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Um “Moulin Rouge” sem o rouge

Por Júlia Pellizon juliapellizon@gmail.com Uma lápide marca dois pontos cruciais: o início e o final. O homem sai do trem e anda entre as árvores da redondeza morta, até chegar ao casarão. Hesitante, ele entra, sobe as escadas e para logo à frente do quarto de número 15. Enquanto essas cenas vão passando, o fundo …

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Por Júlia Pellizon
juliapellizon@gmail.com

Uma lápide marca dois pontos cruciais: o início e o final. O homem sai do trem e anda entre as árvores da redondeza morta, até chegar ao casarão. Hesitante, ele entra, sobe as escadas e para logo à frente do quarto de número 15. Enquanto essas cenas vão passando, o fundo em ruído crescente, ao som de música clássica apenas no piano, impõe o tom e o ritmo que o filme A Garota e a Morte (Het Meisje En De Dood, 2012) teria conforme seus 124 minutos.

Fruto de uma coprodução trigêmea – Holanda, Rússia e Alemanha -, o longa intercala uma sequência de enredos conhecidos em um início bem morno e água com açúcar. No final do século XIX, Nicolai é um jovem russo que está viajando de Moscou até Paris, onde irá terminar seus estudos. Entretanto, em uma noite chuvosa, encontra-se obrigado a pernoitar em um hotel no meio do nada. Ao pagar a sua estadia única, ele se depara com uma prostituta conterrânea, Nina, com a qual, automaticamente, ocorre uma empatia pela nacionalidade em comum. No dia seguinte, Nicolai se prepara para o café-da-manhã, troca alguns palavras com a amiga recém-conquistada e observa ao redor, até pousar seus olhos sob uma belíssima loira que passa pelo salão. Entretanto, Nina informa ao encantado russo que a moça não está disponível, uma vez que é cortesã do homem mais importante da região, o qual por acaso é dono do hotel em que se instalara.

E a fórmula romântica tradicional está feita: um casal apaixonado, um vilão poderoso e uma fada madrinha. Mais à moda Moulin Rouge – Amor em Vermelho (Moulin Rouge, 2001), a primeira hora do filme é bastante previsível e sem extravagâncias. O estilo europeu se imprime pela frieza maior entre os personagens e a menor carga dramática, se compará-lo ao irmão estadunidense estrelado por Nicole Kidman. Mais ainda, a sensação de déjà vu também acompanha o espectador durante a primeira metade, principalmente quando Elise – a deslumbrante protagonista – descobre que tem tuberculose e adoece.

No entanto, a partir da segunda parte, o enredo se torna cada vez mais interessante, principalmente pelos abandonos e voltas de Nicolai em tempos espaçados. A narração fica presa ao hotel de maneira fascinante, até chegar em seu clímax com uma das cenas mais geniais de A garota e a morte: após uma das voltas do russo, desta vez encorpado em um homem seguro e que não vem para brincadeira, propõe uma noite de partidas de poker com o Conde – título comprado pelo dono de sua amada, Elise. E, surpreendentemente, os jogos de sons, tomadas e efeitos, fazem com que este ponto seja um momento crucial, demarcando o começo de um fim tocante e muito bem elaborado.

Sem a explosão de cores na tela, típica de filmes hollywoodianos, e a aposta de criar um ambiente baseado nas músicas clássicas de fundo são indispensáveis para a construção de uma história nos traços europeus mais clássicos. O fim artesanalmente colocado é uma afronta ao temporal e material do cinema contemporâneo, mas que se faz completo o sentido ao enredo contado. Aliás, mais do que isso, permite a compreensão do título do filme e os porquês da morte estar vinculada à vida de Elise: a garota com o nome na lápide. Essa é a impressão criativa que se pode tirar do conjunto da obra, além de compreender que A Garota e a Morte é autêntico e digno o suficiente para participar de um evento tão importante quanto a 37° Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

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