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Zagallo, ídolo da Seleção Brasileira, morre aos 92 anos

O ex-jogador e ex-técnico morreu de falência múltipla de órgãos na última sexta-feira (5)

Por Davi Caldas (odavicaldas@usp.br) e Diego Coppio (diegocoppio@usp.br)

Morreu no último dia 5 de janeiro, aos 92 anos, Mário Jorge Lobo Zagallo, tetracampeão pela Seleção Brasileira de futebol e último remanescente do time titular campeão em 1958. O Velho Lobo foi vítima de falência múltipla dos órgãos, e estava internado no Hospital Barra D’Or, no Rio de Janeiro, desde o dia 26 de dezembro. O falecimento foi confirmado em uma nota publicada nas suas redes sociais.

Zagallo nasceu no dia 9 de agosto de 1931 na cidade alagoana de Atalaia, mas cresceu no Rio de Janeiro desde o seu primeiro ano de idade. Morou no bairro da Tijuca, onde foi descoberto pelo América-RJ, em 1948. Ainda na juventude, em 1950, foi para o Flamengo, clube que o revelou profissionalmente no ano seguinte. Lá, sob o comando do técnico paraguaio Fleitas Solich, o ponta-esquerda foi tricampeão carioca entre os anos de 1953 e 1955. Sem querer sair da equipe rubro-negra, Zagallo assinou com o rival Botafogo, em 1958 — depois da Copa do Mundo —, devido à demora da diretoria para a renovação de seu passe, mesmo após conversas do jogador com o técnico e com o diretor do Flamengo.

Pelo Glorioso, o Formiguinha — apelido que ganhou na época de Flamengo — também marcou época. Fazendo parte do time que representa a fase áurea do Botafogo, jogou ao lado de grandes jogadores como Garrincha, Didi e Nilton Santos. Pelo clube, ganhou o bicampeonato carioca, em 1961 e 1962, além de dois torneios Rio-São Paulo, em 1962 e 1964. Zagallo ficou no Botafogo até o final de sua carreira como jogador, em 1965, quando se aposentou aos 34 anos.

Garrincha, Didi e Zagallo pelo Botafogo [Foto: Reprodução/Instagram @zagallooficial]

O início de sua história na Seleção Brasileira

Mesmo com grande destaque no Flamengo durante o tricampeonato carioca, Zagallo só teve sua primeira convocação para a seleção brasileira em 1958, quando foi pré-convocado para a Copa do Mundo. Com a grande disputa de Pepe e de Canhoteiro, Zagallo teve a sua primeira oportunidade na equipe a um mês da Copa, quando os seus dois concorrentes não puderam jogar um amistoso. Para a sua sorte, fez dois gols e convenceu o técnico Vicente Feola a cortar Canhoteiro, figurando entre os 22 convocados.

Ainda assim, pouco antes do embarque da seleção brasileira para a Suécia, Pepe sofreu uma entrada violenta em um amistoso na Itália. O lance lesionou o Canhão da Vila, titular daquela seleção, o que deu espaço para o Formiguinha. “Não tive muita sorte, porque tive uma lesão no tornozelo e acabei ficando de fora. Logicamente, foi uma oportunidade boa pro Zagallo, que fez uma boa Copa. Inclusive, nasceu na ocasião o 4-3-3, com um dos atacantes [Zagallo] fazendo o meio campo”, contou Pepe, em entrevista ao Arquibancada, no ano passado.

Como não havia substituição durante os jogos, Pepe ainda explicou: “Era um risco um jogador, como eu, no caso, estar lesionado e entrar. Na arquibancada, a gente [ele e outros jogadores reservas] ficava torcendo”. O Velho Lobo provocou uma revolução no esquema tático da Seleção: o Brasil era escalado em um 4-2-4, mas Zagallo recuava para ajudar na marcação, criando um 4-3-3 (novidade na época).

Com a titularidade, Zagallo aproveitou a oportunidade e atuou do primeiro ao último minuto daquele Mundial. Jogou muito bem, ajudando a seleção a conquistar o seu, então, inédito título da Copa do Mundo. Fez um gol na competição, justamente na final contra a Suécia, vencida pelo Brasil por 5 a 2.

Após a excelente Copa, Zagallo foi valorizado e se manteve como titular da Seleção Canarinho até o Mundial seguinte, em 1962. No Chile, Zagallo fez o primeiro gol do Brasil na Copa, na sua estreia contra o México. Nessa partida, Pelé ainda ampliou com um belo gol para fechar o placar do jogo em 2 a 0 — o Rei acabou se machucando no jogo seguinte. Apesar da lesão que tirou Pelé do restante do Mundial, a seleção brasileira ainda conseguiu sair vitoriosa mais uma vez. Jogando todos os minutos possíveis na competição, Zagallo foi uma importante peça no bicampeonato da Copa do Mundo conquistado pela Amarelinha, que tinha Garrincha como seu principal destaque.

Zagallo chora após conquistar o bicampeonato mundial no Chile [Foto: Reprodução/Twitter @FIFAWorldCup]

Trajetória como treinador

Zagallo começou sua carreira como treinador nas categorias de base do Botafogo em 1966, um ano depois de pendurar as chuteiras. Em 1967, assumiu o time principal do Glorioso, sagrando-se bicampeão carioca (1967 e 1968) e campeão brasileiro (1968) — na época, conhecida como Taça Brasil.

