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Observatório: Dólar e vírus em alta, governo em baixa

O mês de março trouxe grandes acontecimentos para o mundo. A pandemia de Covid-19,  somada às bruscas quedas nas Bolsas de Valores do mundo inteiro, por conta da baixa no preço do petróleo, resultaram em um imenso impacto na economia de diversos países, inclusive o Brasil. Mas de que forma isso ocorreu? Como a Bolsa …

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O mês de março trouxe grandes acontecimentos para o mundo. A pandemia de Covid-19,  somada às bruscas quedas nas Bolsas de Valores do mundo inteiro, por conta da baixa no preço do petróleo, resultaram em um imenso impacto na economia de diversos países, inclusive o Brasil. Mas de que forma isso ocorreu? Como a Bolsa reflete diretamente a situação econômica de um país? E como um vírus pode dar origem a uma crise econômica?

 

O funcionamento da Bolsa

A Bolsa de Valores serve para que as empresas dispostas a atrair investimentos para si possam fazê-lo por meio da venda de ações. Ou seja, é nela que investidores e empresas se encontram com o propósito de vender e comprar parcelas dessa mesma empresa.

Além da sua principal função como mercado de ações, a Bolsa também serve como indicador da economia do país. Funciona da seguinte forma: quando a Bolsa está em alta, significa que a economia está boa, ou então existe uma expectativa para que esta melhore. Caso o contrário aconteça, a bolsa esteja em queda, é um indicador de que o país está em um momento de instabilidade econômica.

Toda essa movimentação se dá da seguinte forma: o preço das ações sobe quando existe uma grande procura por parte dos investidores, e na ocasião em que isso acontece dizemos que a Bolsa está em alta. Já quando o preço das ações caem significa que os investidores estão vendendo suas ações por acreditarem que o momento não é lucrativo para eles. Isso faz com que a bolsa esteja em queda.

Em entrevista à equipe do Observatório, Milton Junior, presidente da UFABC Finance disse: “o mercado de ações é sensível a todos os elementos que possam impactar as expectativas dos investidores”. Deste modo, é possível analisar uma relação de dependência entre a estrutura do mercado financeiro e o comportamento e as expectativas da economia de um país.

“Ao analisar o impacto da política no mercado estamos consultando como os governantes e reguladores de hoje tomam decisões que favorecem o crescimento econômico”, completa Milton.

 

O mercado financeiro e os fatores externos

Mas o que aconteceu para que,nos últimos dias, as Bolsas de vários países enfrentassem problemas? Podemos dizer que existem dois grandes fatores que geraram um grande impacto na economia mundial: a queda no preço do Petróleo e a pandemia de Covid-19.

No dia 09/03 a Bolsa Brasileira teve a sua maior queda do século, caindo 12%. Com uma baixa tão grande, foi necessário o circuit breaker, mecanismo utilizado para pausar as negociações e evitar que assim a queda se acentue.

Acionista da Bolsa de Valores
Acionista trabalha em meio ao circuit breaker [Imagem: Daniel Teixeira/Estadão]
O motivo para tamanha mudança se deu por conta de uma negociação entre a Arábia Saudita e a Rússia sobre o preço do petróleo. Por falta de um acordo, a Arábia Saudita reduziu o preço do Petróleo em 10%. A Rússia, por sua vez, também baixou o preço, o que deu a impressão de ser o início de uma guerra comercial entre os dois países. Desde a guerra do Golfo o preço do petróleo não cai por tantas semanas seguidas e o governo dos EUA já disse que pretende interferir diplomaticamente na situação.

Além disso, a expansão do coronavírus também fez com que os mercados ficassem instáveis e os investidores passassem a buscar maior segurança no dólar. Tal atitude impulsiona a moeda americana e desvaloriza o real, fazendo assim com que a cotação do dólar fique alta. Vale lembrar que no mês de março a moeda chegou à cotação de R$5 pela primeira vez na história

Mais do que isso, quando o presidente Jair Bolsonaro se posiciona a respeito da questão Covid-19 ou quando um de seus filhos acusa o governo chinês de esconder informações sobre tal pandemia, é natural que o mercado reaja.

