Por Diego Coppio (diegocoppio@usp.br)
Uma finalização no gol durante todo o jogo foi o suficiente para garantir a primeira vitória filipina em uma Copa do Mundo. Agora, as Filipinas — primeiras estreantes a marcar nesta edição — dependem só de si para conseguir a classificação histórica para as oitavas de final.
Preparativos e expectativas
Ambas as equipes mantiveram as escalações de suas estreias. A Nova Zelândia foi à campo com duas linhas de quatro, para que Hassett e Indiah Paige-Riley tivessem espaços para atacar e recompor a defesa rapidamente. Do outro lado, as Filipinas tiveram uma preocupação defensiva maior, com três zagueiras e as laterais atuando como alas.
A Nova Zelândia chegou com favoritismo por ter vencido a Noruega no primeiro jogo. Caso vencessem as Filipinas, uma derrota norueguesa para a Suíça dali a algumas horas garantiria a inédita classificação para as oitavas de final.
Já às Filipinas, uma derrota significaria a eliminação do torneio em caso de vitória suíça sobre a Noruega. Mas uma vitória a levaria à liderança do grupo junto com Nova Zelândia e Suíça, deixando a decisão para a última rodada.
Um primeiro tempo de surpresas
Desde o apito inicial, ficou evidente que a proposta das anfitriãs era ter a posse e atacar pelos lados do campo contra uma defesa filipina compacta que cedeu poucos espaços.
O jogo se manteve assim durante os primeiros 15’, quando a Nova Zelândia chegou a ter 81% de posse de bola, com boas chegadas de Indiah Paige-Riley e Wilkinson, ainda sem levar grande perigo à goleira filipina.
Mas ao contrário da partida contra a Suíça, as Filipinas descompactaram seu jogo e subiram as linhas gradualmente, forçando erros de passe e jogadas precipitadas da Nova Zelândia.
A mudança de postura gerou efeito imediato: aos 24’, após cobrança de falta e bate e rebate na área das anfitriãs, Bolden subiu no meio de três defensoras e cabeceou à queima-roupa, marcando o primeiro gol das Filipinas em uma Copa do Mundo.
Bolden subiu mais alto que as três marcadoras no lance para entrar para a história das Copas [Reprodução/Twitter: @PilipinasWNFT]
Engana-se quem pensa que as Filipinas se retrancaram com a vantagem. Ao contrário, o time impôs pressão à saída de bola das neozelandesas, que sentiram o baque e tiveram dificuldade para criar jogadas logo após o gol.
Aos 33’, retomando o controle do jogo, a Nova Zelândia desperdiçou a chance do empate após Hand receber desmarcada na área e chutar para fora. Em nova chance aos 38’, Bowen também finalizou sem levar perigo à meta filipina. No último minuto, Percival ainda acertou uma finalização fraca para a defesa da goleira McDaniel.
Segundo tempo
A treinadora Jitka Klimková promoveu duas alterações no intervalo: Chance e Longo nos lugares de Indiah Paige-Riley e Hassett. As mudanças buscavam uma melhora no lado ofensivo neozelandês, com Chance cobrindo o lado esquerdo e realocando Hand pela direita, espalhando a defesa filipina.
Agora com um trio ofensivo, a Nova Zelândia passou a criar mais chances e impor seu domínio ao jogo. Aos 57′, Wilkinson antecipou as zagueiras e chegou com muito perigo por cima, mandando a bola por cima do gol.
Aos 64′, a Nova Zelândia teve sua chance mais perigosa até então. Chance enxergou o deslocamento de Hand pelo meio e lançou para a atacante, que superou as zagueiras e chutou na trave, voltando para a goleira, que só observou o lance.
O volume ofensivo da Nova Zelândia foi recompensado aos 68′ pelo gol de Hand, anulado pelo VAR devido à condição irregular de Wilkinson, que fez ótima jogada, mas inválida.
A partir daí, as Filipinas reequilibraram o jogo. A Nova Zelândia sentiu a anulação do gol, e as alterações promovidas pelo técnico Stajcic renovaram o fôlego filipino. As anfitriãs ainda tinham a posse, mas de maneira desorganizada, deixando as Filipinas confortáveis na partida.
A Nova Zelândia ainda teve chance nos acréscimos, com chute perigoso de Jale — que entrou no lugar de Percival aos 82’ — mas a goleira McDaniel estava muito bem colocada no lance.
A goleira Olivia Davies-McDaniel foi o grande destaque da partida, fundamental para a vitória filipina [Reprodução/Twitter: FOXSoccer]
Destaques
As anfitriãs foram melhores durante boa parte do confronto, mas com pouca eficácia: tiveram cinco finalizações nos primeiros 34 minutos, mas nenhuma na meta adversária.
A Nova Zelândia, que entrou como azarona contra a Noruega, não soube lidar com o favoritismo no segundo jogo, muitas vezes afobadas e desorganizadas.
Apesar do começo apagado, com destaque negativo para Indiah Paige-Riley — que fez ótimo jogo na estreia —, as alterações promovidas por Klimková no intervalo reviveram o time, que passou a atacar com mais volume principalmente pelo lado esquerdo com Chance.
A centroavante Wilkinson foi o grande destaque neozelandês, chegando com perigo no ataque e demonstrando intensidade durante os 90 minutos.
Pelo lado filipino, o grande destaque foi a goleira McDaniel, fundamental para segurar a vitória. As Filipinas não fizeram a partida dos sonhos, mas tiveram a efetividade que faltou à Nova Zelândia: durante os mesmos 34 minutos, as visitantes finalizaram uma vez ao gol e abriram o placar.
Méritos também para a atacante Bolden, que assumiu a liderança na artilharia histórica do país, com 23 gols.
E agora?
O empate entre Suíça e Noruega embolou de vez o grupo A. A Suíça ainda lidera com quatro pontos, seguida de Nova Zelândia e Filipinas com três, e a Noruega com um ponto.
Surpreendendo as expectativas, as Filipinas têm grandes chances de classificação, já que na próxima rodada pegam a lanterna Noruega, que até agora não deu provas de que poderá estar nas oitavas de final. A crise gerada por Graham Hansen certamente não ajuda.
A Nova Zelândia tem um caminho mais difícil: terá que vencer a líder Suíça para não depender de outros resultados. Uma tarefa árdua, mas certamente possível, principalmente com o apoio de sua torcida jogando em casa.
Ficha técnica
Nova Zelândia: Esson; Riley, Bowen, Stott, Bott; Hassett (Longo), Percival (Jale), Steinmetz, Paige-Riley (Chance); Wilkinson, Hand. Técnica: Jitka Klimková
Filipinas: Davies-McDaniel; Harrison, Beard, Cowart (Bugay), Long, Barker (Annis); Eggsevik (Flanigan), Sawicki, Quezada (Randle); Bolden (Frilles), Guillou. Técnico: Alen Stajcic
Imagem de capa: Reprodução/Twitter @FOXSoccer