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No mundo da cinefilia, o telespectador é como um frango assando numa granja. Nos posicionamos frente à tela crus e, conforme as luzes refletem em nossos corpos, vamos ganhando -ou não- cor e ficando -ou não- crocantes. O que vai assar a carne não é sua boa vontade, mas o bom funcionamento do assador rotativo. Quem assistir Bugigangue no Espaço (2017) pode até tentar se solidarizar com o longa (por ser a primeira animação 3D produzida no Brasil), mas a pigmentação branco-azulada em sua face revelará o óbvio: trata-se de um filme difícil de engolir.
A história se passa em uma cidade do subúrbio. Mas não se engane – apesar de se passar no ‘Brasil’, tal subúrbio é tipicamente estadunidense, com casas grandes e cercas baixas, e uma escola com arquitetura familiar a qualquer ser vivo que já tenha assistido à alguma obra exportada de Hollywood.
Gustavinho (com a voz de Danilo Gentilli) é um moleque levado, o terror das professoras, sempre pintando os sete. E é numa dessas artes que ele e um grupo de colegas, após uma sucessão de erros, acabam destruindo o maior patrimônio da escola: um móbile de sistema solar finalista de um concurso nacional de móbiles de sistema solar (?). O timing não poderia ser pior: isso tudo ocorre no dia em que a turma viajaria para um planetário, e os bagunceiros são obrigados a permanecer na escola pelos próximos dias para reconstruir a maquete.
Sua irmã mais nova, Fefa (dublada por Maísa Silva), acaba ficando com eles. Não se passa muito tempo até que um barulho estrondoso ressoa do jardim da escola. Era uma nave extraterrestre, com direito a uma tripulação formada pelos ETs mais caricatos das galáxias: os Invas (e suas cabeças verdes e olhos pretos enormes).
Com sua nave destruída devido a um ataque intergaláctico (ninguém suporta a estupidez dos Invas), eles acabam ficando presos em nosso planeta, e dependem da turma do Gustavinho para salvá-los desse aperto. Comodamente, os extraterrestres carregam entre seus pertences uma máquina de fazer miniaturas (???) e as crianças logo se dão conta do câmbio que poderiam fazer, trocando mão de obra por pequenos planetas para compor seu móbile. Após restaurar o transporte dos aliens, a “bugigangue” resolve pegar uma carona e logo se vê mergulhada em desafios siderais, com direito a um princípio de guerra nas estrelas, traições e lutas armadas. As crianças ainda terão contato com um E.T. de Spielberg, um Yoda vendedor de balinha e um E.T. de Varginha que tem como animal de estimação um chupa-cabra.
O Cinéfilos esteve presente na coletiva de imprensa do filme realizada em São Paulo, no último dia 14 de fevereiro. Lá, o diretor Ale McHaddo contou os desafios na hora de realizar o longa: “acho que o nome ‘Bugigangue’ tem muito a ver com o jeito que a gente conseguiu fazer, porque tivemos que inventar tecnologias, percorrer um caminho que não havia sido percorrido no Brasil, que era o de fazer um filme em 3D de longa-metragem”.
McHaddo dá destaque à trilha sonora: “a música a gente insistiu que fosse sinfônica, eu imaginava que esse filme precisasse de uma música sinfônica. Acabou dando certo”. De fato, essa é a única (pequena) surpresa agradável em Bugigangue no Espaço. Gravada pela Orquestra Sinfônica de Budapeste, o soar das cordas é capaz de trazer um resquício de brilho às cenas com maior ação. Mas nenhum tempero é o suficiente para disfarçar a carne, quando ela está crua.
Bugigangue no Espaço chega aos cinemas no dia 23 de fevereiro. Assista ao trailer:
Por Bianca Kirklewski
biancakirklewski@gmail.com