“A primeira posição do Bolsonaro sobre o tema foi controversa e quiçá irresponsável. Ao falar que a crise da doença não existia e que isso era fantasioso o presidente demonstrou que continua dando declarações polêmicas e não se preocupa diretamente com o impacto das suas falas no setor financeiro”, analisa Milton.

Segundo o Ministério da Saúde, no dia 22 de março, estavam confirmados 1.546 casos do novo coronavírus no Brasil. Diante dessa situação, governantes apostam na quarentena como medida para frear o avanço do vírus. Apesar disso, ainda existem efeitos colaterais.

Com o avanço do vírus no Brasil a economia tende  a piorar. O comércio em muitas cidades como São Paulo e Niterói não está funcionando por conta da decisão de quarentena, e o Governo Federal já prevê crescimento do PIB perto de zero para  próximo ano.

Ruas vazias
Após as recomendações de que a população permaneça em casa muitas ruas ficaram vazias, como a Av. São João em São Paulo. [Imagem: Folhapress]
Diante desses dados, Milton Junior complementa: “Além do coronavírus e de quarentenas globais que impactam a demanda sobre produtos de varejo temos uma produção que, sem dúvidas, irá se reduzir demais e que já se apresenta como fator preponderante na queda da previsão de crescimento do PIB”. Em suma, a medida de quarentena deve aliviar a curva de contágio, porém vai limitar uma demanda de mercado durante um certo período de tempo.

 

Um colapso de ordem global

O sexto acionamento do circuit breaker em um mês, a queda brusca das ações na Bolsa e a alta inédita do dólar foram suficientes para alarmar analistas. “A gente não sabe onde está o fundo do poço”, afirmou um CEO em entrevista ao portal UOL. O panorama desordenado, porém, não apareceu por acaso, afinal, como já mostrado, são vários os fatores aos quais o mercado pode ser considerado sensível.

As consequências, portanto, são igualmente múltiplas. Na última semana, algumas das principais Bolsas de Valores do mundo marcaram seu pior desempenho desde 2008, ano da última grande crise financeira global. A Bolsa de Dow Jones cedeu cerca de 15%, enquanto o Ibovespa acumulou perda de 18,88%. Essa foi a quinta semana de perda consecutiva no mercado.

Além dos fatores citados, a ação de governantes também é um grande influenciador para a baixa no mercado financeiro. A restrição de viagens e crítica à recompra de ações por parte do presidente dos Estados Unidos Donald Trump, as novas políticas de circulação do Reino Unido e o corte de juros pelo Fed (banco central dos EUA) estão entre os principais fatores responsáveis por movimentar a bolsa.

No Brasil, as medidas de controle econômico são semelhantes. O Comitê de Políticas Monetárias (COPOM), por exemplo, apostou na redução da taxa de juros básica. “A redução de taxa de juros básica (Selic) atua como mecanismo de política monetária do governo. Quando o COPOM decide diminuir a taxa de juros, ele está fazendo com que a economia seja estimulada, pois diminui a rentabilidade de empréstimo de dinheiro ao longo do tempo e gera um maior apetite a risco em outros investimentos e gastos por parte da população, fazendo com que mais dinheiro circule na economia e gere mais liquidez”, explica Milton.

Diante deste cenário quase inédito de caos instaurado, a tendência é que a instabilidade econômica seja acentuada. Desta maneira, previsões sobre o mercado se tornam cada vez menos concretas. “Não podemos guiar somente um fator que justifique a alta do dólar, globalmente as moedas de emerging markets (mercados emergentes) estão em queda, mas nitidamente o Brasil está despontando como a moeda que mais desvaloriza em 2020”, analisa Milton.

2 comentários em “Observatório: Dólar e vírus em alta, governo em baixa”

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