Marcia Scapaticio
O documentário Fim do silêncio ainda não é exibido nos cinemas, porém, já repercute em diversas mídias. A polêmica em torno da obra dirigida por Thereza Jessouroun já se inicia pelo tema em questão: o aborto e suas conseqüências para mulheres de diferentes estilos e vivências; além da temática, há o assunto do patrocínio concedido pela FIOCRUZ (Fundação Oswaldo Cruz). A cineasta considera positiva a polêmica e a discussão sobre o documentário: “Já está mais do que na hora de esta ser uma discussão de toda a nossa sociedade. Apenas 26% dos países ainda não discriminalizou o aborto e todos eles se encontram na América Latina, África e Ásia. A criminalização do aborto não está impedindo as mulheres de fazerem o aborto. Ao contrário, fazem sem nenhuma segurança, correndo risco de vida”. Thereza conversou com o “Cinéfilos” a respeito do início de sua trajetória no audiovisual e, é claro, sobre o reflexivo Fim do silêncio.
[youtube=http://br.youtube.com/watch?v=XbSUP0G5_Y0]
No início:
Comecei trabalhando em filmes de ficção de longa metragem como fotógrafa de cena, em seguida continuísta e depois e assistente de montagem. Mas meu interesse já era documentário, pois eu fazia “documentários” com minha máquina fotográfica. Até que em 1986 tive a sorte de começar a trabalhar como produtora e assistente de Eduardo Coutinho, com quem tive uma grande escola de documentários.
O crescente interesse de cineastas e do público no formato documental:
Acho que pode ser uma consequência da chegada das tvs a cabo, e depois da Internet: mais informações, mais assuntos, mais facilidade de pesquisas, mais interesse. A chegada do formato digital também facilitou e barateou muito a produção de documentários. Também houve maior espaço nos cinemas para o gênero documentário.
A mesma responsabilidade:
A responsabilidade do autor quanto aos temas é a mesma, tanto em documentários quanto em ficções. Os cineastas lidam, através do cinema, com seus países e os temas inerentes à vida em cada um deles.
História à mostra:
O documentário Fim do silêncio propõe que o tema deixe de ser um tabu, e para isso, eu precisava que as mulheres mostrassem seus rostos, assumissem suas histórias e as contassem naturalmente, como se falam de todos os outros assuntos. Divulgamos um texto na Internet procurando mulheres que se dispusessem a contar suas histórias. 22 mulheres se ofereceram. Entrevistei todas elas, mas utilizamos no documentário depoimentos de 12 delas. Eu queria dar voz às mulheres já que há anos se discute o aborto sem escutá-las. É sempre a ótica moral e religiosa que predomina. Conseguimos ter mulheres de diferentes idades, religiões e profissões, de três estados do país (RJ, PE e SP), falando para a câmera, como e porque fizeram o aborto.
Veja também: O Aborto dos Outros, de Carla Gallo (Brasil, 2007).