Neste sábado ocorreu o terceiro e último evento organizado pela Jornalismo Júnior em 2019. “Narrativas Audiovisuais: ver, ouvir e compartilhar” reuniu palestrantes que falaram sobre, como o próprio nome diz, audiovisual, divididos em quatro modalidades – áudio, fotografia, mídias sociais e vídeo.
Desde a divulgação interna sobre o tema do evento, já fiquei ansiosa. Como ex-repórter de Audiovisual, desenvolvi uma profunda paixão por essa área, sobretudo a fotografia, talvez um dos fascínios preexistentes que me levaram ao jornalismo. Mas áudio também chama cada vez mais minha atenção… Depois de editar três podcasts jotanos e gravar mais dois, comecei a reparar mais nessa forma de fazer jornalismo.
Agora, repórter de Comunicação Visual, fui uma das responsáveis pela produção do cartaz de divulgação. Desde que a ideia da arte se formou, criei um amor maior pelo evento, quase um amor materno. Eu sentia imensa satisfação de poder contribuir com algo em que acredito indubitavelmente.
Por isso, quando surgiu a oportunidade de escrever uma impressão sobre o evento, não pensei duas vezes antes de me candidatar. Ok, eu pensei sim. Com graduação e muitos projetos atrasados, deveria me controlar. Mas não pude resistir. Não há coisa melhor do que escrever sobre aquilo que a gente ama.
Então aqui estou eu para escrever sobre o que achei do evento de jornalismo audiovisual. Conversei com cinco palestrantes e duas pessoas externas ao evento para ver também as suas perspectivas.
Antes de o evento começar, encontrei três profissionais de jornalismo em áudio conversando, Isabella Menon, Roxane Ré e Renan Sukevicius, e lhes perguntei o que estavam esperando do evento.
— A gente tava falando sobre isso agora — eles disseram e riram.
— São profissionais que fazem coisas muito parecidas, mas em lugares diferentes — disse Renan.
— Acho que o bacana é isso. Hoje você tem um milhão de formas de fazer áudio e audiovisual: podcast, programa ao vivo, matéria escrita com áudio… A gente vai mostrar um pouco como as narrativas em áudio ganharam um espaço enorme e vêm substituindo até o rádio ao vivo mesmo.
Após falar isso, Roxane comenta sobre a tendência do on demand, em que a pessoa escuta na hora que pode ou que interessa. Segundo a radialista, é um jeito de fazer jornalismo com muita amplitude e um milhão de possibilidades. Embora tenha demorado um pouco para a onda do podcast chegar no Brasil, chegou com uma força incrível. “Ele consegue, desse jeito, se aproximar do público mais jovem”.
Renan comparou os podcasts com radionovelas, que deram origem aos podcasts narrativos:
— Essa possibilidade de criar narrações em áudio e vender como uma coisa nova é muito legal.
— É, e até o jornal, porque eu acho que o nosso público alvo é bem mais velho. O público do podcast é muito fiel, a gente tem um engajamento de 80%, 75% até o final. Para pessoa ler a matéria até o final é muito difícil, mas com áudio é diferente — Isabella acrescentou.
— E por quê? Porque você consegue contar uma narrativa em áudio como se você estivesse ali na frente da pessoa. E tem também esse caráter episódico, é como se fosse uma série — Roxane comentou.
Quando Débora Freitas chegou à roda de conversa, completou com um ponto interessante:
— Eu gosto do caráter comunitário que o rádio tem, eu defendo isso com unhas e dentes. E eu gosto de fazer o “buraco de rua”, aquilo que atrapalha a Dona Maria, o Seu João, coisas ligadas a programas da cidade.
Depois de conversar com essas quatro pessoas, senti que estava pronta para o evento da Jornalismo Júnior.
Narrativas em áudio
As pessoas dessa mesa foram Conrado Corsalette (Nexo), Débora Freitas (CBN), Isabella Menon (Folha de S.Paulo), Renan Sukevicius (Folha de S.Paulo) e Roxane Ré (Rádio USP).
No início, falaram sobre a importância de saber qual é o melhor formato para cada conteúdo a ser transmitido. Algumas informações, por exemplo, são muito melhor transmitidas em um gráfico do que em “um texto de 100 linhas”, como disse Conrado Corsalette, mas também pode ocorrer o contrário. Há temas que se adequam melhor ao áudio.
Acho importante mencionar que estava muito ansiosa para ver – e, principalmente, ouvir – o Conrado Corsalette. Gostava muito do Politiquês, seu podcast de política, e agora escuto bastante o Durma com essa. Confesso que foi uma sensação estranha vê-lo e cumprimentá-lo com um aperto de mão antes da palestra – não tivemos tempo para uma entrevista em razão do seu atraso. Estava tão acostumada com aquela voz falando comigo que mal havia parado para pensar que pertencia a um corpo.