Após a demissão de João Saldanha da Seleção Brasileira, Zagallo — com 39 anos à época — foi o escolhido para assumir o comando técnico da amarelinha no México, em 1970, com menos de 80 dias para a estreia do Brasil no torneio.

A Seleção do Velho Lobo encantou o mundo e conquistou o campeonato em cima da Itália com seis vitórias em seis jogos. Zagallo tornou-se o primeiro a conquistar a Copa tanto como jogador quanto como treinador — marca igualada posteriormente por Franz Beckenbauer (1974 e 1990) e Didier Deschamps (1998 e 2018).

Zagallo esteve presente em todas as conquistas de Copa do Mundo do ‘Rei Pelé’ (1958, 1962 e 1970) [Foto: Reprodução/Twitter @FIFAcom] 

Zagallo também foi o coordenador técnico do Brasil campeão em 1994, nos Estados Unidos, sendo até hoje a única pessoa a conquistar quatro vezes uma Copa do Mundo. A galeria de títulos do Velho Lobo também conta com a Copa das Confederações e a Copa América, ambas conquistadas em 1997.

Além das passagens pela Seleção Brasileira, Zagallo foi técnico das seleções da Arábia Saudita, do Kuwait e dos Emirados Árabes Unidos. Passou a maior parte da carreira trabalhando como treinador no Rio de Janeiro, onde foi campeão carioca por Fluminense, Botafogo e Flamengo.

Seu legado

Ao assumir a Seleção, Zagallo enfrentou um problema imediato: conciliar os talentos de Pelé, Tostão, Jairzinho, Rivellino e Gerson — os “cinco camisas 10” —  em campo ao mesmo tempo. A solução encontrada por ele foi adaptar o esquema às características dos jogadores, montando um ataque móvel e funcional, disciplinado taticamente tanto no ataque quanto defendendo. Rivellino, armador do Corinthians à época, foi escalado na esquerda como falso-ponta, com liberdade para se aproximar de Gerson e Pelé pelo meio e contribuir com sua melhor arma: o passe qualificado.

Zagallo também implementou o sistema de cobertura na defesa e aproximação no ataque em 1970. Quando o time atacava pela direita, o lateral Carlos Alberto Torres aparecia como opção na frente, com Everaldo (LE) fechando uma linha de três na defesa, e o resto do time fazendo o balanço para a direita. O primeiro volante protegia a defesa, enquanto o segundo infiltrava para ajudar na tabela e surgir como elemento surpresa, com Gerson e Clodoaldo alternando nos dois papéis. Exemplo dessa organização tática é o gol de Carlos Alberto Torres na final contra a Itália.

O futebol apresentado pela Seleção de Zagallo campeã em 1970 encantou o mundo e se tornou sinônimo de “futebol arte”. Nomes como Johan Cruijff, Franz Beckenbauer e Bobby Charlton entraram em consenso ao colocar a Seleção de 1970 como um dos maiores times da história, senão o maior. O legado interno do Velho Lobo também é imenso: sua importância se fez presente diversas vezes em declarações e no estilo de jogo de treinadores vitoriosos, como Carlos Alberto Parreira, Mário Travaglini, Vanderlei Luxemburgo, dentre outros.

Místicas e superstições do Velho Lobo

Além dos títulos e do reconhecimento internacional, Zagallo deixa como legado um folclore peculiar construído ao longo de sua carreira. Irreverente e explosivo, o Velho Lobo ficou marcado por declarações fortes e provocações. Em amistoso contra a África do Sul, o Brasil viu o técnico adversário, Clive Barker, invadir o campo imitando um avião após os africanos abrirem 2 a 0 no placar. No segundo tempo, o Brasil virou o jogo com voleio de Bebeto, e Zagallo retribuiu a comemoração de Barker da mesma maneira.

O aviãozinho de Zagallo [Foto: Reprodução/Twitter @luisfernanfilho

Sua declaração mais famosa veio após bater a Bolívia na Copa América de 1997. Depois de ter seu trabalho criticado pela imprensa — em especial por Juca Kfouri e Juarez Soares —, Zagallo desabafou no apito final, dando uma forte entrevista em resposta e encerrando com o fatídico “vocês vão ter que me engolir”.

 A devoção a Santo Antônio e a obsessão com o número 13 também sempre entram em pauta quando se fala de Zagallo. Sua esposa, Alcina de Castro, é a verdadeira responsável pela crença do treinador. Nascida em um dia 13 e devota do santo — do dia 13 de junho, no calendário católico —, ela e Zagallo casaram-se também em um dia 13.

O futebol, terreno fértil para superstições de todo tipo, não escapou da mística do Velho Lobo. Zagallo foi campeão do mundo em 58 e em 94, e carioca em 67, números cuja soma dos algarismos dá 13. Após vencer a Argentina na final da Copa América de 2004, Zagallo — novamente coordenador técnico da Seleção — disse que “a ‘Argentina vice’ tem treze letras”. O mesmo aconteceu na final da Copa de 1994, quando a Itália desperdiçou o último pênalti e sagrou o Brasil campeão. O batedor? Roberto Baggio, cujo nome, coincidentemente (ou não), tem 13 letras. 

O que também tem 13 letras é “Zagallo Eterno”, eternizado na história do futebol, peça importante em todo o reconhecimento internacional que a Seleção tem hoje. Valeu, Zagallo!

*Foto de capa: [Reprodução/Twitter @CBF_Futebol]

1 comentário em “Zagallo, ídolo da Seleção Brasileira, morre aos 92 anos”

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