No dia 24, às 3h, houve a estreia das seleções da Argentina e da Itália na Copa do Mundo de 2023. Com um jogo tenso e equilibrado, Itália se mostrou melhor no poder de criação de jogadas, e foi premiada com a aura da camisa 10 e lendária jogadora da Azzurra, Cristiana Girelli, brilhando nos minutos finais — já que precisou de apenas uma finalização no jogo para fazer o gol da vitória.
Pré-jogo e curiosidades
A Itália já era considerada um time emergente em 2019. Chegou com expectativas na Euro de 2022, mas ficou com uma das piores campanhas do campeonato. Apesar disso, viveu um bom momento antes da Copa, vencendo quatro dos últimos cinco jogos, além de empatar o outro.
A Argentina também contava com um histórico recente bom, com sete vitórias e um empate nos seus últimos oito jogos. Apesar disso, nunca chegou a ter muitas expectativas, e o time, que foi terceiro colocado na Copa América de 2022, espera conquistar a sua primeira vaga nas oitavas de final da Copa do Mundo em toda a sua história.
O jogo encerrou a primeira rodada do grupo G, que já contou com a vitória da Suécia em cima da África do Sul.
Antes desse confronto, as duas seleções já haviam se encontrado outra vez, no Mundialito do México, em 1971, na disputa pelo terceiro lugar do torneio. Na ocasião, a Itália goleou o time argentino por 4 a 0.
Escalações e esquemas táticos
A Itália foi a campo montada em um 4-2-3-1, com Francesca Durante no gol; Lisa Boattin, Cecilia Salvai, Elena Linari e Lucia Di Guglielmo na defesa; Giulia Dragoni e Manuela Giugliano no meio defensivo; Chiara Beccari, Arianna Caruso e Barbara Bonansea no meio ofensivo; e Valentina Giacinti no ataque. No jogo, Dragoni atuou mais no meio ofensivo e na criação de jogadas, invertendo de posição com Caruso algumas vezes — ou mesmo com ambas no meio ofensivo, enquanto que Giugliano continuava recuada.
Das quatro jogadoras da linha defensiva, apenas três atuavam realmente na defesa, já que Boattin avançava para o meio de campo e foi importantíssima na criação de jogadas do time e pro ataque como um todo, participando de praticamente todas as jogadas que envolviam o lado esquerdo do campo. Com a subida de Boattin, a meia esquerda Beccari também subia para o ataque ou se deslocava para o meio do campo, voltando para a sua posição original quando Boattin recuava.
Dessa forma, o time atuava, em momentos com a bola e de criação de jogada, em um 3-2-3-2 grande parte do tempo, com Caruso (principalmente) ou Dragoni fazendo a dupla no meio defensivo com Giugliano, Boattin completando a linha de três jogadoras no meio ofensivo, e Beccari fazendo uma dupla no ataque com Gianciti. Quando Giugliano era a única meia-campista na parte defensiva do campo, o time se montava em um 3-1-4-2, com Dragoni e Caruso participando do ataque. Na defesa, o time se formava do mesmo jeito em que foi escalado, e Giugliano fazia uma marcação mais forte, avançando para dar o bote.
Escalação da Itália [Imagem: Reprodução/Youtube/CazéTV]
A Argentina também veio montada em um 4-2-3-1, com Vanina Correa no gol; Eliana Stábile, Aldana Cometti, Miriam Mayorga e Sophía Braun na defesa; Lorena Benítez e Daiana Falfan no meio defensivo; Estefanía Banini, Florencia Bonsegundo e Romina Nunez no meio ofensivo; e Mariana Larroquette no ataque. O time argentino tinha muito menos variação tática do que o italiano e se comportava com essa formação basicamente durante muita parte do jogo.
Nas poucas vezes em que o time estava com a posse de bola no campo ofensivo, Braun ou Stábile avançavam para o meio-campo e deixavam uma linha de três atrás. Além delas, Falfan também subia um pouco, enquanto que Benitez continuava mais recuada. Assim, com muitos no meio-campo, alguma meia ofensiva ia para as pontas dar opção de ataque. Na defesa, o time se recuava, e como a atacante não marcava muito, as cinco jogadoras do meio-campo formavam uma linha defensiva, normalmente com Benitez um pouco mais atrás, às vezes até se juntando na linha de defesa, deixando uma linha de cinco — em alguns momentos de subida de Benitez, quem fazia o papel de primeira linha defensiva à frente da zaga era Falfan.
