Não Olhe (Look Away, 2018) poderia ser um filme lembrado negativamente pelos espectadores ao longo dos anos, mas é mais provável que ele nem seja lembrado. A trama se passa no Canadá e segue Maria (India Eisley), uma garota que não tem o menor motivo para sofrer bullying e não ter amigos, sofrendo bullying e não tendo amigos. Rica e bonita, ela ainda tem que aturar seu rigoroso pai e sua complacente mãe, até que, no ponto máximo do desespero, decide trocar de vida com seu reflexo, que tem uma personalidade muito mais assertiva que a dela.
É uma premissa que até levanta boas expectativas do público em geral. Mas o que menos falta neste mundo são filmes de terror com ideias intrigantes, e a ausência realmente são de personagens profundos e roteiros que façam jus a dita ideia. Ou que pelo menos façam algum sentido.
Óbvio, é o caso de Não Olhe. Pra começar, tudo que acontece antes da troca é um desastre. O filme se esforça em mostrar para nós que a vida de Maria é terrível e que a proposta de troca-lá com seu reflexo – casualmente chamado Airam – é plausível, mas acaba errando a mão. Um bully que recebe muita atenção para alguém que não tem a menor profundidade ou um desfecho notável, uma “amiga” tão imprevisível que morre e não sabemos se sentimos pena ou satisfação, e um pai que a cada cena muda de personalidade são alguns dos ingredientes dessa primeira parte do filme.
Depois da troca o filme melhora, então? Não. Se antes era um desastre, a segunda metade de Não Olhe é o apocalipse. Airam toma as rédeas da trama e começa a fazer tudo o que Maria – supostamente – queria fazer. Ela quebra o joelho de seu bully com um taco de hóquei e não recebe qualquer punição por isso, mata a sua amiga de um jeito completamente insultante a qualquer ser que pensa e depois mata o namorado da falecida por um motivo tão questionável quanto o fato de eles ficarem juntos um dia depois da morte.
Tudo isso até poderia ser perdoável se o roteiro permanecesse do jeito que era: Airam seria a versão desprovida de escrúpulos de Maria. Mas não é bem assim que Não Olhe termina. Executando uma última atrocidade – que nada tinha a ver com as outras – o reflexo completa sua “missão” e segue para a última cena, única parte do filme que vale o tempo dos espectadores.
Não Olhe é um daqueles filmes que levantam inúmeras perguntas. Por que matar todas aquelas pessoas antes? Por que tanto foco no bully? O que ela fez com o corpo do namorado? Mas a mais importante de todas: como esse filme chegou no circuito comercial?
Não Olhe estreia dia 28 de fevereiro nos cinemas. Confira o trailer:
por Bruno Menezes
brunomenezesbaraviera@gmail.com