Por Maria Luiza Negrão (marialuizacnegrao@usp.br)
A Mpox é uma doença zoonótica viral, transmitida para humanos por meio do contato com pessoas, animais ou materiais infectados pelo mpox vírus (MPXV). Apesar da baixa transmissão da doença fora do continente africano, o Brasil já superou a marca dos mil casos em 2024, e apresenta 16 mortes confirmadas desde 2022.
A doença pode ser prevenida por meio da vacinação, mas dados da pesquisa “Análise da situação vacinal contra a Mpox em pessoas vivendo com HIV/Aids: estudo ecológico”, publicada em 25 de outubro, constata que apenas cerca de 18% das Pessoas Vivendo com HIV ou AIDS (PVHA) se vacinaram no Brasil.
A doença
A Mpox tem como principais sintomas febre, dores de cabeça e no corpo e erupções cutâneas. Ela foi declarada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) no dia 14 de agosto deste ano.
As PVHA, em razão da imunodeficiência, podem evoluir para formas graves da Mpox. Também são grupos de risco para a doença os profissionais que trabalham em laboratório de exposição direta ao Orthopoxvírus — gênero científico do vírus da Mpox. Pessoas que tiveram contato direto com fluidos e secreções corporais de pessoas suspeitas, prováveis ou confirmadas para Mpox têm grande risco de contaminação.
A campanha de vacinação organizada pelo Ministério da Saúde é focada nesses grupos. Quaisquer outras pessoas que não se encaixem em uma dessas categorias não podem se vacinar contra a Mpox — isso porque a disponibilidade das doses é restrita e, por isso, a maior parte das vacinas estão sendo enviadas para regiões com maior endemicidade, como a República Democrática do Congo.
Em entrevista para a Jornalismo Júnior, a pesquisadora Núbia Tavares relata que a motivação inicial para a pesquisa surgiu por causa do “percentual considerável de casos notificados como suspeitos ou confirmados para a Mpox” em PVHA.
Núbia ainda afirma que “apesar da maior concentração de casos no continente africano, houve persistência de casos confirmados aqui no Brasil. E o risco de evolução para as para as formas graves da doença, sobretudo para os grupos mais vulneráveis — como é o caso das pessoas vivendo com HIV ou AIDS — reforçam a necessidade da vacinação”.
Discrepâncias na proteção vacinal
A pesquisa aponta, também, que a região sudeste do Brasil é a mais imunizada — são, aproximadamente, 39% do público-alvo. Já a região em que menos pessoas se vacinaram é a sul, com 3,5%. Além disso, os dados indicam que as mulheres têm, proporcionalmente, uma cobertura vacinal ainda menor: do total de vacinados no sudeste, por exemplo, 96,6% são homens e apenas 3,4% mulheres.
No total, oito em cada dez Pessoas Vivendo com HIV ou AIDS não se vacinaram. Para Núbia, o aumento da cobertura vacinal deve ser obtido a partir da realização de busca ativa para captação do público-alvo para as vacinas.
*Imagem da capa: Wikimedia Commons