por Ana Luísa Fernandes
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Leviatã (Leviathan), filme russo que estreia no Brasil no dia 15 de janeiro, acabou de ganhar o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira e provavelmente estará na lista de selecionados ao Oscar de melhor filme estrangeiro, que é divulgada também do dia 15. O título do drama dirigido por Andrey Zviaguintsev faz referência não só ao monstro marinho bíblico, uma criatura gigantesca que pode aparecer na forma de baleia, mas principalmente ao Leviatã de Thomas Hobbes, que governaria o Estado com todo o poder concentrado em suas mãos, contando com a abdicação da liberdade individual de cada membro da sociedade.
O filme é um retrato da Rússia contemporânea corrupta. Kolia (Alexeï Serebriakov) vive em uma pequena cidade do litoral com o seu filho e sua mulher, Lilya (Elena Lyadova). Ele pede ajuda ao seu antigo amigo e advogado Dmitri (Vladimir Vdovitchenkov) de Moscou, já que o prefeito quer tomar as suas terras e destruir a sua casa de modo injustificável, para benefício próprio. Acompanhamos os acontecimentos da família e de amigos, que encontram na tradicional vodca russa refúgio e diversão. Um dos momentos mais icônicos do filme é a parte em que vários homens se reúnem para dar tiros em quadros com fotos de personagens históricos relacionados à antiga União Soviética como Gorbachev e Lenin. Dentro desse drama, ainda ocorre um de cunho pessoal na vida de Kolia, que envolve o amigo, a mulher e o filho.
A história é jogada ao telespectador sem muita explicação: ela só vai fazendo sentido ao longo do filme. Prova disso é que muitas vezes você se assusta com algum novo fato, do qual jamais desconfiara. Isso aumenta a semelhança do roteiro com a realidade, fazendo parecer que aquela mesma história com aquelas mesmas pessoas esteja realmente acontecendo em alguma cidadezinha russa. As imagens do litoral russo, das montanhas e da natureza são estonteantes. De uma forma você acaba percebendo que essas cenas também fazem parte da construção da história: o mar revolto, as cachoeiras escondidas e até mesmo a carcaça de uma baleia na praia. A composição do visual do filme é impecável e bela.
A densidade é reforçada pela força da língua russa e pelas ótimas atuações, principalmente dos atores que interpretam Kolia e sua esposa Lilya. O final gera uma forte dúvida proposital. É o tipo de pergunta que te faz querer ligar para o diretor e implorar por um esclarecimento. Talvez seja esse um dos grandes trunfos de Leviatã: as duas horas e vinte e um minutos podem paracer longas no começo, com uma história que não evolui e muito e tem um ritmo inconsistente. Mas acredite, quando você for capturado pelo roteiro vai lamentar quando o filme acabar.