Por Rafael Dourador (rafa.dourador@usp.br)
A seleção feminina de vôlei ficou com o terceiro lugar nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 após vencer a Turquia, na tarde deste sábado (10), por 3 sets a 1. Com o feito, elas mantiveram a sequência positiva de conquistar medalhas em todas as edições desde Barcelona 1992 (considerando masculino e feminino).
O confronto entre as duas equipes — que já se conhecem bem de outras competições — foi marcado pela ótima atuação de Gabi e Vargas, que marcaram, respectivamente, 28 e 26 pontos. Não à toa, a ponteira brasileira foi a maior pontuadora do jogo.
Apesar do resultado negativo contra os Estados Unidos na última sexta-feira, que frustrou os brasileiros que acreditavam na medalha de ouro — inclusive as próprias jogadoras —, o bronze coroou o excelente trabalho da equipe de José Roberto Guimarães que, até a semifinal desta edição, estava com 100% de aproveitamento em todos os sets disputados. Foram cinco vitórias em seis jogos.
A levantadora Roberta foi o cérebro da equipe na distribuição dos ataques contra a Turquia [Miriam Jeske/COB/Fotos Públicas]
O jogo
Mesmo que, de certa forma, abalado pela derrota no jogo anterior, o Brasil chegou para a disputa do bronze com “a faca entre os dentes”, buscando a vitória a todo momento. A equipe inicial escolhida por Zé Roberto foi a mesma utilizada durante todo o campeonato: Rosamaria, Thaisa, Gabi, Ana Cristina, Roberta e Carol, que revezava com a líbero Nyeme nos momentos de saque da Turquia.
O primeiro set começou com as turcas na frente. A oposta de 1,94 m, Teresa Vargas, foi a primeira a marcar — já demonstrando que seria um problema para a equipe brasileira desde o início. Porém, não demorou muito para que o Brasil passasse à frente do placar, forçando o técnico Danielle Santarelli a parar o jogo após cinco pontos seguidos da Seleção. Com direito a um rally — momento desde o saque até alguém pontuar — de 28 segundos na metade da primeira etapa, o set terminou com a parcial de 25 a 21 para o Brasil.
A Seleção começou muito forte no segundo set e abriu quatro pontos de vantagem em relação às turcas, que novamente pararam o jogo com um tempo técnico. A estratégia funcionou e a Turquia se recuperou, equilibrando o jogo e proporcionando boas disputas, como os rallys de 42 e 45 segundos, aos 7’ e 11’ de partida, respectivamente. Ficando atrás do placar na maior parte do tempo do set, o Brasil cresceu na hora certa e virou o jogo no final, fazendo 27 a 25.
Com 110 pontos, Gabi foi eleita melhor ponteira da competição [Miriam Jeske/COB/Fotos Públicas]
Digno de uma disputa olímpica, o terceiro set começou bem equilibrado. Enquanto o Brasil buscava fechar a parcial, a Turquia lutava para se manter viva na partida. Apesar da boa atuação das brasileiras, a equipe adversária foi mais eficiente, vencendo o set por 25 a 22.
O último set também foi muito bem disputado, com os dois times lutando por cada ponto. A Turquia teve seu melhor momento no início, mas logo o Brasil se recuperou e tomou as rédeas do placar. Quando o time sul-americano abriu seis pontos de vantagem, Santarelli fez o que pôde para diminuir o ritmo das adversárias, mas não obteve sucesso. Nem mesmo Karakurt — eleita melhor oposta da Liga das Nações em 2019 e que entrou em alguns momentos do set — foi capaz de parar o Brasil.
Já com uma boa diferença no placar, a equipe brasileira manteve a intensidade e se firmou para garantir o terceiro lugar. O ponto final veio das mãos de Thaisa, que levou a bola ao chão após uma recepção ruim de Sahin, sacramentando a vitória por 25 a 15.
Zé Roberto e Thaisa: viciados em vencer
Thaisa fez 61 pontos nas Olimpíadas de Paris [Reprodução/Instagram:@daherthaisa]
A conquista do bronze olímpico foi particularmente especial para o técnico da seleção brasileira, José Roberto Guimarães, e para a central Thaisa. A dupla trabalhou junta nas Seleções vencedoras dos ouros de Pequim 2008 e Londres 2012.
Aos 70 anos, o multicampeão, que agora recebe sua quinta medalha olímpica, esboçou muito carinho e orgulho pela equipe comandada: “Eu acho que é isso, esse é o significado das Olimpíadas. Foi extremamente importante ter ganho essa medalha e ter representado o nosso povo da forma como nós representamos”, disse Zé, em entrevista à TV Globo.
No entanto, o futuro do treinador à frente da Seleção ainda é incerto. Segundo ele, o assunto será tratado em reunião diretamente com o presidente da Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), Radamés Lattari, e com o diretor técnico, Jorge Bichara.
Por outro lado, Thaísa já definiu seu destino. Após a conquista da terceira medalha olímpica, a central confirmou sua aposentadoria da equipe nacional e se emocionou ao comentar sobre a decisão de encerrar a carreira: “Acabou. Foi uma vida dentro da seleção. Só a gente que está aqui sabe tudo que tem que superar e aguentar não é fácil. Mas é muito amor pelo que a gente faz”, revelou, também à TV Globo.
Los Angeles é logo ali!
Mesmo sem a experiência de Thaisa nas quadras e com uma possível saída de José Roberto, a seleção feminina de vôlei já conta com atletas muito promissoras para a próxima edição dos Jogos Olímpicos, que será disputada nos Estados Unidos.
Nomes como Julia Bergmann, que fez uma excelente campanha na VNL e entrou em alguns jogos de Paris, Ana Cristina, que foi titular absoluta de Zé Roberto nesta competição, e a oposta Tainara, arma-secreta do técnico brasileiro, saem com bastante crédito para 2028. Mais uma vez, a capitã Gabi também provou ser o grande nome desta seleção e, aos 30 anos, apresenta boa forma física para continuar atuando em alto nível.
Além delas, nomes como Lorenne — que chegou a viajar à Paris mas foi cortada no terceiro jogo após sentir a panturrilha — e Júlia Kudiess — que também ficou de fora por lesão durante a Liga das Nações — reforçam o número de candidatas ao elenco das 12 atletas convocadas para as Olimpíadas de Los Angeles.
Confira o momento em que a tocha olímpica muda de dono na cerimônia de encerramento dos Jogos de Paris:
Imagem de capa: [Reprodução/Instagram:@cbvolei]