Por: Luana Lima Mendes (luanalimamendes@usp.br)
Um dublê que sofre um grave acidente, uma diretora de cinema fragilizada por um antigo relacionamento, aliens, cowboys, combates e até mesmo Taylor Swift. Não há melhor descrição para o filme O Dublê (The Fall Guy, 2024), que conta com elenco habilidoso em unir ação superproduzida, comédia pastelão e romance com maestria. A nova produção de David Leitch, que comandou títulos como Deadpool 2 (2018) e Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (Fast & Furious Presents: Hobbs & Shaw, 2019) demonstra o universo desconhecido dos bastidores e expõe a magia que acontece entre as câmeras, os equipamentos, os figurinos e a equipe.
Baseado na série Duro na Queda (The Fall Guy, 1981-1986), o filme acompanha a jornada de Colt Seavers (Ryan Gosling), dublê de um grande astro do cinema, Tom Ryder (Aaron Taylor-Johnson). Arriscando sua vida em performances surpreendentes como perseguições em carros, quedas livres, e barcos que atravessam fogo, Colt encena todas as ações que a estrela principal não realiza, sem receber grande reconhecimento. Porém um grave acidente durante uma filmagem dá início a uma reviravolta em sua vida. Ele decide se aposentar e cortar o contato com todos que conhecia, incluindo a operadora de câmera Jody (Emily Blunt), por quem nutria uma profunda paixão e a possibilidade de prosseguir um romance.
Após receber uma oportunidade de atuar em uma produção de Jody, que realizou o antigo sonho de se tornar diretora de cinema, o protagonista retorna depois de um ano aos trabalhos, se envolvendo em uma grande conspiração que inclui o desaparecimento de Tom Ryder, uma tragédia misteriosa e os ganhos inimagináveis movimentados pela indústria cinematográfica.
Protagonizando o dublê na trama, Ryan Gosling reforça suas múltiplas habilidades como ator, expondo os desafios enfrentados por Colt, que se arrisca em função da arte, longe de ser “apenas Ken’’. Com a presença carismática e o tino cômico é fácil se render por boas risadas e se interessar por este universo – para aqueles não familiarizados com as produções, faz-se certa a curiosidade entre o emaranhado de fios, explosões e jargões cinematográficos.
Emily Blunt aparece como uma nova cineasta que possui a chance de escalar na carreira com a atual produção, porém, na iminência de fracasso pelos gastos superiores ao orçamento e o desaparecimento da estrela do filme. Com a sensação de que a onda produzida por Barbie (2023) eleva o ator à simpatia popular, Blunt faz ótimo trabalho como co-protagonista, porém observa-se ofuscada pela imagem de Ryan.
Em O Dublê, o “por trás das câmeras” é retratado diferente de filmes como Era uma vez em… Hollywood (Once upon a time in Hollywood, 2019) pelo sentimento empático e melancólico com os personagens, concedendo destaque aos invisibilizados. O enredo promove uma identificação entre os trabalhadores do backstage e a audiência, mediante a paixão pelo cinema, apesar de não obterem o devido reconhecimento.
A narrativa permeia entre quebras constantes de expectativas, efeitos especiais surpreendentes e um humor atual que conecta com os telespectadores. De referências a personagens icônicos como Rocky Balboa, até um choro no carro ao som do sucesso All too well (Taylor Swift), a trama atrai o público jovem com referências a essa geração. Com uma trilha sonora lendária, contendo hinos como I Was Made for Lovin’ You (Kiss), Rocket Man (Elton Jon) e Bohemian Rhapsody (Queen), a obra consegue remeter a um clássico televisivo dos anos 80 em um possível estouro do cinema em 2024.
Além disso, a evolução da ação no decorrer do filme, intercalada com cenas de romance clichê e uma pitada do pastelão, resumem como a produção consegue unir públicos distintos sem se rebaixar na qualidade. Esta, espetacular dos efeitos especiais, associada à sincronização do som com imagem e cenas coreografadas trazem a memória de grandes produções de ação do cinema, como a série de filmes Blade Runner, prato cheio para fãs do gênero.
As consequentes quebras de expectativas e reviravoltas enlaçam até o último segundo a trama, sendo incerto o rumo em que se dirige. O Dublê consegue surpreender até aqueles que já premeditaram seu final. Gostando ou não do gênero, o elenco tem peso e é quase impossível deixar o cinema sem soltar um “arzinho” pelo nariz.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Confira o trailer:
*Imagem de capa: Divulgação / Universal Pictures.