Um grupo de jornalistas faz uma visita, monitorada por soldados, para conhecer uma aldeia na região de Darfur, no oeste do Sudão. Chegando lá descobrem que recorrente ataques vêm acontecendo às comunidades separatistas, sendo elas compostas em sua maioria por árabes negros. Voltando dessa rápida visita, o grupo se depara com um comboio de Janjaweed (milícia que atua na repressão dos povos na região) rumando ao povoado. A partir desse ponto, os jornalistas passam por um dilema entre voltar e tentar evitar o massacre iminente ou ir embora em segurança para o acampamento.
Com esse mote se desenvolve o filme Darfur, Deserto de Sangue (Darfur, 2009). O questionamento colocado logo de início no longa é a respeito do descaso da imprensa e governantes ocidentais quanto ao massacre que vinha ocorrendo no país africano. No primeiro contato dos jornalistas com os habitantes, é possível perceber o interesse inicial de somente mostrar as mazelas da vida no “continente esquecido”. Sem saber que a região era alvo de um violento ataque aos direitos humanos.
O genocídio foi causador da morte de cerca de 400 mil pessoas (segundo os dados de diversas ONGs), desde 2001. Esse crime humanitário foi uma limpeza étnica, pois os Janjaweed tinham como propósito de seus massacres eliminar os muçulmanos não-árabes, considerados por eles inferiores e não merecedores de direitos amplos. Para agravar esse quadro, a União Africana, tropa de paz, não tinha liberdade de atuação na região, devido à influência do governo Sudanês interessado em desestabilizar os separatistas. Isso é visível, durante o filme, nos três membros dessa tropa que tentam dialogar com os milicianos, sendo menosprezados pelos criminosos.
O longa conta com cenas bastantes fortes do conflito, mostrando a barbárie cometida sem o menor remorso. Choca bastante ver a violência contra uma população desarmada, contra recém-nascidos e crianças inocentes, contra um povo lutando por liberdade. O espectador do filme experimenta a mesma sensação de impotência pela qual passam os protagonistas, vendo um ato de covardia iminente, mas sem ter como lutar.
A trilha sonora ajuda a criar uma atmosfera dramática no filme, fazendo das cenas do massacre ainda mais angustiantes para quem assiste. Mas o que faz o filme realmente valer a pena é a abordagem realista tida dos acontecimentos. Apesar de o roteiro não ser pautado em personagens reais, a impressão para quem vê o filme é a de ser um retrato fiel do acontecimento.
Entre os atores não há nenhuma grande estrela para ajudar a catapultar a obra a uma repercussão maior, por isso ele não chegou ao circuito comercial. Porém, apesar de voltado a um pequeno público, o filme cumpre o seu papel de informar e passar a diante a mensagem resultante do massacre. A complacência com um genocídio não pode passar em branco. É preciso aprender com os erros do passado e passar a valorizar a vida acima de qualquer problema politico. A frase colocada no final do filme aponta justamente nesse sentido: “Não ter parado um genocídio, significa não ter aprendido com a história”. Só nos resta torcer para termos aprendido.
Por Pedro Passos
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