dinamarca, – equipe de pior campanha dentre as classificadas – e perdeu nos pênaltis, por 4 a 2.

Em 2015, na Copa do Mundo, as Bleues ficaram com a primeira colocação do seu grupo, após superarem a Inglaterra no saldo de gols, além do próprio confronto direto. Nas oitavas, um tranquilo 3 a 0 contra a Coréia do Sul fez o time francês avançar até às quartas. Nela, fez um confronto duro contra a Alemanha, tomando o empate, em 1 a 1, no final do jogo, e perdendo, por 5 a 4, nas penalidades.

Nas Olimpíadas de 2016, no Brasil, a França se classificou com apenas um ponto atrás dos Estados Unidos, presente em seu grupo. Contudo, perdeu logo nas quartas, para o Canadá, por 1 a 0. Na Euro de 2017, mesmo caminho: classificada em segundo do grupo – agora atrás da Áustria – e derrota, por 1 a 0, logo nas quartas – para a Inglaterra.

Em 2019, sediou a Copa do Mundo. Vencendo os três confrontos da fase de grupos, avançou em primeiro para as oitavas. Nela, teve um difícil jogo contra o Brasil, que precisou da prorrogação para ser decidido e dar a vitória, por 2 a 1, ao time francês. Nas quartas, enfrentou a equipe campeã da Copa anterior, os Estados Unidos. Depois de tomar dois gols de Megan Rapinoe, Wendie Renard ainda tentou a reação fazendo o gol francês, mas a partida acabou em 2 a 1 para as americanas. Renard foi o grande destaque da seleção francesa nessa Copa, com quatro gols marcados pelo time.

Sem participar das Olimpíadas de 2020, o próximo grande campeonato disputado foi a Euro de 2022. Com a primeira colocação de seu grupo, chegaram às quartas para enfrentar a então campeã europeia, Holanda. Na prorrogação, a França abriu o placar e venceu o jogo por 1 a 0. Porém, na semifinal, dois gols de Alexandra Popp acabaram com as chances de uma final inédita para o time francês, que perdeu por 2 a 1.


Momento conturbado

Os últimos meses foram muito conturbados para a seleção francesa: o clima com a treinadora francesa Corinne Diacre, que estava no cargo desde 2017, estava horrível, e muitas jogadoras já haviam criticado publicamente a técnica. Além disso, a craque e capitã do time, Wendie Renard, anunciou a sua aposentadoria da seleção, em fevereiro deste ano. A jogadora foi acompanhada por outras atletas, como as atacantes Katoto e Diani.

Um mês depois, com a técnica demitida e sob o comando do treinador Hervé Renard – que comandou a seleção da Arábia Saudita na Copa do Mundo de 2022, única a vencer  a campeã mundial Argentina durante o torneio -, Wendie retornou à equipe, novamente como capitã. “Fecho a cortina como se nada tivesse acontecido. Meu trabalho e objetivo é colocar essa equipe no caminho certo”, afirmou Hervé.




Além desses momentos turbulentos com a ex-técnica, meses antes da Copa, a FFF também passou por uma renúncia forçada do seu presidente Noël Le Graët, acusado de vários casos de assédio – sexual e moral – e sexismo enquanto ainda era o chefe da federação.


Vídeo sensacional

Um comercial da Orange France em apoio à seleção francesa repercutiu nas redes sociais, atingindo milhões de pessoas e surpreendendo todos com o final do vídeo. Nele, são mostrados gols da seleção masculina da França, com Mbappé, Griezmann, Giroud, Coman, entre outros; porém, da metade para o final, o vídeo mostra o seu brilho: os gols, na verdade, eram da seleção feminina da França, e foram editados para a propaganda.

Essa quebra de expectativa surpreendeu milhões de pessoas, que achavam estar vendo um gol do Mbappé, mas na verdade era da Cascarino, do time feminino da França. A ideia é fazer os torcedores franceses, que apoiam os Bleus – seleção masculina -, também apoiem as Bleues – seleção feminina.



Expectativa para a Copa do Mundo de 2023

Vindo para a Copa do Mundo como uma das seleções melhor ranqueadas, a França espera continuar as boas campanhas nas últimas edições – chegando nas quartas e até na semifinal, em 2011 -, ou até mesmo superá-las e chegar em uma final inédita.

Com ótimos trabalhos fora de sua terra natal – bicampeão da Copa Africana de Nações da CAF, com Zâmbia, em 2012, e Costa do Marfim, em 2015, além de ter comandado a vitória saudita sobre a Argentina durante a Copa do Mundo de 2022 -, o técnico francês Hervé Renard busca fazer mais um grande trabalho. “Na última edição, em 2019, a seleção chegou às quartas de final, então, temos de fazer melhor em 2023. Estamos entre as favoritas e temos de fazer jus a isso”, afirmou o treinador.

Adversária do Brasil na fase de grupos, a França tem Wendie Renard como principal nome e capitã da equipe. Com 141 partidas pela seleção, a defensora é impecável nas disputas de bola e sólida no jogo aéreo, chegando a se projetar para o ataque quando necessário para cabecear em direção ao gol, sendo uma excelente ameaça aérea, com 34 gols já marcados pela seleção.

Outros nomes importantes das Bleues são a goleira Pauline Peyraud-Magnin, que vem de uma temporada excepcional com a Juventus – entrando para o time do ano da liga italiana -; as meio-campistas Grace Geyoro – importante nas roubadas de bola, além de ter muita habilidade com a bola nos pés – e Kenza Dali – com a capacidade de ligar ataque e defesa; e a atacante Eugenie Le Sommer – maior artilheira da história da seleção, com 88 gols, tem o faro do gol, além de ser muito talentosa, fazendo a ligação com as alas graças a transições rápidas com toques de primeira.

*Imagem de capa: Instagram @equipedefrancef

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