Por Samuel Amaral (amaral.samuel@usp.br)
Dentre as centenas de quilômetros de canavial que marcam o norte do Paraná, uma pequena cidade fundada em colinas contrasta com os grandes campos agrícolas: Porecatu. De uma calmaria sem igual, o município é um conjunto de ruas silenciosas que se prostram em direção à antiga usina de cana de açúcar, que a cada dia parece se desmontar mais. Essa paisagem cativante, mesmo que nada incomum na região, reflete o espírito atual do povoamento, que se transforma aos poucos enquanto seu principal centro de relações sociais e trabalhistas é legado ao passado e às ruínas.
Perto da margem do rio Paranapanema, Porecatu formou-se em 1947 com o crescimento do plantio da cana e do café no estado das terras vermelhas. Porém, foi apenas em 1949 que o núcleo urbano começou a realmente se destacar, com o início do funcionamento da Usina Central Paraná.
Desde lanchonetes e prédios públicos, a cidadezinha não falta em pontos turísticos clássicos, amados pelos moradores. Existe um orgulho nos olhos dos cidadãos quando falam da pastelaria, da sorveteria, da rodoviária e do famoso Ginásio de Esportes chamado carinhosamente de “Macacão”. Sim, todos no singular, pois são locais tão únicos que não há muitos outros deles na cidade. Os 11.624 habitantes, imersos nas particularidades de cada estabelecimento, elegem os melhores e lhes dão o prazer de serem recomendados a todos que por lá passam.
Contudo, os locais tem uma magia por si só. A cidade pequena exala proximidade e a cultura local se dá sobre o possível e o memorável, ou seja, nos detalhes.
Uma breve passagem por Rolândia rendeu essa rua que acaba em canavial. Eis aí os frutos da terra avermelhada.
A usina mantém-se sublime no horizonte da cidade
O centro de comando que, por meio do balanço financeiro da empresa, regia a orquestra da economia local.
Ruínas de um passado próspero.
Casinhas da Vila Industrial, onde ainda moram os antigos trabalhadores da Central Paraná.
Nas redondezas da usina, um lugar popular entre os trabalhadores se esconde mata adentro.
Porecatu em tupi-guarani significa “cachoeira bonita”, mesmo não sendo esta a queda d’água a nomear a cidade, é aqui onde os habitantes vão para se refrescar em meio a natureza.
Os macaquinhos
Atrás do complexo industrial, uma estrada de terra marca a localização de um dos pontos mais inusitados de socialização e entretenimento dos cidadãos: a área em que dão comida aos macacos. Sendo moradores locais desde os primórdios do município, o animal símbolo da cidade interage com os trabalhadores por meio da entrega de cana. Hoje em dia, os cidadãos vão lá para dar comida aos primatas e garantir momentos de lazer com a família.
O Macacão
O Ginásio de Esportes Isaac Jabur, nome do antigo prefeito que tinha o apelido de Zé Macaco, foi nomeado carinhosamente de “Macacão”.
Uma feira se desenrola do lado de fora. Este é o ponto mais agitado da cidade na última semana devido aos JAMPs — Jogos Abertos Municipais de Porecatu.
Para felicidade de uns e a infelicidade de outros, o “nargas” não pode entrar.
Os pontos da cidade
No centro, uma igreja marca presença. Muitos dos eventos locais são organizados pela comunidade dos fiéis que a frequentam.
A prefeitura tem uma arquitetura moderna e fica entre três igrejas e uma escola.
Há somente um hospital na cidade. Ele foi construído na década de 1950 e mantém-se em funcionamento até hoje.
A praça com barraquinhas que vendem lanches na frente da rodoviária é o palco dos roles às sextas e aos sábados. Nela vão desde famílias com filhos até adolescentes querendo se divertir.
O “brinquedão” em formato de avião deixa a experiência do divertir-se mais lúdica às crianças porecatuenses.
A caixa d’água que parece uma nave espacial é ponto de referência para quem passeia pela cidade.
Ao lado de onde a vida pulsa nos esportes, os falecidos descansam.
Independente do dia e da hora, as ruas estão sempre vazias. Raros os carros, mais raras ainda as pessoas.
A entrada de um condomínio em formato de castelo se impõe nos limites da cidade. Muro adentro não há nada, nenhuma casa foi construída ainda.
O “Homem do Facão” é o monumento símbolo de Porecatu. Uma reprodução em metal da figura central da cidade, o trabalhador do canavial, em cima da ferramenta que fez crescer o norte do Paraná, o facão.
Um bazar da Assembleia de Deus agitou os cidadãos, que vieram comprar as roupas usadas pelo pequeno valor de R$2,00 por peça.
Barzinhos marcam as ruas porecatuenses. Uma estética brasileira presente até nos mais profundos municípios.
Ao lado da estrada, Porecatu despede-se de viajantes com seu nome escrito em letras de pedra.
#professororgulhoso