Por Luiz Dias (lhp.dias11973@usp.br)
O filme dirigido por Ali Abbasi e escrito pelo jornalista americano Gabriel Sherman, O Aprendiz (The Apprentice, 2024), estreou na quinta-feira (17) nos cinemas brasileiros. A biografia do magnata Donald Trump (Sebastian Stan) narra a escalada do empresário americano até o topo da hierarquia corporativa — de forma abertamente crítica — através das décadas de 60 a 80.
Roy Cohn e Donald Trump
O cerne da trama de O Aprendiz é, sem dúvidas, a relação entre Trump e seu antigo advogado Roy Cohn (Jeremy Strong). Desde a introdução do personagem de Strong até as últimas linhas de diálogo, o filme é marcado pela relação de mestre a aprendiz, entre um jovem e ambicioso Donald Trump e um inescrupuloso e bem sucedido Roy Cohn.
O público é introduzido, junto do jovem protagonista, aos dogmas do advogado, suas “três regras de ouro”, que o levaram a ser uma das figuras mais poderosas de Nova York. Ao longo das duas horas, muitas vezes morosas, de duração, aprendemos como funciona a mente dos predadores do topo de cadeia de NY, como realmente funcionam a política e os negócios por trás das cortinas da mídia, tudo exemplificado por uma alegação simples do personagem de Jeremy Strong.
“Não existe moralidade, não existe Verdade — com ‘v’ maiúsculo —, tudo que importa é vencer ”
Personagem Roy Cohn em O Aprendiz
A jornada do vilão
O filme apresenta uma versão mais nova, inexperiente e muitas vezes deprimente de Donald Trump. Um jovem ambicioso com a obsessão de se tornar um dos magnatas da América, conhece seu mentor e começa a galgar as escadas do sucesso através de ensinamentos imorais e criminosos, junto de sua própria versão sombria da Jornada do Herói de Joseph Campbell.
A evolução dos personagens é acompanhada pelas exímias atuações de seus intérpretes, Sebastian Stan e Jeremy Strong, ao incorporarem cada mudança de Trump e Cohn em seus trejeitos. Com destaque para a interpretação de Strong que entrega uma versão maníaca que beira a caricatura de Roy Cohn, mas que possui uma presença magnética capaz de engrandecer a trama sempre que presente, e enfraquecê-la nos momentos em que o advogado está ausente.
O clima do filme acompanha a jornada de Trump, se modulando às mudanças do protagonista. Começando de forma leve e com pequenas doses de humor, mas se tornando cada vez mais sombrio, acompanhando a progressiva corrupção do personagem. Frequentemente mostrando a dissonância entre o sucesso financeiro meteórico do protagonista e a degradação das suas relações e da sua própria personalidade, tal qual Michael Corleone em Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part II, 1974).
Crítica aberta
O filme não demonstra nenhum pudor nas críticas às figuras retratadas, raras exceções, como Ivana Trump, ex-mulher do empresário. Os personagens, em especial o mestre e o aprendiz, são retratados como abertamente preconceituosos, hipócritas e criminosos, o que desagradou uma parte do público, em especial a principal figura retratada no filme, Donald Trump.
“Um filme falso e sem classe sobre mim”, afirmou o ex-presidente em suas redes sociais sobre a produção de Abbasi. O candidato à presidência dos Estados Unidos criticou veementemente os propósitos eleitorais do filme, lançado um mês antes da realização do pleito eleitoral americano, e principalmente sobre como o longa retrata sua relação com sua falecida ex-esposa.
Ao final da sessão, não é difícil digerir as acusações claras que o filme faz à figura de Trump Somados a uma duração longa, que se estende em algumas sequências desnecessárias, e várias cenas de sexo explícito, podem afastar uma parcela considerável do público, em especial parte da audiência que nutre simpatia pelelo ex-presidente. Porém, para aqueles que consigam superar essas barreiras, há um filme decente que cumpre seu propósito como produto e mensagem de forma eficiente.
O filme está disponível nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem da Capa: Divulgação/Diamond Films