Escalação da Argentina [Imagem: Reprodução/Youtube/CazéTV]
Primeiro tempo: 0 a 0 mesmo com dois gols
A primeira boa chance da partida foi logo aos 1’, quando, após uma bola desviada para o meio da área, Larroquette dominou e tentou um voleio, que passou perto do gol. A primeira chegada de perigo do time italiano foi aos 4’, em que, após a goleira Correa afastar um escanteio no soco, a bola sobrou para Giugliano chutar de primeira, mas a bola parou na zaga argentina.
A Itália seguiu criando chances e, aos 9’, Giacinti teve uma oportunidade de finalização dentro da área, após erro da zagueira Cometti, que errou o tempo de domínio e deixou a bola passar. Contudo, o chute foi fraco, para a fácil defesa de Correa. Aos 15’, Caruso recebeu um belo passe de Boattin e chutou na entrada da área para fazer um golaço, mas houve marcação de impedimento da jogadora, o que anulou o gol italiano.
Ainda que o jogo estivesse bastante morno e equilibrado, sem grandes chances criadas para ambos os lados, os poucos ataques da partida eram praticamente todos do time italiano. Aos 42’ a Itália teve mais um gol anulado, agora com Giacinti recebendo um ótimo passe enfiado que a deixou na cara do gol, e, deslocando a goleira, chutou para marcar o ponto italiano, mas mais uma vez a linha de impedimento foi essencial para manter o placar zerado.
Nos acréscimos, a Argentina voltou a crescer no jogo, fazendo uma marcação de muita pressão na linha de zaga italiana, o que rendeu ao time algumas roubadas de bola ou mesmo erros forçados da Azzurra. Apesar da intensidade, o time não conseguiu criar nenhuma boa chance até o fim do primeiro tempo.
Segundo tempo: a aura da camisa 10 italiana
Em uma cobrança de falta para a Argentina, aos 49’, Stábile cobrou fechado, na segunda trave, obrigando a goleira Durante a tirar a bola com um tapa. A próxima boa chance do jogo só aconteceu aos 68’, quando a capitã italiana Bonansea conseguiu roubar uma bola antes do meio do campo e deu uma arrancada até perto da área, quando sofreu a falta. Cobrada aos 69’ por Giugliano, a bola bateu na rede em cima do gol, levando perigo à goleira argentina.
Aos 72’ a cobrança de falta que levou perigo foi do lado contrário: com Stábile na cobrança, bola foi fechada no primeiro pau, mas Durante tirou mal, com soco, e a bola foi no pé de Larroquette. Com muita velocidade na bola, a atacante não conseguiu dominar e a bola saiu na linha de fundo — caso conseguisse o domínio, ela teria o gol meio aberto para finalizar, com a goleira caída no chão. Apesar do perigo, o lance não valeu, já que foi marcado falta de Braun em cima da goleira italiana.
Aos 82’, a bola sobrou, após uma dividida, para Giada Greggi, que chutou de primeira e de fora da área, mas Correa encaixou o chute. No minuto seguinte, ocorreu um dos lances mais importantes da partida, já que Dragoni, destaque no primeiro tempo mas apagada no segundo, foi substituída por Cristiana Girelli, experiente na seleção — atleta que mais tem jogos, com 85, e gols, com 53, com a Azzurra até então. Acontece que a jogadora estava com sua aura em dia, já que poucos minutos depois, aos 87’, ela recebeu um cruzamento de Boattin na área e, de cabeça, encobriu a goleira Correa para abrir o placar da partida.
