A Inglaterra chega a Copa do Mundo de 2022 como uma das favoritas. Diferente de 2002 e 2010, quando também despertou apostas, a seleção vem embalada por uma série de boas colocações: o quarto lugar na Copa de 2018, o terceiro na Liga das Nações de 2018-2019 e o vice-campeonato na Eurocopa 2020 – melhor resultado dos ingleses na Euro em toda a sua história. Após bater na trave nesses últimos anos, pode, então, ter chegado a hora de encerrar o jejum de títulos e faturar o bicampeonato do mundo no Catar. Será que dessa vez o mundial it’s coming home? (“Está vindo para casa”, em tradução livre, referência à música que embalou a campanha da Inglaterra na Euro de 1996).

Era Southgate

Apesar de ser considerada a idealizadora do futebol, não foi pelos pés dos ingleses que o esporte brilhou. Mesmo com jogadores de destaque tendo passado pela seleção, como David Beckham, Frank Lampard e Wayne Rooney, o país conta com apenas um título de Copa: a de 1966, sediada no próprio país e que foi muito contestada em tempos sem VAR (Video Assistant Referee).

Em 2016, após serem eliminados da Eurocopa pela Islândia, país sem tradição no esporte, os ingleses passaram por sua maior crise: o time não tinha identidade, perspectivas e nem mais um técnico, ao mesmo tempo em que o jejum incômodo de títulos importantes completava 50 anos. Foi então que Gareth Southgate, ex-zagueiro da seleção, assumiu o comando do time.

O novo técnico alterou a forma de jogar da seleção, trazendo táticas vistas na Premier League – um dos campeonatos mais globalizados e competitivos do mundo. Com Southgate no comando, o time costumava se apresentar, especialmente em seu início, com uma linha de cinco para bloquear a defesa, mas com o zagueiro John Stones trocando passes curtos e avançando no campo. Os laterais, sem a bola, ajudam a formar a linha de cinco ao lado dos três zagueiros, mas, com a posse, avançam até o ataque e ajudam a abrir os lados do campo. 

O meio-campo tem passe e criatividade, mas também pressiona o setor da bola para recuperá-la. Já os dois atacantes, Harry Kane e Raheem Sterling, armam o contra-ataque.

Escalação da Inglaterra na Copa de 2018. Os laterais ajudam a compor a linha de cinco, mas também são ofensivos. Arte: Mariana Rossi

O ataque é rápido e vertical, com os alas abrindo pelas pontas e os atacantes se concentrando por dentro, trocando tabelas rápidas e forçando a desmarcação até chegar no gol. Outro ponto de destaque é o jogo com controle e ritmo: a saída é feita pelo chão, com a aproximação dos volantes e o time não se mantém recuado.

Na Eurocopa 2020, no ano passado, Southgate tinha uma escalação quase indecifrável, apresentando variações do esquema tático com 3-4-3, 4-3-3 e 4-2-3-1, com Harry Kane como centroavante. O treinador teve resultados, com os ingleses avançando mais adiante nas competições, embora ainda sem novos títulos para contar. 

Seleção inglesa na Copa do Mundo de 2018. Créditos: Reprodução/Twitter @bruno_vieiravp

Mesmo com uma campanha sem muito brilho na Copa de 2018, com três vitórias, um empate e três derrotas, o time de Southgate registrou um dos melhores desempenhos do país desde 1990, o que foi suficiente para deixar os torcedores animados para a Copa de 2022. 

Os jogadores

David Beckham, um dos maiores jogadores ingleses até hoje, também está com as expectativas altas. Em entrevista ao OneFootball, o ex-jogador elogiou o trabalho de Gareth Southgate e a liderança de Harry Kane: “Temos uma equipe que está junta há alguns anos. Eles são bem jovens, mas têm uma experiência, obviamente com Harry. Eu realmente acredito que isso é uma oportunidade para nós.”

Outro ponto também traz otimismo para os ingleses: a data dos jogos. Com a Copa do Mundo no Catar sendo realizada entre novembro e dezembro, os jogadores europeus estarão no meio da temporada: “Todos vão estar saudáveis, espero que todos se encaixem, nenhum deles vai se cansar”, completou Beckham.

Atualmente, a Inglaterra aparece em quinto lugar no Ranking da FIFA. É uma seleção jovem, com média etária de 25,3 anos e apenas três jogadores acima dos 30 anos, apesar disso, ela é mais entrosada e experiente, já que muitos do grupo jogaram grandes competições como a Copa de 2018 e a Eurocopa de 2020.

Kane comemora um dos seus seis gols na Copa do Mundo de 2018. Créditos: Reprodução/Twitter @oficialsala12

Harry Kane é uma liderança bem estabelecida no time e é um dos destaques dessa seleção. Atual atacante do Tottenham, mas cobiçado por outros grandes times como o Bayern de Munique, já foi três vezes artilheiro da Premier League, em 2015-2016, 2016-2017 e 2020-2021. O centroavante também foi o artilheiro da Copa de 2018, com seis gols – embora três deles tenham sido marcados de pênaltis.

Sterling, recém-transferido para o Chelsea, completa a dupla do ataque. O jamaicano naturalizado inglês, já faturou 12 títulos nacionais com seu antigo time, Manchester City, e é o atual campeão da Premier League.

Copa de 2022

A Inglaterra entra em campo logo no segundo dia de disputas da Copa de 2022. Na segunda-feira, 21/11, às 10h no horário de Brasília, o time de Harry Kane enfrenta o Irã, no Estádio Internacional Khalifa. Além do Irã, os ingleses também enfrentam Estados Unidos e País de Gales pelo grupo B na primeira fase do mundial. É provável que a Inglaterra se classifique em primeiro e pegue o Catar, Equador ou Senegal nas oitavas – três países sem tradição e resultados expressivos no futebol.

Esses primeiros duelos aparentam um caminho mais fácil para os ingleses, mas nas quartas-de-final há grande chance de um confronto com a França – atual campeã do mundo e a maior favorita da competição –, e que promete ser um dos jogos mais disputados deste mundial.

No papel, a seleção francesa é a mais forte, mas na prática, França, Inglaterra, Brasil, Alemanha, Espanha e Argentina estão jogando em níveis muito próximos. Um pouco mais abaixo, Holanda e Portugal também podem sonhar com o título. Ainda não se sabe o que vai acontecer, mas tudo indica que muita cerveja será jogada para o alto na terra da rainha.

Durante a Copa do Mundo de 2018, as comemorações dos torcedores ingleses, que jogavam cerveja para o alto, viralizaram nas redes sociais. Créditos: Reprodução/Twitter @FutJogo