As palavras fortes e impactantes de Chimamanda Ngozi Adichie encontram suporte nos mais variados tipos de discurso. Seja em longos romances de ficção ou em sucintas palestras faladas, a nigeriana sempre encontra espaço para expressar suas ideias, adentrando no universo mainstream. O Perigo de uma História Única evidencia essa capacidade da autora, ao passar, em cerca de 20 páginas, uma mensagem importante e propiciar reflexões relevantes.
O livro é, na verdade, apenas um texto: a adaptação da palestra homônima apresentada por Chimamanda num evento do TED Talks, o TEDGlobal de 2009, em Oxford, na Inglaterra. Com um tamanho bastante reduzido e menos de 70 páginas ao todo, o discurso transmite imagens fortes que dão suporte ao pensamento da autora e o tornam concreto e palpável.
“A consequência da história única é essa: ela rouba a dignidade das pessoas. Torna difícil o reconhecimento da nossa humanidade em comum.” Essa é uma tese que Chimamanda defende com maestria ao longo das curtas páginas do livro, dando como exemplo pessoas que a permearam ao longo da vida e da carreira, trazendo à sua percepção o peso de uma verdade absoluta. O ensaio acaba sendo sobre discursos e estereótipos, e sobre o poder que eles têm na percepção de mundo das pessoas. Ao contrário do que muitos podem pensar, não é uma crítica desenfreada à imprensa ou à História. Essas são apenas duas instituições que aparecem como exemplos de perpetuadores das histórias únicas. Mas o problema, de fato, é a falta de disposição e interesse das pessoas por buscar outras versões de acontecimentos. É acreditar em histórias únicas. E contá-las mais uma vez.
Entretanto, a edição do livro chega a ser um pouco exagerada. Mais da metade das páginas são preenchidas por conteúdos sobre a autora e resumos de outros livros já publicados. Esse não é o primeiro livreto preenchido pelas palavras de Chimamanda, mas a leitura rápida e curta do ensaio é pouca para preencher o livro. Embora seu conteúdo seja impactante, fica claro que o discurso não é suficiente para sustentar um livro por si só, simplesmente pela questão de tamanho. Caso excluíssem todos os adendos, o ensaio sozinho ocuparia apenas 22 das páginas de tamanho reduzido.
A leitura é agradável, impactante e até mesmo necessária, mas reduzida ao extremo. A sensação é de que seria uma leitura rápida de livraria, mas dificilmente um livro de fato adquirido para levar para casa. Apesar disso, a inteligência e sensibilidade de Chimamanda preenchem as páginas de forma assertiva e compõem um discurso essencial para compreender o mundo contemporâneo e agir nele com coerência. Com sensatez.