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47ª Mostra Internacional de Cinema de SP | ‘Samuel e a Luz’: um documentário sensível

Primeiro longa de Vinícius Girnys recebe prêmio de melhor documentário do ano pelo júri da Mostra

Banhos gelados, lavagem de roupas a mão e acidentes com vela são alguns dos aspectos presentes na vida de quem não possui energia elétrica em casa. Em Samuel e a Luz (2023), essa realidade é evidenciada de perto com o acompanhamento do antes e depois da instalação de eletricidade em Ponta Negra, um vilarejo de pescadores na costa de Paraty. As imagens do filme foram coletadas ao longo de seis anos, o que possibilita a percepção das transformações e contradições que a tecnologia traz para a comunidade.

Samuel é um menino carismático e inteligente que consegue cativar o público desde sua primeira aparição. Mas, ao contrário do que o título sugere, o documentário não foca apenas nele, mas em toda a família do garotinho. Sem um narrador ou entrevistas, elementos frequentes no gênero documental, a história da mãe, do pai e dos seis filhos se conta sozinha. Nesse modelo experimental, o espectador é convidado a entender sozinho as complexidades dessas figuras que refletem muitas famílias brasileiras.

O grande acerto do longa é a sua construção, bem auxiliada pelo uso do som. Não há qualquer censura para os ruídos: é possível ouvir a pesca, o barulho do mar, o lavar de roupas, o raspar dos pelos de um porco. Essa imersão na rotina da família traz o sentimento de proximidade. Os poucos mas significativos diálogos a respeito da expectativa para a chegada da luz levam o espectador a tensionar junto com os personagens.

Samuel segurando luzes de Natal na parede
“Comecei a me interessar por cinema na Mostra, voltar aqui anos depois com meu primeiro longa me deixa muito feliz”, conta o diretor Vinícius Girnys em entrevista à Wesley Ramos. [Imagem: Reprodução/Instagram/@vinicius.girnys]

Com a instalação da luz, muitas expectativas são quebradas. Somos levados a perceber que problemas estruturais, a exemplo da cultura patriarcal e da precariedade do trabalho, persistem e até se agravam no novo contexto. Além disso, a eletricidade transforma completamente a forma de vida da comunidade caiçara e, novamente, o som se destaca: os muitos silêncios são substituídos por turistas em festa, cultos em igrejas e jogos nos celulares das crianças.  Em meio a tantas mudanças, a natureza também sofre e peixes começam a ser extintos. Afinal, em que medida os avanços da tecnologia fazem as pessoas progredirem enquanto sociedade?

A genialidade de Samuel e a Luz está em levantar mais dúvidas do que respostas. É o tipo de obra poética que permite que você viva outras vidas a partir dela. O filme foi destaque da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo e ganhou o Troféu Bandeira Paulista de Melhor Documentário.

Esse filme fez parte da 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Para mais resenhas do festival, clique na tag no final do texto. Confira o trailer:

*Imagem de capa: Divulgação/Sendero Films

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