Por Bruno Carbinatto (brunocarbinatto@usp.br)
Cada vez mais a tecnologia está presente nas nossas vidas, mas a ideia de conviver com robôs parece algo distante e próprio das histórias de ficção científica. Com os avanços nos estudos da robótica e da engenharia moderna, no entanto, essa possibilidade é cada vez mais plausível. Para falar sobre o assunto, a Escola Politécnica da USP recebeu, na última sexta-feira (16), o professor Hiroshi Ishiguro, da Universidade de Osaka, Japão. O pesquisador é reconhecido pelos seus estudos no desenvolvimento de robôs humanoides desde 2000.
Intitulada de “Interactive Robots and the fundamental issues” (“Robôs interativos e os problemas fundamentais”, em tradução livre), o evento contou com a abertura da recém empossada diretora da Poli, Liedi Bernucci, e do cônsul-geral do Japão em São Paulo, Yasushi Noguchi. Além da palestra, o evento teve demonstração ao vivo do androide sósia do professor, denominado Geminoid, que também teve seus momentos de “fala” – mensagens programadas de saudação, despedida e de natureza explicativa de seu funcionamento. O robô acompanhou o discurso do palestrante, realizando pequenos movimentos e atraindo a atenção do público geral pela extrema semelhança com um ser humano.
“O que é identidade?” foi a pergunta que guiou a fala inicial do professor. Afinal, estamos acostumados a associar identidade com conceitos como emoção e consciência, mas essa definição pode ser questionada. Para Hiroshi, o estudo da robótica serve para entender, acima de tudo, o comportamento humano e suas nuances. Com isso, o professor enfatiza que a forma humanoide dos robôs é importante – afinal, o nosso cérebro é programado para reconhecer outros humanos; a interface ideal para o ser humano é humana. Dessa forma, quanto mais humano o robô parecer, melhores serão os resultados dos estudos da relação homem-máquina a partir deles.
Sociedade robótica
Anotando seus pedidos, te ensinando línguas ou até mesmo te fazendo companhia – essas são algumas utilidades que os robôs podem ocupar (e já ocupam) no nosso dia a dia. Para Ishiguro, é extremamente possível criar uma sociedade simbiótica entre humanos e robôs, sempre visando o bem-estar social, e esse é o objetivo que ele mesmo atribui aos seus trabalhos.
O maior desafio da engenharia e robótica atuais, no entanto, é desenvolver robôs que sejam aprovados no “Teste de Turing Total”. Isso significa que robôs autônomos, controlados por Inteligência Artificial (IA), devem se igualar a robôs controlados por humanos, de forma que não seja possível diferenciar qual é qual. Isso possibilitaria a criação de robôs chamados “de companhia”, que poderiam ter uma participação muito maior nas nossas vidas. E, segundo o professor Ishiguro, essa situação pode não estar tão distante quanto imaginamos; afinal, o investimento na robótica interativa tem crescido significativamente nos últimos anos, ocupando de 10 a 20% de todos os estudos da área, atrás apenas da robótica de manipulação (industrial) e a robótica de navegação. O Japão prevê que esse mercado possa atingir 50 bilhões de dólares somente esse ano.
Problemas fundamentais
O professor explica, ainda, que existem duas questões essenciais para o desenvolvimento de qualquer robô, humanoide ou não: a conversação e transmissão de presença humana. Nessa última, a grande questão é: qual é o mínimo para sentirmos a presença humana em um robô? Segundo o Ishiguro, um bom parâmetro é que os robôs sejam, literalmente, “abraçáveis”. A forma e o tamanho minimamente humanoides são o que nos fazem diferenciar um robô companheiro de um celular com inteligência artificial, por exemplo. Abraçar é um ato humano sincero e que carrega grande simbolismo na nossa cultura, e um robô ter características “abraçáveis” quebra as barreiras e aproxima o homem da máquina.
Quanto à conversação, é possível criar duas formas de formulação de respostas por parte de um robô: a acumulação de informação por big data (como a Siri da Apple e outros chatbots), que permite respostas genéricas para os mais variados assuntos, e a programação story-based (baseada em histórias), que possibilita conversas mais profundas em assuntos limitados. Mas o maior problema da conversação é a captação e interpretação de voz humana, que ainda é muito limitada devido a complexidade da tecnologia envolvida no processo; isso pode ser contornado, no entanto, através do uso de telas touch-pad para a seleção de frases, por exemplo, de modo que o robô não precisa captar a voz humana.