O Peso do Passado (Destroyer, 2018) é surpreendente. E é surpreendente que o seja, pois, por ser um filme de ação/drama policial, quem assiste já espera o resultado final: que o criminoso seja preso. Ainda mais quando descobrimos logo no início que a personagem de Nicole Kidman, Erin Bell, é a policial protagonista. Certo? Errado. Esse é o maior mérito do filme. Vejamos como:
Começamos a história com Erin acordando em seu carro e recebendo a informação de um assassinato que ocorreu na noite anterior. Apesar de não estar designada ao caso, ela vai até a cena no crime e analisa o corpo. Nele, encontra uma nota de dinheiro manchada de roxo e tatuagens de círculos em sua nuca. Com isso, ela diz que já sabe quem cometeu o crime. Logo depois, recebe um envelope pelo correio com uma nota exatamente igual. Isso afeta profundamente a personagem, que vai até o FBI e pede para que investiguem a possível volta de Silas (Toby Kebbell), líder de uma gangue na qual Bell foi infiltrada muitos anos atrás.
Através de vários flashbacks, descobrimos que ela e Chris (Sebastian Stan) foram colocados em uma missão de se infiltrar na gangue que realizava grandes roubos a banco. E percebemos que algo deu bastante errado já que a policial jamais se recuperou. Sua aparência mudou completamente da Nicole Kidman que conhecemos para uma mulher cansada, com muitas rugas e olheiras, cabelo desgrenhado e sempre com a mesma roupa que mora no seu carro. Sua personalidade também parece estar completamente diferente, ela é fechada, agressiva e rude com as pessoas a sua volta, inclusive sua filha. Essa é a primeira surpresa. A personagem não se encaixa exatamente no estereótipo de “mãe do ano”, ainda mais de uma adolescente rebelde.
Durante o decorrer do longa, entendemos melhor os traumas de Bell e como eles afetam sua vida ao mesmo tempo em que acompanhamos sua investigação atual para, finalmente, prender Silas. Essa mudança de linha temporal na narrativa é bastante bem feita e sutil, de forma que o espectador deve prestar bastante atenção para não se perder. Na parte de produção, a caracterização de Kidman também merece aplausos: a atriz aparece irreconhecível no presente e bem policialesca no passado, o que só melhora a sua atuação impecável. Além disso, merece destaque a forma como ela consegue apresentar uma personagem de quem facilmente o público teria “pena” de maneira forte e incisiva, sem perder a profundidade que Erin pede, tanto psicológica quanto moralmente.
Entretanto, a parte mais interessante é o final. De uma maneira que quem assiste não espera, a diretora Karyn Kusama muda completamente a perspectiva do filme, nos levando a repensar toda a narrativa e seus acontecimentos de uma maneira bastante surpreendente. Como o filme vale a viagem, não quero estragar a experiência do leitor com um spoiler.
O Peso do Passado é um filme bem interessante em vários pontos de vista. A personagem principal é profunda e bem retratada por Nicole Kidman, a história é interessante e a maneira como é contada prende o espectador, além de um final surpreendente. O filme estreia nos cinemas brasileiros dia 17 de janeiro. Confira o trailer:
por Maria Carolina Soares
mcarolinasoares@uol.com.br