Por Patricia Rodrigues (Patt.rodrigues@usp.br)
Pesquisadores do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); da Universidade Estadual Paulista (UNESP) e da Universidade Estadual de Maringá (UEM), descobriram o menor peixe cascudo-graveto já registrado. A descoberta foi resultado de um trabalho que analisou mais de 5.000 espécimes de diversas coleções científicas do país e do exterior.
O estudo que levou até a identificação da menor espécie de peixe cascudo-graveto no Mato Grosso, iniciou-se durante o doutorado da pesquisadora Manuela Dopazo.
O peixe descoberto faz parte da família dos cascudos, um grupo conhecido por se alimentar principalmente de algas e lodo. Sua aparência geralmente é de um tom amarronzado, o que permite maior camuflagem para a espécie no ambiente em que está inserida.A revelação dessa nova espécie de cascudo-graveto também ocorreu durante a revisão de peixes do gênero Farlowella ,um gênero de peixe da família Loricariidae nativo da América do Sul. Foram analisados cerca de 5.000 exemplares do gênero depositados em diferentes coleções científicas do Brasil e exterior; Essa análise, permitiu confirmar que os peixes pequenos eram adultos de uma nova espécie, e não apenas juvenis de uma já conhecida.
“Quando um especialista vai de fato se aprofundar, acaba vendo que pode ser outra espécie”
-Marcelo Ribeiro de Britto, coautor da pesquisa

Características do Peixe-Graveto
A nova espécie de peixe cascudo-graveto não ultrapassa os 10 centímetros de comprimento e vive em riachos da bacia do alto rio Paraguai, no Mato Grosso.Com um corpo fino e alongado e uma coloração marrom, ele se camufla perfeitamente entre os galhos e folhas. “Eles ficam ali no meio daqueles galhos e gravetos e meio que se confundem, justamente para tentar afastar os predadores”, detalha Britto.
Em entrevista ao Laboratório, a pesquisadora Manuela Dopazo, afirma : “Ainda não temos informações comportamentais suficientes sobre a nova espécie. Externamente, é possível diferenciá-la das outras espécies já descritas com base em uma combinação de características morfológicas únicas, como ausência de placas na região gular, número de placas laterais e no abdome, número de raios nas nadadeiras e padrão de colorido.”
O nome da nova espécie, Farlowella kirane , é uma homenagem aos povos indígenas que habitam ancestralmente o território onde o peixe foi descoberto . “Nós queríamos fazer uma relação com algo que fosse pequeno. Pensando onde a espécie ocorre, próximo à Chapada dos Parecis, tentamos buscar na família linguística dos povos Paresí um termo correspondente a ideia de ‘pequeno’, para poder fazer essa associação”, conta Dopazo. A busca pelo termo mais adequado mostrou a possibilidade de uso da palavra “kirane”.
Biodiversidade e conservação ambiental
Para os pesquisadores, descrever uma nova espécie é o primeiro e mais fundamental passo para a conservação ambiental, pois somente assim é possível identificar quais projetos de proteção ambiental poderiam ser mais eficazes.
“Os peixes cascudos-graveto, além de serem parte essencial da cadeia alimentar, podem auxiliar especialmente no controle de algas, já que se alimentam principalmente delas, mantendo assim o equilíbrio do ambiente em que vivem .”
– Manuela Dopazo
A descoberta desta nova espécie de cascudo-graveto demonstra o quanto a biodiversidade brasileira é rica, além de evidenciar a importância de todas as espécies de animais, das maiores às menores, para o equilíbrio do meio ambiente.
*Imagem de divulgação: Revista Neotropical Ichthyology