Um importante ponto comentado foi a ascensão do podcast na atualidade, sobretudo entre jovens. Um dos motivos para tal é a intimidade adquirida com jornalistas do áudio, sobretudo em função dos fones de ouvido. Parece que há uma voz falando diretamente com a gente. Além disso, é possível ouvir podcasts enquanto fazemos outras coisas, como lavar a louça, ou durante o trajeto em transportes públicos. E o fato de podcasts serem on demand facilita esse processo: nós podemos escolher o podcast de acordo com o tema do nosso interesse e o tempo adequado ao que vamos fazer no momento.
A primeira mesa trouxe um grande aprendizado, superando as minhas altas expectativas. Poder ver profissionais que utilizam sua voz para fazer jornalismo foi, no mínimo, uma inspiração, além de uma forma de sair da zona de conforto.
Depois de abrirem um momento para perguntas, saí um pouco do auditório à procura de alguém que realizaria a próxima palestra. Encontrei Danilo Borges, fotógrafo de moda e maquiagem e criador da ABSOLUTMAG, primeira revista online de moda. Ele me disse que seu tipo de fotografia é artístico e mais voltado ao comercial – muito diferente, portanto, das fotografias que eu curto. Enquanto eu admiro o espontâneo, algo no estilo Reuters, ele trabalha com fotografias montadas, quase como uma obra de arte. Embora não fosse minha preferência, não desvalorizei seu trabalho.
Narrativas em foto
Nessa mesa, estiveram presentes Danilo Borges (ABSOLUTMAG), Débora Klempous (@deboraklempous), Jéssica Mangaba (@mangabajessica) e Luli Radfahrer (ECA-USP). Era o momento que eu mais esperava de todo o evento. Sempre achei fotografia muito interessante, e trazer referências profissionais é muito importante para a nossa formação.
A fotografia foi discutida como um recorte, uma interpretação da realidade, sendo seu contexto essencial para a interpretação. Essa, no entanto, é aberta, e não se pode ter controle do que a imagem vai passar.
Algo que me chamou a atenção foi o destaque que fizeram ao treino do olhar, e não somente da técnica, a qual deve estar ligada à “ideia”, ou seja, ao conteúdo. Por isso, o estudo fotográfico é dinâmico, sendo importante desenvolver uma autocrítica e constantemente estudar especialistas da área para poder evoluir. A técnica, como foi dito, “é só o ponto de partida”.
Outra questão que me interessou bastante foi proposta pela Débora: quando você vai fotografar, as pessoas sabem que você está lá com a câmera. Não adianta achar que a máquina te deixa invisível e que ninguém está reparando em você. Eu ainda sinto um grande desafio ao lidar com a alteridade quando procuro retratar alguém em uma imagem. Para resolver esse problema, Débora propôs algumas dicas, como pedir autorização à pessoa fotografada para publicar a foto. Isso pode evitar, inclusive problemas judiciais.
Um possível obstáculo da fotografia na atualidade é a existência de “muitos canais de exibição”. São publicadas cada vez mais fotos – não necessariamente com qualidade –, então por que reparariam nas suas? Mas, ao mesmo tempo, isso possibilitou a democratização dessa expressão artística, facilitada pela maior acessibilidade de equipamentos e o aumento da “educação visual” na sociedade.
Por isso, para montar um bom portfólio no meio da abundância de informação visual, Luli recomendou exibir poucas e boas fotos. Além disso, é importante ter portfólios paralelos e separados, com divisões para diferentes modalidades.
Houve, também, algo inesperado na palestra: a menção ao gif e ao meme. Enquanto o primeiro foi retratado como um intermediário entre a fotografia e o vídeo, o segundo foi denominado “charge fotográfica”. Ambos possuem um potencial revolucionário na comunicação.
Coffee break
A princípio, não planejava falar sobre o lanche que tivemos no intervalo, mas foi tão maravilhoso que não posso deixar em branco. A salada de frutas e os sanduíches de abobrinha conquistaram o meu coração.
Durante o coffee, conversei com Helena Málaga, professora de cursos abertos de audiovisual, e perguntei o que estava achando do evento.
— Sob a minha ótica está muito legal. Eu estava dando aula na ECA sobre audiovisual e soube do evento quando vi o outdoor de divulgação na frente do departamento de Jornalismo e Editoraçaõ da ECA e eu falei “Olha, narrativas audiovisuais, será bem interessante ver”.
— Considerando a área do audiovisual, você gostou do evento? — eu perguntei.
