A beleza e a complexidade do comum são fatores trabalhados em filmes coming of age, afinal, suas histórias sempre giram em torno do amadurecimento do protagonista. Algo que causa uma identificação por parte de público, já que todos passam por mudanças de maneira constante.
O gênero faz sucesso há tempos e engloba longas bem conhecidos pelo público, como: Clube dos Cinco (The Breakfast Club, 1985), Boyhood: Da Infância à Juventude (Boyhood, 2014), Meninas Malvadas (Mean Girls, 2004) e Juno (2007). Agora, no entanto, eles estão ainda mais em destaque por conta das indicações recebidas por Lady Bird: A Hora de Voar (Lady Bird, 2017) e Me Chame pelo seu Nome (Call Me by Your Name, 2017) no Oscar de 2018.
Então, o Cinéfilos conversou com dois admiradores desse tipo de filme para explicarem por meio de uma nova perspectiva o encanto da transição entre fases da vida.
Lady Bird: A Hora de Voar
Dirigido por Greta Gerwig, o longa narra a história de Christine “Lady Bird” McPherson, uma garota comum que está no último ano da escola e deseja fazer faculdade longe de sua pequena cidade nata,l a contragosto da mãe. Lady Bird é dramática e detentora de forte personalidade, não abandonando o seu objetivo. Enquanto a hora não chega, ela vive suas obrigações estudantis no colégio católico, o primeiro namoro, a primeira transa, brigas com certos amigos e com a mãe, entre outras típicas vivências da adolescência.
Raul Garcia, um jovem magro e loiro de olhos claros, é detentor de uma personalidade questionadora, intensa e sensível. Tem momentos em que a revolta se apropria dele, parece que nada o agrada muito. Já em outros um texto ou filme o levam a derramar várias lágrimas, sem vergonha alguma.
Uma dessas obras é Lady Bird. Ele diz se ver nessa produção, principalmente, na relação existente entre a protagonista e sua mãe. Além disso — como garoto nascido em uma cidade pequena localizada no interior do estado — , o entrevistado disse que o anseio por viver algo maior, por uma grande mudança, ao mesmo tempo entendendo que sempre levaria suas origens consigo, era um fator em comum entre ele e a personagem. Eles estavam vivendo praticamente a mesma fase quando Raul assistiu o filme. Assim, o fator-chave para sua admiração pela obra é a grande possibilidade de identificação.
Para ele, é interessante o fato como a história se passa naquele exato instante, sem uma grande contextualização do passado e sem muitas dicas de como será o futuro, como um recorte da vida dos personagens, o que dá um toque maior ainda de realidade para a trama.
A produção o reconforta. “É como voltar para casa, lembrar que está tudo bem, que as pessoas passam por conflitos parecidos com os que eu passo e estamos todos em busca de um lugar no mundo”.
Os Incompreendidos ou Os quatrocentos golpes (The 400 Blows, 1959)
Aqui, o protagonista é um jovem parisiense chamado Antoine Doinel. O garoto é negligenciado pela mãe e pelo padrasto, falta às aulas para assistir filmes e brincar, além de mentir com frequência. Ou seja, a sua vida não passa de uma complicação atrás da outra. Depois de várias encrencas ele decide sair de casa, sobrevivendo a base de pequenos roubos junto com seu melhor amigo, René. Até que um dos esquemas falha e é obrigado a enfrentar aquilo que chamam de justiça.
Muito mais do que um homem de barba bem cuidada, Gabriel Marques é daquelas pessoas que exala confiança e sinceridade só porque é cheio de opinião. Ele ama recomendar coisas e fazer com que mais pessoas consumam aquilo que ele tanto aprecia. Na tentativa de justificar o porquê de se assistir esse filme, ele cita o alto grau de realidade presente na obra. Isso se constrói, por exemplo, quando não são mostrados apenas acontecimentos bombásticos da vida do protagonista, mas também detalhes comuns de sua rotina.
E para sentir na pele aquilo que Antoine passa, não necessariamente é preciso ser parecido com ele. O entrevistado diz se identificar e entender isso pela forma como o filme retrata a opressão, o ciclo de violência e injustiça de uma forma muito próxima da realidade. Se você se sente impotente diante dos mecanismos que perpetuam essas situações na sociedade, talvez isso já baste.
Dessa forma, a obra causa uma certa revolta. Ela se destaca até mesmo dentro dos demais filmes coming of age, segundo Gabriel, porque ali há um viés mais intimista e até revolucionário dentro dos parâmetros cinematográficos e temáticos. Não se trata somente de amadurecimento, mas também se fala sobre questões problemáticas da sociedade que são de conhecimento geral.
Pingback: Entre altos e baixos: a carreira de Lindsay Lohan - Jornalismo Júnior
Pingback: Crítica: 18 Presentes (2020), da Netflix - Jornalismo Júnior
Pingback: 'Sleepyhead': nostalgia no álbum de Cavetown - Jornalismo Júnior