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As meninas de ouro: os 10 anos da conquista de Pequim pelo vôlei brasileiro

Por Amanda Capuano e Caio Santana  Pequim, 23 de agosto de 2008. O relógio marcava 20h, no horário local, quando a seleção brasileira adentrou a quadra do Ginásio Capital de Pequim para o que seria a sua primeira final olímpica. Do outro lado do mundo, a oceanos de distância, o dia começava repleto de expectativas …

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Por Amanda Capuano e Caio Santana 

(Imagem: Gazeta Esportiva)

Pequim, 23 de agosto de 2008. O relógio marcava 20h, no horário local, quando a seleção brasileira adentrou a quadra do Ginásio Capital de Pequim para o que seria a sua primeira final olímpica. Do outro lado do mundo, a oceanos de distância, o dia começava repleto de expectativas pela chance do ouro inédito.

Independente do resultado, o momento era histórico para a equipe de José Roberto Guimarães, que contava com nomes de peso como Sheilla, Paula Pequeno, Mari, Fabizinha e Fofão, assim como para toda a torcida verde e amarela, que ansiava por uma medalha após a frustração da queda para a Rússia na semifinal em Atenas, quatro anos antes. A prata já estava garantida, mas elas queriam a glória máxima.

Conhecido como o dream team do vôlei, as meninas do Brasil foram as personagens de uma campanha impecável até então: 21 sets vencidos em 7 jogos. Nenhuma derrota. Na fase de grupos, encarou e venceu as fortes Itália e Rússia com facilidade, pegando o Japão nas quartas e passando sem grandes dificuldades.

A semifinal foi decisiva. Jogando em casa, a China tinha o apoio da torcida, que foi em peso ao estádio apoiar sua seleção. Para Fofão, levantadora da equipe, este foi o momento mais desafiador do campeonato: “O jogo contra a China, para nós, era decisivo por ser o time da casa jogando com toda a torcida a favor. E seria decisivo nas nossas vidas.” disse ela em entrevista ao Arquibancada.

Hélia de Souza, Fofão, campeã olímpica em Pequim 2008, compartilhou suas experiências com o Arquibancada (Imagem: Folhapress)

Do lado oposto da rede, os EUA não vinham com o mesmo brilho no olhar. Apesar de terem feito jus à sua campanha, as yankees não compartilhavam da invencibilidade brasileira. No caminho até a final, perderam 11 dos 29 sets disputados, incluindo uma derrota na fase de grupos para a promissora seleção cubana (3 sets a 0). As norte-americanas fizeram também mais três jogos dificílimos contra China e Polônia, ainda na fase grupal, e nas quartas de final contra a Itália: todos vencidos por 3 sets a 2, com a busca da virada após derrota nos primeiros sets.

O último jogo das Olimpíadas começou com a equipe estadunidense saindo na frente. Com a vantagem das americanas, a partida manteve-se acirrada em um ponto a ponto até a virada brasileira (7 a 6). A partir daí, o time de Zé Roberto ganhou confiança e abriu uma vantagem que foi sendo ampliada ao longo do set, culminando em uma vitória folgada por 10 pontos de diferença, 25 a 15, que manteve a invencibilidade verde e amarela. Já eram 22 sets sem conhecer derrotas. O Brasil seguia invicto.

Na volta à quadra, o cenário mudou. O segundo set começou como o primeiro, mas dessa vez a recuperação brasileira não veio. Com saques que não entravam e passes que não chegavam às mãos da levantadora, a seleção viu os EUA arrancar sua invencibilidade na marra. A queda, entretanto, não foi sem luta. As meninas correram atrás da diferença, mas não conseguiram a virada, amargando um 18 a 25 que seria o primeiro e único perdido por elas na competição.

Após derrota no segundo set, equilíbrio emocional e concentração foram fundamentais para a retomada da partida (Imagem: VAVEL)

A derrota, entretanto, não abalou o psicológico da equipe: “As vitórias foram vindo normalmente através daquilo que íamos apresentando em quadra e, quando perdemos o primeiro set da competição, senti o grupo muito equilibrado, consciente e concentrado no que precisava ser feito. Em nenhum momento eu senti algum tipo de descontrole. Pedimos mais atenção pro próximo set”, afirmou Fofão.

E o pedido surtiu efeito. Os sets seguintes foram de protagonismo brasileiro. O terceiro veio sem chance de vitória para as meninas da terra do Tio Sam. Com bloqueios poderosos, o Brasil fez da rede uma muralha, abriu uma diferença cada vez maior e fechou o placar nos 25 a 13, após ataque de Mari. A condenada de Atenas agora ajudava o Brasil na conquista da tão sonhada medalha dourada. Dois sets a um no marcador e o quarto set iniciado. Ambas as seleções abriram no máximo dois pontos de diferença. Ponto a ponto era disputado e a cada ataque, a cada erro, os placares se igualavam. Uma hora isso teria que parar… e parou.