— Sim, foi muito plural, bem legal a abrangência dos convidados. Infelizmente, eu sei que foi por problema, o Jefferson não veio, a visão dele seria bem interessante sobre a questão de fotografia. Mas foi muito bacana, muito plural, eu quero muito ver as outras palestras. A montagem das mesas está bem bacana.
Depois ela comentou sobre as falhas no som do microfone.
— Tem que resolver isso aí na hora, não pode esperar. Mas, assim, é só um detalhe, tá show de bola, o coffee tá maravilhoso…
Fiquei feliz por não consumir apenas café – a única opção vegana geralmente presente em coffee break. Pude comer muitas frutas e sanduíches de abobrinha, além de beber chá, suco de manga e água saborizada com hortelã. As outras pessoas presentes também elogiaram os lanches.
Narrativas nas mídias sociais
Sinceramente, não esperava muito dessa mesa. Todo mundo sabe mexer nas redes sociais, elas fazem parte da nossa rotina, então por que se aprofundar no assunto? Mas vi que havia me enganado. Justamente porque as redes sociais fazem parte das nossas vidas, é que precisamos nos aprofundar no assunto. Como jornalistas, devemos pensar em formas de disseminar a informação – e que forma melhor que o Twitter e o Instagram?
As jornalistas falaram sobre a importância de usar blogs como portfólio e conhecer o público para saber qual conteúdo é de seu interesse. Isso gera maior repercussão. Muito mais importante do que o número de seguidores e likes é o engajamento do público. Nesse sentido, não há problema em possuir um público nichado, pois, embora seja pequeno, é fiel – o que foi mencionado também na primeira mesa.
As profissionais também ressaltaram que, embora a sociedade seja movida por números, é preciso pensar na qualidade do conteúdo. A partir disso, tive uma reflexão filosófica sobre o uso das redes sociais e como constantemente utilizamos máscaras para gerar apenas impressões positivas de nós mesmas(os). É preciso transcender essa tendência para usar a internet visando o interesse público e divulgar informações relevantes para a sociedade.
Narrativas em vídeo
Para finalizar o evento, Laura Cassano (repórter), Leonardo Leomil (editor de TV – e também fundador da Jornalismo Júnior) e Pedro Ortiz (ECA-USP) compuseram a última mesa. A discussão não foi referente à produção de vídeo em si, mas ao jornalismo de um modo geral, principalmente com os dilemas da contemporaneidade.
Laura Cassano realizou uma apresentação sobre apuração jornalística. Primeiramente, disse que “jornalismo é contar histórias”, e que a narrativa não precisa ser necessariamente cronológica. É preciso se aprofundar nesse exercício e tomar cuidado com falsas impressões, pois “fazer matéria difícil é fácil. O difícil é fazer matéria fácil”. Além disso, numa narrativa audiovisual precisamos saber unir a imagem ao conteúdo.
Leonardo Leomil acredita que a produção audiovisual está mudando com a revolução tecnológica. As redes sociais auxiliam na distribuição da informação, porém também podem disseminar mentiras ou fatos pouco apurados. E aí está o papel jornalístico. A partir da “ética do discurso”, de fazer um trabalho profissional, tirando o público de sua zona de conforto.
Pedro Ortiz complementou: “Não existe democracia sem um bom jornalismo, assim como não existe jornalismo sem um ambiente democrático”. É importante possuir uma visão otimista e compreender o jornalismo como a profissão do diálogo.
Após o evento, conversei com Andressa Navarro, estudante de jornalismo da Universidade Metodista. Perguntei pra ela se poderíamos fazer uma entrevista rápida.
— Posso falar já?
— Sim, já tô gravando.
— Ah, sabia! Jornalista é tudo igual!
Andressa disse que gostou bastante do evento, não só desse como dos de outras universidades. Para ela, é uma oportunidade de ver o que está acontecendo na profissão, de fato.
— A gente não está lá, a gente quer estar lá, então ver o que está acontecendo lá é um aprendizado muito grande.
Ela também acha que ter esse contato com pessoas que um dia estiveram no nosso lugar e entenderam nossas aflições pode nos dar um pouco mais de segurança, “um pouco mais de noção do que a gente vai encontrar lá na frente”.
— O evento foi muito bom nesse sentido.
— Teve alguma mesa de que você mais gostou?
— Acho que a última, de vídeo, mas eu achei que foi muito importante a mesa das mídias digitais porque, querendo ou não, mesmo que a gente queira trabalhar em alguma área específica, o digital está aí. Feliz ou infelizmente, você precisa estar inserida nesse ambiente digital, então é muito importante por esse aspecto.
Voltei para casa refletindo sobre como o evento me fez expandir os horizontes do jornalismo e considerando, cada vez mais, a possibilidade de investir na divulgação da informação além do texto.