Por Diogo Magri
Desde 2007, o esporte tem estado na pauta do noticiário brasileiro mais do que o usual. Naquele ano, o Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-Americanos e o país conquistou o direito de abrigar a Copa do Mundo de Futebol Masculino de 2014. Dois anos mais tarde, também conseguimos que os Jogos Olímpicos aconteçam na capital carioca. Vieram novos estádios, novas obras e infraestruturas que receberam a Copa das Confederações, Copa do Mundo e ainda visam fechar este grande ciclo de competições com as Olimpíadas de 2016 e a Copa América de 2019.
Com todas essas atrações, por várias vezes esporte e política se misturaram e foram destaques na imprensa. Afinal, não foram raras as visitas de presidentes e secretários-gerais da FIFA e do Comitê Olímpico Internacional, além de aparições de presidentes da república e ministros na TV para falar sobre esportes. Figuras como a de Orlando Silva, ministro do Esporte de 2006 a 2011, e Aldo Rebelo, que ocupou o mesmo cargo de 2011 a 2014, tornaram-se comuns ao povo brasileiro.
No entanto, em dezembro do ano passado, a presidenta Dilma anunciou um novo nome para comandar esse ministério após ser eleita para o seu segundo mandato. George Hilton, natural de Alagoinhas na Bahia e filiado ao PRB, foi o escolhido. Hilton foi eleito como deputado estadual duas vezes consecutivas e mais outras três seguidas como deputado federal no estado de Minas Gerais. Além de político, o novo ministro também é radialista e apresenta programas evangélicos ligados à Igreja Universal.
Visto seu passado, seria George Hilton o nome ideal para comandar um ministério que anda em alta na Esplanada de Brasília? O Arquibancada foi atrás do jornalista esportivo e comentarista do canal Esporte Interativo, Vitor Sergio Rodrigues, para tratar esta questão.
“Não tenho como gostar da nomeação de um ministro que, segundo o próprio, não conhecia nada de esportes. Está ali alguém que ganhou a vaga porque prestou serviços ao seu partido, que, por sua vez, prestou serviços como base de sustentação do Governo.”, diz Vitor Sergio. “A escolha dele reproduz o modelo de escolha de ministros no Brasil: uma mera acomodação política. Você loteia o Governo Federal e vai distribuindo as vagas pelos partidos. Historicamente, o Ministério do Esporte é usado para cumprir a cota de um partido pequeno.”
Apesar das críticas, o jornalista enxerga uma evolução em relação ao último ministro. “Ele tem uma grande vantagem [sobre Aldo Rebelo]: sabe como não passar vergonha. As entrevistas de Rebelo eram constrangedoras, mostrando alguém totalmente desligado da realidade do esporte brasileiro e mundial e da organização da grandes eventos.” Apesar de acrescentar pouco com o seu discurso, Hilton não diz nada absurdo, ao contrário de seu antecessor.
No entanto, comparando-o com Orlando Silva, Vitor Sergio não vê uma melhora. “Em relação ao Orlando, George Hilton perde muito, pois o primeiro tinha sido secretário-executivo do Agnelo [Queiroz, Ministro do Esporte entre 2003 e 2006]. E o secretário, na prática, é quem toca o cotidiano do ministério. Sob o comando de Orlando Silva, o ministério começou alguns projetos interessantes pensando em curto prazo, pensando em 2016.” Apesar das diferença entre ambos, dar sequência a esses projetos – usando também a estrutura do PCdoB – tem sido um ponto positivo de George Hilton até aqui, segundo o comentarista.
Pontos positivos, aliás, que vão além destes na até então breve gestão do escolhido no ministério. “Hilton teve o acerto de não mexer com o que estava funcionando”, afirma Vitor. “Há no ministério um cara muito competente, que é o Ricardo Leyser, agora secretário-executivo. Ele conhece muito do que faz e projetos dele, quando secretário de alto rendimento [há 5 anos atrás], fizeram surgir alguns atletas que vão disputar medalhas em 2016, como o Marcus Vinícius no tiro com arco. Esses projetos abasteceram com muitos recursos atletas jovens que conseguiram subir degraus na elite mundial. Pensando em 2010 e sabendo que a Olimpíada aqui seria em 2016, era o que se tinha a fazer.”
Infelizmente, esses prós não são maioria frente aos contras observados no trabalho de George Hilton e de seus antecessores no Ministério do Esporte. “Nenhum Ministro do Esporte tem feito um bom trabalho, visto que mais de 80% das escolas públicas do Brasil não têm uma quadra poliesportiva ou um espaço para atletismo. A revolução do esporte no Brasil está intimamente ligada a isso. Enquanto um ministro não tiver isso como sua única preocupação, não fará um bom trabalho”, conclui Vitor Sergio, traçando este paralelo entre a negligência governamental para com a prática esportiva e a falta de investimentos no ensino público do país.
A vinda de tantos eventos esportivos grandiosos ajuda na melhoria da infraestrutura do país, apresentando vantagens para a população, assim como promove projetos, investimentos e incentivos que se tornam fundamentais para o atleta desde a sua infância, tendo como consequência o aparecimento de cada vez mais nomes brasileiros dentro do mais alto escalão esportivo mundial. O Ministro do Esporte, como um cargo, é um dos responsáveis por isso, e George Hilton acerta em dar continuidade a esse pensamento. Entretanto, só elogiar seu trabalho é o mesmo que ignorar tantas deficiências básicas presentes na realidade esportiva brasileira, as quais também são responsabilidade do ministro e que, aparentemente, não estão sendo devidamente solucionadas por este há algum tempo.