Após novo empate dos EUA, os visores nas telas da arena olímpica mostravam 21 a 21. Na cabeça dos torcedores passava um possível tie-break, ao contrário do que dominava a mente da experiente Hélia de Souza, Fofão: “Eu só pensava na vitória do jogo”, disse ela. Daí em diante, não teve outro rumo para as americanas, senão se contentar com a prata. O Brasil pontuaria ponto após ponto, sem interrupções, tirando qualquer chance de uma reação vermelha e azul. Com um saque de fofão, o match point teve o seu início.

Era o lance do título. A recepção americana deu conta do recado, mas a defesa brasileira estava bem armada e segurou o ataque. No contra-ataque, a bola brasileira não caiu, dando origem a um rali emocionante no último lance do jogo. Por desespero, fatalidade delas ou sorte nossa, o ataque final norte-americano foi de encontro ao fundo da quadra; fulminante, levando para fora, junto à bola, qualquer esperança que elas ainda tivessem de conquistar a China. 25 a 21, fim de jogo em Pequim. Deu certo. Gritos emocionados e lágrimas tomaram conta do ginásio.

Após carregar o peso das críticas pela derrota em Atenas 2004, Mari faz gesto para calar os críticos (Imagem: Fox Sports)

O sonho se tornava realidade. Era ouro para o Brasil. Sem tie-break, sem mais esforço. A longa preparação e histórico de invencibilidade estavam finalmente recompensados. Nas palavras de Fofão: “Estávamos numa final. Não tem como imaginar que ganharíamos de 3 a 0, mas fomos preparadas pra guerra e o tie-break era uma possibilidade, melhor que não foi preciso”. E que bom que não foi preciso, o brasileiro e o mundo não aguentariam mais um teste para cardíaco. Dos alto-falantes, o hino nacional foi ouvido pela terceira e última vez em Pequim e entoado por torcedores emocionados no estádio e em casa. Pátria amada, Brasil! A glória máxima era nossa.

Depois de uma queda dramática na semifinal em Atenas 2004, a seleção brasileira finalmente ocupou o lugar mais alto do pódio (Imagem: Mundo Vôlei)

A campanha irretocável e a conquista dourada foi mérito incontestável das meninas, e por trás delas estava a conhecida figura de José Roberto Guimarães. O técnico da seleção era experiente. Campeão olímpico com o vôlei masculino em Barcelona 1992, o ouro de 2008 transformou Zé Roberto em uma lenda do esporte: é o único técnico no mundo a conquistar o feito pelas seleções masculina e feminina.

Zé, porém, não é apenas lendário por seu conhecimento técnico; seus ensinamentos e postura motivadora são apontados como grandes trunfos. Questionada sobre a principal lição transmitida por ele, a melhor levantadora da competição não hesitou: “A lição de que só chegaríamos em algum lugar no momento em que tivéssemos um grupo de verdade, e isso ele viveu com os meninos em 92, um grupo que se doava em todos os sentidos.”

Guimarães carregado pelas campeãs olímpicas em 2008 (Imagem: jotajorge)

Ainda sobre união, a jogadora afirma ser esta a sua lembrança de ouro da jornada até a medalha. “Durante o ciclo foi-se criando um grupo muito forte de valores e de união, tivemos muitos problemas mas em nenhum momento deixamos de nos manter unidas, isso foi uma marca muito forte deste grupo. Gostar de estar junto e abrir mão das vaidades, isso foi fundamental”, exaltou Fofão.

Pequim foi apenas o começo do caminho aurífero que viveria essa geração. As meninas de ouro do Brasil conquistaram ainda o bicampeonato olímpico em Londres 2012, confirmando o brilhantismo de uma equipe gigante e inesquecível. Dez anos depois, as lembranças daquele 23 de agosto ainda estão no imaginário do brasileiro. E aqueles que não tiveram a chance de vê-las com a medalha dourada no peito, com certeza já ouviram histórias sobre o dia em que o vôlei das garotas tupiniquins invadiu a China e encantou o mundo.

Jogadoras enroladas na bandeira brasileira em comemoração (Imagem: Olimpíadas Beijing 2008)

Uma década depois, nas palavras da campeã, a vitória em 2008 “significa a valorização do vôlei feminino diante de um feito histórico que marcou a história do vôlei, e o reconhecimento e gratidão a todas as outras gerações que também foram guerreiras nesta luta para colocar esse esporte no lugar mais alto do pódio.”

As meninas dos olhos do Brasil, Paula Pequeno, Carolina Albuquerque, Sheilla Castro, Walewska Oliveira, Mari  Steinbrecher, Thaísa Menezes, Fofão (Hélia Souza), Fabiana Alvim, Jaqueline Carvalho, Sassá (Welissa Gonzaga), Fabiana Claudino e Valeska Menezes, levaram o verde e amarelo para o ponto mais alto do pódio e ganharam um lugar reservado na história do esporte brasileiro. A geração de ouro da nação tupiniquim merece toda a honra e toda a glória a elas destinada. Há dez anos, 12 mulheres carregavam no peito o ouro olímpico e, em cada medalha recebida, pendia junto ao brilho dourado o orgulho de mais de 190 milhões de brasileiros.

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