Cristiana Girelli comemorando o seu gol contra a Argentina [Imagem: Reprodução/Instagram/@fifawomensworldcup]
A Argentina tentou reagir e, aos 90+3’, Bonsegundo bateu uma falta muito perigosa, em que Durante foi buscar o chute para fazer uma bela defesa. O time seguiu em cima, mas concedeu o contra-ataque à equipe italiana. Nele, aos 90+4’, Sofia Cantore teve a oportunidade de passar para Bonansea, que estava chegando livre na entrada da área, mas a jogadora preferiu arriscar o chute, que foi pra fora. Antes do fim do jogo, aos 90+7’, a Itália ainda teve uma boa oportunidade em uma cobrança de falta: o time tentou fazer cera, mas após perder a bola, Boattin recuperou-a novamente e, após passar por três jogadoras argentinas, chutou no gol para a boa defesa de Correa.
Comentários
O jogo foi bem equilibrado do início ao fim — tanto que ambas as seleções ficaram com quase 50% de posse de bola na partida, com 53% para a Azzurra e 47% para a Argentina. Porém, a Itália mostrava mais objetividade nas jogadas e sabia melhor o que fazer com a bola — acabou o jogo com quatro finalizações certas dentre 12 feitas, enquanto que seu adversário fez cinco chutes na partida, acertando no gol apenas um. No segundo tempo o rendimento italiano caiu um pouco, mas a seleção italiana contou com uma jogadora decisiva, a sua camisa 10 Girelli, para sair do jogo com a vitória.
Do lado argentino, as jogadoras mostraram muita habilidade durante o jogo inteiro, com algumas lindas jogadas em que mostravam dribles, fintas, gingas e canetas, mas faltou uma boa e articulada criação de jogadas ao time, e essa falta importante no jogo argentino dificultou a vida dela no ataque, que acabou não tendo muitas oportunidades durante a partida.
Destaques
O time argentino não contou com nenhum grande destaque no jogo. Talvez uma das únicas que mereça uma citação seja Estefanía Banini, que teve mais de 75% de precisão em seus passes, com 40 certos, ajudando o time nas suas poucas jogadas criadas. A zagueira Aldana Cometti, que está jogando a sua quarta Copa do Mundo, foi importante na defesa, conseguindo fazer boas interceptações e cortes.
Já o time da Itália contou com alguns destaques. Um deles foi Lisa Boattin, que participou intensamente no lado esquerdo do campo italiano e foi a principal fonte de criação de jogadas do time. Com mais de cem toques na bola, quase todas as jogadas do time passavam pela jogadora, já que Boattin atuou o jogo inteiro como uma lateral avançada, sem formar uma linha de quatro defensiva, e sim compondo o meio-campo. Assim, ainda foi a responsável pelo cruzamento que deu origem ao gol da vitória da partida, dando a única assistência do jogo.
Logicamente, outro destaque é a própria autora do gol, Cristiana Girelli, que mesmo tendo jogado apenas quinze minutos, foi eleita a melhor jogadora da partida, já que precisou de apenas uma finalização para dar a vitória à Azzurra.
Cristiana Girelli ganhando o prêmio de Player of the Match [Imagem: Reprodução/Instagram/@fifawomensworldcup]
Além delas, Giulia Dragoni, de apenas 16 anos – até o momento do jogo, era a jogadora mais jovem a atuar nesta Copa; depois, foi ultrapassada pela coreana Casey Phair, alguns meses mais jovem –, fez um excelente primeiro tempo, ajudando em muito na criação de jogadas do time italiano, além de ter uma ótima precisão em seus passes (20 passes certos, com mais de 90% de aproveitamento). Apesar disso, a jovem fez um segundo tempo apagado, e foi substituída pela própria Girelli. Elena Linari, zagueira, também foi importantíssima no sistema defensivo da equipe, com várias boas interceptações.
Futuro do grupo
A vitória italiana foi extremamente importante para o time sonhar com a vaga nas oitavas. Isso porque o grupo conta também com Suécia, já com três pontos, e África do Sul, que equilibrou o jogo contra as favoritas suecas e mostraram um bom futebol. Assim, a Argentina se complicou, e vai tentar uma vitória no próximo jogo para seguir com chances de conseguir a sua primeira classificação da história das Copas.
Seu próximo duelo será contra a África do Sul, às 21h do dia 27, horário de Brasília. A Itália enfrentará a Suécia em um confronto que pode definir o líder do grupo, no dia 29, às 4h30.
Imagem: Reprodução/Instagram @azzurrefigc