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Na continuação de ‘Sorria’, mais uma vez, ninguém irá escapar

Sequência do sucesso de bilheteria de 2022, o filme traz um ar pop à história e consolida a nova trama como um dos grandes terrores do ano
 Por Lorenzo Souza (lorenzosouza@usp.br)

Em cartaz desde 17 de outubro, o longa Sorria 2 (Smile 2, 2024) traz a mesma fórmula do filme original, porém, extrapola ao mesclar quantidades bem mensuradas de investigação, terror e gore, se consolidando como uma continuação melhor que o primeiro. Agora em um cenário completamente diferente do filme Sorria (Smile, 2022), a protagonista (Naomi Scott) é uma cantora famosa, que acaba de voltar de um ano de hiato para uma nova turnê mundial e, de brinde, leva uma maldição junto aos camarins. 

Dirigido e roteirizado por Parker Finn, a trama continua diretamente a história do primeiro filme, com um dos personagens tentando passar adiante a maldição do sorriso. Quem acaba por recebê-la é o estudante Lewis Fragoli (Lukas Gage), que, posteriormente, vai passar a maldição para sua ex-colega de sala, Skye Riley, personagem principal do novo longa. A diva pop está prestes a fazer seu retorno triunfal para a mídia, após um escândalo no ano anterior, quando ficou gravemente ferida por um acidente de carro que matou o ator Paul Hudson (Ray Nicholson).

O roteiro utiliza do mesmo conceito do filme original para representar a maldição do sorriso. Assim como no caso da Dra. Rose Cotter (Sosie Bacon), que enfrentava o suicídio da própria mãe, a cantora Skye carrega o sentimento de culpa por ter sobrevivido ao acidente. De certa forma, ela acredita ter causado a morte de seu amigo ator, além de lidar com outras questões como a carreira, amizades e família. A maldição, nesse sentido, trabalha de forma clara ao utilizar do mal-estar mental das personagens para convencê-las do pior sobre si mesmas, e, ao final de sete dias, causar suas mortes. 

No filme, todas as músicas da trilha sonora cantadas por Riley são, na verdade, cantadas pela própria atriz, Naomi Scott  [Imagem: Divulgação/Paramount Pictures]

Com o foco em Skye Riley e sua difícil relação com a mídia, o roteiro tenta ao máximo tecer uma crítica à forma que a indústria cultural trata seus próprios artistas. Mesmo que a crítica perca um pouco de força ao passar do longa, ela continua válida. Riley enfrenta uma pressão extrema para corresponder ao que o público quer, e não lida bem com a mídia, que espera pelo primeiro passo em falso dela para retomar as acusações de “louca” e “drogada” que recaíram após o acidente.

Ao passar da trama, a questão com a fama e o público diminui se comparado o final com o início. Porém, continuam em segundo plano. Mesmo nos momentos em que a mídia, a turnê e a carreira parecem perder importância para a personagem, as consequências de não cuidar extensivamente da própria fama surgem com a mesma frequência, por meio de cada vez mais polêmicas expostas pelos jornais e a destruição progressiva de sua imagem como celebridade. 

A trama conta com uma série de cenas muito bem dirigidas, roteirizadas e, principalmente, atuadas. Naomi Scott, conhecida por Aladdin (2019) e As Panteras (Charlie’s Angels, 2019), usa Sorria 2 como declaração de sua excelente habilidade artística. Por exceção dos primeiros poucos minutos do filme, praticamente todas as duas horas e doze minutos de duração colocam a atriz em evidência, seja por meio de viradas inteligentes de câmera, close-ups na personagem ou cenas de tensão extrema.

Em uma dessas cenas, Skye encontra-se em uma situação extremamente tensa em seu apartamento. Com referências aos “Weeping Angels” do seriado Doctor Who (2005-), a mistura entre o incrível jogo de câmeras, coreografia dos atores e a atuação excelente de Naomi cria uma das diversas passagens da trama que contribuem para a superioridade do longa, se comparado ao original. Ainda que essa cena em específico não termine na mesma altura que começou, continua relevante para a construção da alucinação da personagem causada pela maldição.

A atuação de Naomi é um dos pontos centrais do filme, e acaba por carregar diversas cenas que, caso feitas por outra pessoa, não teriam a mesma intensidade.
[Imagem: Divulgação/Paramount Pictures]

Uma característica importante do filme são suas cenas gore. Já reconhecido por contar com mortes recheadas de violência, Sorria 2 continua o legado de seu antecessor, agora com um banho de sangue cada vez mais realista. Por conta da computação gráfica mais avançada, algumas cenas, especialmente aquelas perto do fim da trama, ultrapassam os limites comuns do que é visto no geral em filmes de estilo parecido, como os da franquia Jogos Mortais (Saw, 2004).

Um dos pontos que distancia a continuação do seu antecessor é a empatia pela personagem que o novo filme constrói. O primeiro longa até consegue criar uma compaixão pela personagem Dra. Rose Cotter, porém, Sorria 2 evoca esse sentimento com muito mais maestria, com um contexto em que o público efetivamente torce pela salvação da personagem. Skye, diferente da primeira protagonista, vai fundo na tentativa de salvar a si mesma e procura resolver de forma prática, a partir de um certo ponto, o problema gerado pela maldição em sua vida. 

Por fim, mas não menos importante, um ponto de destaque da trama é a trilha sonora. As músicas (disponíveis no Spotify), são cantadas pela própria Naomi Scott. Com canções construídas especificamente para o longa–metragem, todas as cenas em que a personagem precisa performar recheiam a trama pela atuação de Naomi e seu talento também para a área musical. Sem dúvidas, algumas das melhores cenas foram aquelas em que Riley ou ensaiava, ou se apresentava no palco. Elas, de certa forma, também servem como demonstração do trabalho cansativo pela qual a personagem passa para atingir seu ponto de perfeição. 

Mesmo que, por uma série de fatores, Sorria 2 consiga emplacar com muita suavidade diversas características de um filme ótimo ou excelente, algumas passagens falhas não podem deixar de serem notadas. O filme se alonga demais dada a história concreta que tem a contar. Muitos dos elogios à trama se dão por questões individuais, como a atuação de Naomi, a trilha sonora ou a direção, porém, a junção de todos esses fatores gerou um longa-metragem que utiliza tempo demais para falar menos do que havia sido proposto. O longa impressiona em diversas situações, mas deixa alguns pontos sem nó durante o passar da trama.

A alucinação causada pela maldição do sorriso é a característica central das dificuldades enfrentadas por Skye na trama [Imagem: Divulgação/Paramount Pictures]

Além disso, alguns espectadores podem se desapontar com o plot final, seja pela facilidade em julgar qual seria o desfecho, ou pela frustração com uma sequência de acontecimentos que indicavam outro encerramento. O filme trata quase que inteiramente sobre alucinação e o que é real ou irreal, porém, da metade do longa para o final, apesar de ganharem muito mais força, a consequência das alucinações para a personagem pode desapontar.  

O longa-metragem é uma continuação que emplaca uma qualidade de direção, roteiro e atuações melhores que no original. Porém, a extensa duração (mais de duas horas de filme) e o plot twist que pode ser descoberto durante a sessão do longa são características que o público talvez não veja com bons olhos.

Em geral, Sorria 2 é um excelente filme para aquela pessoa que não vai ao cinema pensando em assistir a uma obra-prima da sétima arte, mas sim, um ótimo filme de terror disponível! A direção de imagem, som, o roteiro e as atuações excepcionais fazem com que os pontos positivos da trama se sobreponham sobre os pontos negativos, na maior parte do tempo.

O filme já está em cartaz. Confira o trailer:

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