Por Manuela Trafane (manutraf@usp.br)
Em um domingo, daqueles em que não se faz nada além de ficar na cama e assistir a filmes, eu estava à procura de uma comédia romântica. Como qualquer jovem mulher em sã consciência, já assisti a todas mais famosas, o que aumentou meu tempo rolando entre os catálogos de todos os streamings possíveis.
Depois de alguns bons minutos, encontrei um título atraente na Netflix: A filha do presidente. Um aviso na capa dizia que ele sairia da plataforma em menos de uma semana — o que levei como sinal de que era a escolha correta.
Basicamente, o longa conta a história da filha do presidente dos Estados Unidos, que passa na faculdade e quer virar uma “garota normal”. Entre todas as pessoas que a tratam de forma diferente, ela conhece um rapaz que a aprecia por sua personalidade acima do papel de seu pai. Alerta de spoiler: no meio do filme, a garota descobre que ele era, na verdade, um agente contratado pelo pai para a espionar — claro, ele estava realmente apaixonado por ela, senão o filme seria cruel, mas mentiu o tempo todo. No final, ela o perdoa e eles continuam juntos.
Isso me fez pensar: em quantas comédias românticas o homem é absolutamente mentiroso, mas tudo é esquecido no final? Imediatamente, pensei em vários títulos: 10 Coisas Que Eu Odeio em Você, Ela É Demais, Como Perder um Homem em 10 Dias…
Comecei a questionar se de algum modo isso afeta nós, viciadas em romcoms. Será que, no nosso imaginário coletivo, as mentiras são automaticamente perdoadas se o amor estiver envolvido na questão?
— Como assim?
— O que exatamente você não está entendendo?
Eu indago ao rapaz com quem saía há seis meses.
— Não estou entendendo por que você está tão brava assim.
Impossível.
— Olha nos meus olhos e me diga que não entende por que eu estou brava, sendo que você tinha me dito que era solteiro quando nos conhecemos e, na verdade, não era.
— Porra, faz o que, seis? Sete meses? Eu estava para terminar e simplesmente não queria te perder.
Ficamos em uma festa da universidade. Olhares trocados e um ou dois xeque-mates me fizeram ter a coragem final de falar com ele.
— E outra coisa — ele me fala — eu não cheguei em você. Você chegou em mim.
Rio alto nesse momento. Clássico: ser culpada por simplesmente não ficar sentada esperando.
— Acho que deu pra mim. Sério.
Digo, espantada com minha própria reação incisiva.
— Não, não faz isso comigo. Eu errei uma vez. Foi uma mentirinha em um mar de verdades.
— Simplesmente o que construiu todo o nosso “relacionamento”.
Imagine as aspas que fiz com as mãos enquanto meus olhos se enchiam de lágrimas!
— Por favor, sério. Me desculpa, eu te amo.
…
Nesses momentos, lembro de uma frase do filme Bonequinha de Luxo: “As pessoas se apaixonam. As pessoas pertencem umas às outras. É a única chance que têm de serem felizes”. Acho que é essa crença que nos faz querer agarrar na expectativa do amor. Ela nos faz perdoar homens mentirosos.
Continuei com ele por mais três meses. Terminamos depois de outra mentira, cuja história já não cabe aqui. Meu veredito é: sim! Comédias românticas me fazem acreditar em homens mentirosos e tenho certeza de que não sou a única.
