Interpretado por diversos atores ao longo de várias adaptações, a história de Ted Bundy é conhecida mundialmente. O serial killer americano foi condenado à morte por ter cometido 30 homicídios (ou mais) em diversos locais dos Estados Unidos. Em Ted Bundy: A Irresistível Face do Mal (Extremely Wicked, Shockingly and Vile, 2019), vemos um ponto de vista diferente para a história contada diversas vezes.
Um fato se destaca: não há praticamente nenhuma cena de assassinato no longa. A abordagem é outra. Através do olhar da personagem Liz Kendall (Lily Collins), noiva de Ted e por quem sofre um conflito interno, o roteiro escrito por Michael Werwie opta por colocar a figura de Bundy (Zac Efron) em posição de sofredor, destacando o julgamento e prisão do criminoso em detrimento da reconstituição de suas ações. É uma escolha proposital tanto boa quanto ruim. Boa porque foge do convencional em filmes parecidos, gerando dúvidas no próprio espectador quanto à possibilidade de Bundy ser culpado — provocadas pela constante negação de seus atos. Ruim porque perde a oportunidade de explorar o relacionamento vítima-assassino em abordagem de sua parte killer, além de possibilitar interpretações de descaso por parte da obra em relação às vítimas.
No fim, as consequências boas são maiores. O caráter traiçoeiro de Ted, escondido em rosto de galã, é acentuado pela não exposição de seus crimes. Efron faz o melhor trabalho de toda sua carreira, interpretando o assassino e seu cinismo fielmente. Assim como Norman Bates, ele é carismático, enigmático e mentiroso.
Ao optar por um caminho não convencional, o roteiro permite que o espectador compreenda a angústia sofrida pela personagem de Collins, que ama o serial killer. Caso o filme se limitasse retratando os assassinatos e o julgamento de Bundy como consequência, tal visão não funcionaria.
A suposta imagem sofredora de Ted é reafirmada através da genialidade do roteiro em não mostrar, durante uma hora e quarenta minutos, o homicida derramar qualquer sangue. Longe de humanizá-lo (o diretor, Joe Berlinger, parece o fazer inicialmente), isto ressalta sua maldade e desumanidade, tendo em vista o conhecido desfecho do caso. Com fotografia atraente, seu êxito está em tornar compreensível o porquê de alguns, na época, acreditarem na inocência do criminoso.
O longa, no entanto, falha na edição conturbada. Saltos temporais são estranhos e confusos, sendo a maioria não essenciais. Além do casal principal como destaque, Kaya Scodelario oferece uma excelente interpretação para Carole Ann Boone, ex-esposa e mãe da filha de Bundy.
À primeira vista, a história parece batida. Porém, trata-se de um filme corajoso, que foge de conveniências e apresenta uma nova visão sobre os atos do serial killer. O responsável por compreender suas verdadeiras intenções, acima de colocar Bundy como vítima, é o próprio espectador.
O longa tem estreia prevista para o dia 25 de julho no Brasil. Confira o trailer: