Por Maria Luiza Negrão (marialuizacnegrao@usp.br)
Apesar de sua estreia anos depois de Um Lugar Silencioso (A Quiet Place, 2018) e sua continuação de 2021, Um Lugar Silencioso: Dia Um (A Quiet Place: Day One, 2024) não é uma sequência, mas sim um prelúdio. Na intenção de debruçar-se sobre os primeiros contatos da humanidade com as circunstâncias distópicas mostradas nos filmes anteriores, neste, o enredo água com açúcar é brilhantemente tocado por seus atores talentosos.
A história do longa gira em torno dos primeiros momentos da invasão alienígena que culmina no cenário apocalíptico da franquia Um Lugar Silencioso — o que já foi apresentado rapidamente e de forma rasa na introdução do segundo filme. No dia um, o cenário é a conturbada cidade de Nova Iorque, desfavorável à necessidade de manter-se em silêncio para sobreviver aos ataques de criaturas com audição hipersensível.
No lugar dos já conhecidos Lee (John Krasinski) e Evelyn (Emily Blunt), o protagonismo de Um Lugar Silencioso: Dia Um vai para Sam (Lupita Nyong’o): jovem internada em um asilo para pacientes com câncer terminal, mal-humorada diante da iminência de sua morte. A personagem, que era poetisa antes da doença, aparece sempre munida de caderno, caneta e seu gato frajola, Frodo. O animal, com seus instintos felinos, afasta sua dona do perigo ou, ao menos, alerta para ameaças próximas.
Em busca de uma provável última pizza, Sam aceita sair do asilo afastado para assistir a um espetáculo em Nova Iorque, com outros pacientes. É assim que a moça acaba imersa na confusão metropolitana do apocalipse em progresso. Com o passar da trama, Sam se une, inicialmente a contragosto, ao Eric (Joseph Quinn). Sempre engravatado, apesar da sujeira, ele também está em busca da sobrevivência no cenário devastado pelos alienígenas monstruosos.
O enredo em si não traz nada de extraordinário, se comparado aos outros dois da franquia. A atuação de Lupita Nyong’o, por sua vez, merece aclamação. Joseph Quinn, conhecido por interpretar Eddie Murphy em Stranger Things (2016), também tem seus méritos, mas a vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por seu papel em 12 Anos de Escravidão (12 Years a Slave, 2013) é espetacular em qualquer cena.
A rabugem mortiça de Sam e a feição persistente de cachorro sem dono de Eric se complementam perfeitamente. O primor da dupla possibilita até mesmo a entrega de poucos momentos de alívio em meio à tensão caótica da trama: como a chuva que permite a conversa sem que sejam atacados pelos monstros ou o carisma cômico que surge próximo aos momentos finais do longa.
Embora menos impactante que os outros filmes da franquia, Um Lugar Silencioso: Dia Um enquanto um suspense distópico cumpre o que se propõe a fazer e apresenta personagens cativantes. Assistir o longa no cinema corrobora a experiência por permitir que cada ruído seja sentido e tão temido pelo espectador como é para os personagens em cena.
O filme já está em cartaz nos cinemas. Assista ao trailer:
*Imagem de capa: Divulgação / Paramount Pictures